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Paulistano ganha mais parques, mas tem menos verde
Em locais públicos recém-inaugurados, árvores perdem espaço para o concreto; mudas plantadas só estarão crescidas em dez anos
Relação entre as áreas verdes de parques e praças
de São Paulo e a população
do município caiu cerca
de 8% nos últimos 15 anos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
A criação de parques não tem
aumentado as áreas verdes disponíveis para quem mora em
São Paulo. Ao contrário. Em alguns locais recém-inaugurados, as árvores perderam espaço para o concreto e as mudas
plantadas só estarão crescidas
daqui a dez anos.
A relação entre as áreas verdes de parques e praças e a população do município caiu cerca de 8% nos últimos 15 anos.
Ou seja, a população cresce
mais rápido do que a oferta de
novos espaços arborizados.
Há, no entanto, outro fator
que explica o fenômeno, segundo o arquiteto Jörg Spangenberg, diretor técnico da ONG
Floresta Urbana. Trata-se do
tipo de parque que tem sido
inaugurado em São Paulo.
"No novo parque do Povo, na
Chácara Itaim, a cobertura vegetal diminuiu significativamente depois da implementação da área de lazer pública",
afirma. Para o pesquisador,
muitas vezes, o conceito de
"melhoria e modernização" fica mais ligado ao concreto.
O secretário Eduardo Jorge,
da pasta de Verde e Meio Ambiente da gestão Gilberto Kassab(DEM), discorda. "Só de
10% a 15% das áreas dos parques são impermeáveis. No
parque do Povo, plantamos milhares de árvores, que vão dar
retorno em 5 ou 10 anos".
A Secretaria do Verde tem
uma meta ambiciosa de chegar
à marca de 100 parques municipais até o ano de 2012. Atualmente, a cidade conta com 66
espaços públicos do gênero.
Para Spangenberg, a iniciativa de criar parques, independentemente do projeto, é excelente, e não pode ser criticada.
Há, no entanto, de se repensar
"a cultura de planejamento dos
parques" públicos paulistanos.
São Paulo, que tem atualmente apenas 16% de seu território recoberto por mata Atlântica original, dispõe de vários
exemplos de parques sem uma
cobertura vegetal exuberante.
Gramados, por exemplo, não
são considerados importantes
pelos especialistas, a não ser
para absorver a chuva. Um parque, para cumprir sua função
de diminuir a temperatura, reduzir a poluição e atrair animais, por exemplo, precisa ter
árvores e matas densas, de
acordo com ambientalistas.
Sem sombra
Na zona sul da cidade, o pequeno parque do Cordeiro, ao
lado da avenida Professor Vicente Rao, é um dos casos onde
o foco não foi dado ao verde.
Em dia de sol quente, as
crianças precisam brincar no
campo de bocha, onde há sombra. O único canto arborizado
do parque municipal é destinado aos dejetos de cachorros.
Outro exemplo já clássico na
cidade é o Villa-Lobos. "Mas ali,
temos que lembrar que antes
havia um grande depósito de
entulho", afirma o secretário
do Verde. "O pequeno bosque
que existe ali já é um grande ganho. É difícil plantar na área."
A bióloga Márcia Hirota, diretora da SOS Mata Atlântica,
concorda que os parques e praças paulistanos precisam ser
mais bem valorizados. "Esses
espaços devem ser apropriados
pela comunidade local. Eles são
nossos, e não do governo."
Além de todos os ganhos socioambientais, diz Hirota, os parques devem ser encarados como
uma oportunidade de "negócio
sustentável, com geração de renda para a comunidade".
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