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Governo importa método cubano de alfabetização
Programa é baseado em 65 aulas em vídeo, recorde para cursos do tipo, que costumam durar de seis a oito meses
Técnicos de Cuba foram enviados aos Estados ondeo Ministério da Pesca implementa o projeto; despesas são pagas pelo Brasil
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Após anos de resultados tímidos no combate ao analfabetismo, o governo Lula resolveu
importar de Cuba uma tentativa de atacar o problema. Há
dois meses, o governo federal
utiliza um método importado
da ilha caribenha para ensinar
pescadores a ler e escrever.
O programa -chamado Sim,
eu posso, ou Yo, sí puedo, no
original- promete alfabetizar
uma pessoa após 65 aulas em
vídeo, um tempo recorde para
cursos do tipo, que costumam
durar de seis a oito meses.
Para implantar o método,
técnicos cubanos foram enviados aos cinco Estados onde o
projeto está sendo implementado pelo Ministério da Pesca e
Aquicultura.
O governo de Raúl Castro cedeu os filmes e enviou os consultores. O Brasil paga as despesas deles no país.
Para Maria Luiza Gonçalves
Ramos, que coordena o programa, a principal vantagem do
Sim, eu posso é que ele se adequa ao tempo dos pescadores:
como eles passam longos períodos no mar ou no rio, tendem a
abandonar cursos de alfabetização mais extensos.
Já o Sim, eu posso pode ser
encaixado no período de defeso, em que a pesca é proibida e
que dura em média três meses.
Depois, são feitos "círculos de
cultura", com objetivo de consolidar o aprendizado.
Trazido ao Brasil em 2005,
em um projeto-piloto do Ministério da Educação no Piauí
que acabou não tendo seguimento, o Sim, eu posso também
é utilizado pelo MST (Movimento dos Trabalhadores Sem
Terra) e será aplicado neste ano
em Fortaleza e João Pessoa.
Vantagens
Para a coordenadora de educação do movimento, Maria
Cristina Vargas, uma das principais vantagens do método é
que ele possibilita que lugares
com pouca estrutura, ou com
educadores menos qualificados, tenham acesso às mesmas
condições de locais mais favorecidos, uma vez que a aula
acontece pelo vídeo.
Por outro lado, críticos apontam que o método não vai muito além da decodificação do alfabeto. Antonio Ferreira Sobrinho, professor da UFPI (Universidade Federal do Piauí) que
acompanhou o projeto-piloto
no Piauí, avalia que o método
tira o aluno do estágio mais primário do analfabetismo, mas,
diferentemente de outros programas, não enfatiza leitura e
interpretação de textos. Esse,
segundo ele, foi um dos motivos para o projeto não continuar no Estado -além do custo
de aparelhos de TV e DVD.
Timothy Ireland, especialista em educação da Unesco (ligada à ONU) e à frente do departamento de Educação de
Jovens e Adultos do MEC na
época, também diz que não
adianta os alunos aprenderem
rápido com o Sim, eu posso se
não continuarem estudando
depois -com o tempo, esquecem o que aprenderam.
De acordo com ele, a avaliação da aplicação do método no
Piauí indicou que a eficácia da
iniciativa estava mais ligada ao
fato de os alfabetizadores terem tido treinamento prévio e
acompanhamento ao longo do
programa do que ao método em
si. Cerca de 80% dos que participaram dos cursos foram considerados alfabetizados.
Embora venha ganhando espaço no país nos últimos anos,
o Sim, eu posso é ainda minoritário entre os métodos de alfabetização usados no Brasil e
tem uma abrangência pequena.
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