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TRANSPORTE
Motoristas autônomos de SP criaram linhas paralelas enquanto aguardam decisão da Justiça; prefeitura recorreu
Liminar a perueiro põe licitação em xeque
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma série de decisões judiciais
liminares concedidas nos últimos
três meses tem colocado em xeque a validade da licitação que a
Prefeitura de São Paulo fez para
selecionar as cooperativas de perueiros e garantido a existência de
um serviço paralelo na cidade.
Trinta e quatro motoristas de
lotação que ficaram de fora da
concorrência já conquistaram na
Justiça a permissão para transportar passageiros do sistema coletivo, cobrando a tarifa de R$
1,70, sem que sejam apreendidos
nem considerados clandestinos
pela fiscalização da SPTrans (São
Paulo Transporte, órgão municipal que cuida do setor). Nos processos judiciais, alegam que houve irregularidades na seleção.
Eles estão agrupados na Assesp
(Associação dos Transportadores
em Auto Lotações do Estado de
São Paulo) e podem ser vistos rodando na capital paulista com um
visual personalizado dos veículos,
nas cores azul e branca, além das
inscrições "autorização judicial" e
"vedada a apreensão".
Ainda se trata de uma quantidade reduzida diante dos 5.600 perueiros regulamentados de São
Paulo, mas a Assesp aguarda ainda os resultados de 350 ações judiciais, individuais e coletivas, nas
quais fez os mesmos pedidos.
A entidade tem hoje 2.600 filiados cadastrados, muitos dos
quais, entretanto, acabaram entrando nas cooperativas autorizadas pela prefeitura na condição de
preposto -motorista adicional
contratado para as horas de folga
dos proprietários de lotação.
O grupo de perueiros com liminares já tem uma linha padrão, do
Mercado Municipal da Lapa, na
zona oeste, ao bairro Sol Nascente, na zona norte, que faz concorrência direta com os ônibus.
A estimativa é que esses autônomos transportem mais de 10 mil
passageiros por dia ou 265 mil por
mês na capital paulista inteira,
sem que estejam sujeitos ao controle da SPTrans.
Suspensão
Além das liminares que garantem a circulação desses perueiros,
uma decisão judicial em segunda
instância pode indicar a suspensão dos contratos de R$ 2,4 bilhões, válidos por sete anos, que a
prefeitura assinou com as cooperativas em julho do ano passado,
até a comprovação documental
de que elas atenderam a todas as
exigências do edital de licitação.
Essa liminar foi dada pelo desembargador Soares Lima, do
Tribunal de Justiça, e publicada
na última quarta-feira. Foi uma
resposta ao agravo de instrumento (recurso contra decisão liminar
desfavorável em primeira instância da Justiça) do perueiro Paulo
Augusto Serra.
A Secretaria dos Transportes
nega que essa decisão determine a
suspensão dos contratos (leia texto nesta página).
O advogado Romualdo Galvão
Dias, conselheiro da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),
consultado pela Folha, explicou
que a decisão é válida desde a data
do despacho do TJ (2 de março), e
não apenas a partir da publicação.
Ele diz que, como Soares, em
seu despacho, acatou a fundamentação do agravo de instrumento sem fazer nenhuma ressalva, todos os pedidos da ação passam a valer -incluindo a suspensão dos contratos imediatamente.
Polêmica
Uma das principais irregularidades da licitação apontada nas
ações judiciais é a falta da entrega,
pela maioria das cooperativas
vencedoras, de certificados da
Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo),
conforme prevê a lei federal
5.764/71. Esse documento serve
para assegurar que determinado
grupo efetivamente atua como
uma cooperativa, e não como
uma "empresa de fachada".
As ações judiciais anexam comprovantes de que os registros na
Ocesp foram feitos no dia 25 de
julho -depois, portanto, da entrega dos envelopes, em março.
Os processos também citam a
interferência do ex-chefe-de-gabinete da Secretaria dos Transportes Dernal Santos, atual presidente da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), que fez uma
reunião com as cooperativas e assinou uma ata na qual foi discutida um loteamento das áreas disputadas, de forma que não houvesse disputa entre elas. O caso foi
divulgado pela Folha em setembro passado e está sendo investigado pelo Ministério Público.
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