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EDUCAÇÃO
540 alunos estudam em colégio improvisado; por causa do calor, cada aula do vespertino dura 15 minutos a menos
Serra improvisa escola em cima de mercado
FÁBIO TAKAHASHI
LUÍSA BRITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde fevereiro, 540 alunos da
Emef (Escola Municipal de Ensino Fundamental) Jardim Vila Nova (zona leste de SP), deixaram de
estudar em uma escola de latinha.
O improviso, porém, continua: o
novo local -dez salas comerciais
no andar de cima de um supermercado- é abafado, não tem
refeitório nem área de lazer.
A escola, improvisada pela gestão José Serra (PSDB), abriga estudantes de 5ª a 8ª série. Sua entrada é um pequeno portão na lateral direita do supermercado. Um
corredor estreito e
com material de
construção na lateral é o caminho
até a escadaria que
leva às salas de aula. "Aqui é muito
quente. As janelas
são pequenas e
tem um forno embaixo, na padaria
do supermercado", disse Fernanda (nome fictício),
14, da 8ª série.
As aulas no período da tarde, em
vez dos tradicionais 45 minutos,
têm apenas 30.
"Disseram que
não agüentaríamos o calor, por
isso diminuíram o
tempo de aula. Ficou muito pouco", completou.
Como não há espaço para o intervalo, também foram eliminados os 15 minutos de recreio -o
lanche é tomado nas próprias
classes. No total, os 210 alunos do
vespertino têm cerca de uma hora
a menos de atividades. As aulas
dos demais estão normais, mas
sem os 15 minutos de intervalo.
Os alunos reclamam ainda da
falta de saída de emergência. "É
perigoso. Vai que acontece alguma coisa", afirmou Flávia, 13,
também da oitava série. Outro
problema são os banheiros: há
apenas um masculino e um feminino para os estudantes.
Os alunos deverão ficar nas salas adaptadas até setembro, quando está prevista a entrega do CEU
(Centro Educacional Unificado)
Azul da Cor do Mar. A escola de
latinha foi demolida para a obra.
"Foi o único local disponível na
região. Se não viéssemos para cá,
não daria para fazer o CEU, que é
uma demanda de toda a comunidade", disse Elizabete dos Santos
Manastarla, coordenadora de
educação de Itaquera. Ela nega,
porém, que o local seja improvisado. "Tudo foi pintado, mexemos no piso e as salas têm cerca
de 30 alunos. Não vamos superlotar, porque aqui não é efetivamente uma escola."
Sobre o calor, ela disse que um
segundo ventilador será instalado
em cada uma das salas ainda hoje
(leia mais no texto ao lado).
"O maior problema está nos
corredores. Quando solicitamos
mais ventiladores, aproveitamos
para pedir nas salas também",
afirmou o diretor da escola, Francisco Calado.
Desestímulo
Especialistas da
área de educação
afirmam que as
condições da
Emef Jardim Vila
Nova prejudicam
os estudantes por
eles estarem em
um ambiente desconfortável, além
de contarem com
menos tempo de
atividades.
De acordo com
a professora da
Faculdade de
Educação da
PUC-SP Neide
Noffs, as condições do prédio
podem causar desestímulo aos alunos. "É preciso
minimizar as dificuldades para que
os estudantes fiquem mais atentos ao conteúdo."
Professor da Faculdade de Educação da USP, Romualdo Portela
de Oliveira diz que a falta de lazer
no intervalo é prejudicial aos alunos. "Recreio é uma parada na
qual o aluno descansa para ter
condições de acompanhar todo o
período de aula", afirma. "Há coisas que a gente ouve e leva susto.
O governo faz propaganda que
está acabando com as escolas de
lata e aí põe as crianças em cima
de um supermercado", diz.
Para Claudio Fonseca, presidente do Sinpeem (sindicato dos
profissionais em educação no ensino municipal) e ex-vereador pelo PC do B, a situação da escola é
reflexo da falta de planejamento
dos governos (atual e anteriores)
com a educação.
"Isso é fingir que se está dando
aula", declara Ismael Nery Palhares Júnior, presidente da Aprofem
(sindicato dos professores e funcionários municipais).
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