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"Caí com meu Fusca 77 da ponte do Socorro; sobrevivi"
O auxiliar de farmácia contou que perdeu o controle do veículo ao ser fechado por um táxi; ele quebrou 2 dedos do pé
Armando dos Santos Brito Silva, 23, despencou na marginal Pinheiros no domingo
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
O Fusca 77 branco era o orgulho da família Silva. Inteirão
em seus 30 anos, valia algo entre R$ 3.200 e R$ 3.500. No último domingo, 7h, dia chuvoso,
o carro invadiu de ré a calçada
da ponte do Socorro, derrubou
o gradil verde enferrujado, suposta proteção para veículos e
transeuntes, e precipitou-se no
ar (6,5 metros de altura), até
chocar os seus 800 quilos com o
asfalto da marginal Pinheiros,
lá embaixo.
Um ônibus lotado passava
pela via na hora exata do vôo do
Fusca. Fretado, levava seus
passageiros para passar o domingão em um clube da cidade.
O motorista viu quando um
pedaço da grade verde da ponte
começou a despencar. Jogou o
ônibus de lado, a tempo de se
desviar do Fusca, que vinha em
improvável rota vertical. Não
conseguiu, porém, evitar um
outro meteoro -o jovem branco, 1,73 metro, 73 quilos, apelido no orkut "Buchechudinho",
23 anos, Armando dos Santos
Brito Silva, auxiliar de farmácia, que acabou enfiado debaixo
do veículo.
Armando era quem dirigia o
Fusca. Enquanto despencava, o
carro deve ter batido em algo. A
porta do carona escancarou-se
e o motorista foi arremessado
para fora do veículo. Sorte. A
cabine do carro foi tão amassada com o acidente que teria esmagado junto o corpo do rapaz,
se ele estivesse dentro. Armando diz que estava usando cinto
de segurança.
Os dois -carro e homem-
atingiram o chão da marginal
Pinheiros a uma velocidade
aproximada de 41 km/hora.
Ontem, Armando falava baixinho, suspirando. Desse jeito,
comemorava a nova vida que
ganhou: "Primeiro, vou fazer de
tudo para me recuperar; depois, quero que essa chance valha muito a pena para todos os
que me cercam".
Ele bateu de costas no asfalto
e sua coluna ficou intacta, apesar da luxação e da dor nos pulmões. Quase foi atropelado pelo ônibus, mas tudo o que lhe
aconteceu foi quebrar dois dedos do pé esquerdo.
Quatro motoboys foram os
primeiros a chegar para ajudar.
Embaixo do ônibus, encaixado
entre as rodas, Armando gritava por socorro, rezava, pedia
aos gritos proteção de Deus,
chorava de dor, o pé esquerdo
preso na traseira do veículo.
"Eles [os motoboys] se enfiaram embaixo do ônibus e me
deram muita força; pediram
para eu não dormir; diziam que
eu era um herói, um sobrevivente. Que eu tinha de ficar calmo. Que o resgate vinha vindo",
lembra Armando. "Eu quero
homenageá-los pela generosidade que mostraram."
Sem prestar socorro
O acidente com o Fusca
aconteceu quando Armando fazia o caminho de volta para casa, depois de levar a namorada
para o trabalho (os dois são empregados de um hospital na
avenida Santo Amaro).
Morador no Grajaú (zona sul
da cidade), o jovem passava pela ponte do acidente quando
um táxi Siena deu uma fechada
no seu Fusca, que ia a "uns 60
km/hora".
Para evitar o choque, Armando jogou o carro para o canteiro
central, depois para a direita.
Chovia, a pista estava molhada,
e o Fusca se desgovernou.
"Derrapou, dançou na pista, girou, caiu de ré", diz.
Segundo Armando, o motorista do Siena fugiu, sem prestar socorro. "Eu só me lembro
do buraco no meu estômago
quando o carro começou a cair.
Do resto, não me lembro de nada. Nem da hora em que fui arremessado do meu Fusca", diz.
Apesar disso, na noite de anteontem, o jovem não conseguiu dormir. Flashes da queda,
da aflição da queda, despertavam-no, aflito.
Ontem, a mãe de Armando,
Josefa, dizia que "anjos salvaram" seu único filho (ela tem
mais duas filhas, Rebeca, 13, e
Amanda, 19).
A família não sabe quando o
rapaz, que está internado no
Hospital e Maternidade do
Brás, receberá alta. "Ele ainda
tem muita dor, e estava com
água no pulmão, mas os médicos dizem que a evolução está
muito boa", afirma Amanda.
Ao falar sobre o Fusca 77, que
era o orgulho da família Silva,
Armando começou a chorar:
"Meu pai gostava muito daquele carro, mas não o dirigia. Eu
aprendi a dirigir com ele. Agora, ficamos assim, sem ele. Como vamos ficar sem ele?"
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