São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Promotoria afirma que obra do metrô não seguiu projeto

Ministério Público informa que o IPT encontrou três divergências na execução da escavação do túnel em SP

Entre as desconformidades estão a inversão no sentido de escavação do túnel e uma suposta aceleração da construção do túnel

DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Estadual de São Paulo afirma já ter indícios de que as obras da futura estação Pinheiros do metrô, onde em janeiro do ano passado um canteiro de obras desabou matando sete pessoas, foram realizadas em desacordo com o projeto original.
A informação foi publicada ontem pelo jornal "Estado de S. Paulo." Procurados, o Consórcio Via Amarela, responsável pela obra e integrado pela Alstom, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht e Queiroz Galvão, e o Metrô, que cuida da fiscalização, responderam que não poderiam se manifestar sobre a investigação porque ela é inconclusiva.
A linha 4-amarela vai ligar a estação da Luz, no centro, à Vila Sônia, na zona oeste de SP.
De acordo com o promotor Arnaldo Hossepian Júnior, um dos encarregados pelo inquérito criminal que apura as causas da tragédia, foram encontradas três desconformidades na execução da obra em relação ao que foi estabelecido inicialmente pela equipe de projetistas do Consórcio Via Amarela.
Todos os "descompassos", como prefere chamar o promotor, são relativos à escavação e foram encontrados por peritos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). São eles:
1) Inversão no sentido de escavação do túnel sob a rua Capri: "houve inversão de fluxo", disse Hossepian Júnior. Deveria ter começado no poço da estação em direção à Capri, mas foi feita no sentido oposto;
2) Discrepância entre os registros dos diários de obra e os encontrados por técnicos do IPT: enquanto o diário informa que havia cinco cambotas (grades de sustentação) de um lado da parede do túnel e duas de outro, técnicos do instituto acharam duas em cada lado.
3) Suposta aceleração do ritmo da construção: "A escavação do túnel que se colapsou foi em quantidade superior ao que estava no projeto. A profundidade foi maior, chegou a 1,40 m", explica o promotor.
Essas evidências foram obtidas por meio de documentos e testemunhos dos envolvidos na obra. Apesar disso, o Ministério Público ainda acha prematuro afirmar que houve erro na sua execução ou se isso causou o acidente. "Quem dirá isso será a investigação e o laudo do IPT", afirmou o promotor.
A Folha apurou que o resultado final sobre as causas do acidente deve ficar pronto até agosto deste ano.
Além do IPT, o IC (Instituto de Criminalística) da Polícia Civil também irá elaborar um laudo sobre a tragédia. A cratera no canteiro de obras surgiu depois que rachaduras foram vistas no túnel por operários.
Na ocasião, os funcionários evacuaram o local. Às 15h30, porém, houve um colapso no túnel, que engoliu parte da rua Capri e uma van, onde estavam cinco pessoas. As outras duas vítimas são uma idosa que passava pela via e o motorista de um caminhão da obra.
Além disso, aproximadamente 230 moradores vizinhos ao buraco tiveram seus imóveis interditados pela Defesa Civil por questão de segurança.
Atualmente, as obras no canteiro estão paradas. A autorização para a retomada dos trabalhos dependerá da Promotoria e do aval dado pela Delegacia Regional do Trabalho.
Na próxima semana, será ouvido na 3ª Delegacia Seccional o responsável pelas explosões na obra.
Não é de agora que o Ministério Público aponta desconformidades na execução da estação Pinheiros do metrô. Em julho de 2007, a Folha publicou que de acordo com o Ministério Público, nenhum plano de evacuação foi implantado pelo Consórcio Via Amarela.


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