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Quero esquecer tudo, diz vítima de tortura
Menina de 12 anos isenta a mãe de responsabilidade pelos maus-tratos e afirma que marido da acusada sabia das agressões
A garota concedeu uma entrevista coletiva ontem por videoconferência, mediada por um juiz da Infância e Juventude
SEBASTIÃO MONTALVÃO
COLABORAÇÃO PARA A AGÊNCIA FOLHA, EM GOIÂNIA
A menina de 12 anos vítima
de agressões em Goiânia isentou ontem os pais de responsabilidade pelo que sofreu e disse
que quer "esquecer de tudo".
Também afirmou que o marido
da acusada, Marco Antonio Calabresi Lima, sabia das agressões. Ele nega.
Ela deu uma entrevista coletiva por videoconferência, mediada por um juiz da Infância e
Juventude. Estava num abrigo
para vítimas de maus-tratos e
os repórteres ficaram no Tribunal de Justiça.
"Quando eu brinco, esqueço
de tudo. Não quero ficar lembrando. Não quero mais ficar
pensando nisso. Quando falo
tudo que passei, eu quero é desabafar pra todo mundo", disse.
A garota, encontrada amarrada no apartamento em que
vivia, diz que nunca teve como
contar o que sofria à mãe. A Polícia Civil cogita indiciar a mãe
como cúmplice dos crimes.
"Nunca falei nada para ela. E,
toda vez que ela ia me visitar no
apartamento, Sílvia [Calabresi
Lima, 41, acusada das torturas]
me mandava pôr um moletom
para esconder as marcas. E
sempre ficava por perto. Não
deixava eu e minha mãe sozinhas para eu contar."
Na entrevista, a criança afirmou que o marido da suspeita,
Marco Antonio Calabresi Lima,
sabia das agressões, o que ele
negou em depoimento. "[Ele
falou:] Não é certo o que você
[Sílvia] fez", contou. Ela afirma
que não sofreu abuso sexual.
Segundo o juiz Maurício Porfírio, ela manifestou a vontade
de ficar sob a guarda do pai biológico. "Vamos avaliar todas as
circunstâncias e a opinião dela
é a mais importante", afirma.
A menina contou também
que quer retomar os estudos,
interrompidos em agosto. "Isso
vai passar. Agora eu quero saber é de estudar e ser feliz."
Mais vítimas
A polícia diz que Lima, presa
desde segunda-feira, pode ter
feito anteriormente outras
quatro vítimas. A delegada
Adriana Accorsi afirma também que ela poderia ter matado
a garota no sábado. "Com sacos
plásticos, ela asfixiou a menina
até que desmaiasse. Por muito
pouco ela não morreu."
Outras duas supostas vítimas
de Lima já foram ouvidas. A polícia diz ter recebido informações sobre uma outra menina,
de Adelândia (GO), que ficou
seis meses na casa da investigada. A empregada dela, Vanice
Novaes, que também está presa, disse à polícia que outra garota viveu com a suspeita, mas a
jovem não foi localizada.
O advogado de Lima, Darlan
Alves Ferreira, diz que ela negou que tenha maltratado outras jovens. Segundo ele, atribuiu à empregada as agressões
à garota. Mas disse, segundo
ele, que pode ter cometido
agressões "mais leves".
A advogada de Vanice nega
qualquer responsabilidade da
empregada. "Ela é tão vítima
quanto a menina." Segundo a
defensora, ela era ameaçada
por Lima, não tinha permissão
para sair do local e vivia em
"condições degradantes".
Colaborou FELIPE BÄCHTOLD, da Agência Folha
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