São Paulo, sexta-feira, 21 de março de 2008

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Em SP, ensino integral não melhora nota de alunos

Só 4 entre 60 escolas estaduais tiveram notas superiores à média de suas regiões

Levantamento teve como base dados do Saresp 2007; educadores elogiam programa, mas criticam a forma como foi adotado

Carol Guedes/Folha Imagem
Estudante em sala de escola estadual de São Paulo; aula em tempo integral não foi o suficiente para melhorar nota no Saresp

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Mais tempo na escola não resultou em melhores notas dos estudantes na rede estadual de São Paulo, apontam os dados do Saresp 2007 (exame aplicado pelo governo paulista).
Levantamento realizado pela Folha mostra que, das 60 escolas com período integral na capital, apenas 4 tiveram notas superiores às médias das demais unidades de suas respectivas regiões. No outro extremo, 20 ficaram abaixo.
Esses resultados se referem à prova de matemática de 4ª e 8ª séries. O panorama foi semelhante em língua portuguesa (veja quadro ao lado).
Lançado no início de 2006 pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB), a idéia do programa Escola de Tempo Integral é elogiada por educadores, mas criticada pela forma como foi implementada.
A principal reclamação é que não houve planejamento para as atividades extras nem uma melhoria da estrutura física das escolas para abrigarem os alunos por mais tempo.
Nas unidades que aderem ao programa, a jornada diária sobe de cinco para nove horas. Na parte da manhã, os alunos têm as disciplinas convencionais. À tarde, estão previstas oficinas como experiências matemáticas, leitura, arte, esporte e informática (que complementam o programa regular).

Estrutura
"Esse resultado no Saresp não é uma surpresa. Os alunos ficam mais tempo nas escolas, mas sem atividades articuladas com as disciplinas", afirmou o presidente da Udemo (sindicato dos especialistas da rede estadual), Luiz Gonzaga Pinto.
Para ele, o principal problema é que o professor que oferece a atividade da tarde, em geral, não é o mesmo que ministra a matéria da manhã -muitas vezes, nem é da escola.
O problema de implantação do programa foi citado pelo próprio governo José Serra (PSDB) no início do ano passado, em um documento enviado à Assembléia Legislativa.
O texto diz que o projeto começou com "inexistência e/ou insuficiência de espaços físicos, insuficiência de equipamentos, falta de mobiliário em geral e de material de consumo; falta de funcionários, sobretudo, para a supervisão dos alunos no intervalo das aulas e para a coordenação pedagógica; e déficit de docentes com perfil adequado para oficinas curriculares".
Comentando críticas anteriores, o secretário da Educação da gestão Alckmin, Gabriel Chalita, disse que as deficiências eram "pontuais". Já o governo Serra afirma que está melhorando o programa (leia mais nesta página).
Para o presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Carlos Ramiro de Castro, as dificuldades continuam e refletem os problemas da rede.
"Há falta de recursos humanos. Além disso, 70% das bibliotecas estão fechadas. Como deixar as crianças na escola o dia todo nessas condições?", diz. "Sou a favor de aumentar a jornada dos alunos. Mas precisa ser de uma forma planejada."

Desempenho
Diversos especialistas e estudos apontam que o aumento da jornada dos alunos resulta em melhores notas.
As pesquisadoras do Inep (instituto de pesquisas do MEC) Fabiana de Felício e Roberta Loboda Biondi, por exemplo, verificaram que, a cada hora adicional de estudos, os alunos aumentam, em geral, suas médias em 2,5%.
O trabalho teve como base os resultados em matemática dos estudantes da 4ª série de escolas públicas do país no Saeb (prova do governo federal).
"O que é preciso verificar é o uso que está sendo feito desse período adicional", afirmou Felício. "Mas também precisa ser considerado que os exames não captam outros ganhos para os alunos, como ficar menos exposto à violência na rua."


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