São Paulo, domingo, 21 de março de 2010

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Marginal só deve melhorar na pista expressa

Com nova pista central na Tietê, técnicos esperam trânsito mais rápido apenas para rotas longas, como no trajeto até Guarulhos

Acessos para entrar na pista mais rápida e para sair dela diminuíram; entupida, pista local tende a ser opção ruim para os motoristas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Operários trabalham em obra da marginal Tietê em trecho próximo à ponte das Bandeiras; nova pista deve ser inaugurada no final do mês

ALENCAR IZIDORO
EDUARDO GERAQUE
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Quem utiliza a marginal Tietê de ponta a ponta, de passagem pela capital paulista, só para ir ao aeroporto de Guarulhos ou para acessar uma rodovia, pode comemorar uma provável redução do tempo de viagem com a entrega de boa parte das obras de ampliação da via mais movimentada de São Paulo.
Mas quem sempre viu na marginal Tietê uma avenida urbana mais rápida para se deslocar a um bairro mais próximo, da Lapa à Barra Funda, de Santana à Freguesia do Ó, do centro à Vila Maria, não tem motivo para se animar muito com a inauguração da nova pista, esperada para o final deste mês.
Com a abertura ao tráfego de três novas faixas de cada lado, as pistas expressas (da esquerda) tendem a ficar mais livres e menos engarrafadas, enquanto as pistas locais (da direita) deverão permanecer entupidas.
E não adianta pensar que basta passar de uma para outra, porque os acessos às faixas mais livres serão restritos, viáveis somente para quem percorrer trajetos mais longos.
Essas são as principais mudanças imediatas esperadas por especialistas ouvidos pela Folha, independentes ou ligados à obra da Nova Marginal, críticos ou favoráveis ao empreendimento de quase R$ 2 bilhões que virou a mais polêmica intervenção viária desta década na capital paulista.
As três novas faixas em cada sentido da marginal Tietê (parte já aberta nos últimos meses) podem aumentar em um terço a capacidade da via, que passará a ter até 11 faixas, distribuídas em três pistas: local, central (ambas como limite de 70 km/ h) e expressa (até 90 km/h).
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) vai implantar uma faixa preferencial de ônibus na local. E proibir motos na expressa.
O impacto na fluidez do trânsito não será uniforme. A maior parte dos veículos usa a marginal para trajetos pequenos (até 6 km) e eles terão dificuldade de acessar a pista mais rápida devido à diminuição de entradas, principalmente no sentido Castello Branco-Ayrton Senna.
Em 23 km de marginal nessa direção os motoristas terão só seis acessos para chegar ou sair da pista expressa. É metade do que havia antes, conforme imagens de satélite. No sentido oposto (da Lapa), o número de entradas e saídas da pista central para a expressa, e vice-versa, será cerca de 20% menor.
"Não haverá mais aquele entra e sai que tinha antigamente", diz Jaime Waisman, engenheiro e professor da USP.
"Haverá um desequilíbrio de uso. O motorista vai ter que ir para a pista local muito antes do que gostaria", avalia Sergio Ejzenberg, consultor e mestre em engenharia de transportes.
Outro motivo para os engarrafamentos nas pistas local e central é que, ao concentrar as motocicletas, eles devem ter mais interferências -por exemplo, devido aos acidentes.
A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) reconhece que os impactos mais esperados são nas viagens de longa e média distância. Mas diz esperar melhora em percursos curtos. A gestão Kassab divulga previsão de aumentar em média 35% a velocidade na Tietê.
Embora seja a favor da obra, Jaime Waisman considera que, na prática, ela vai "diminuir a distância entre dois congestionamentos". "É perverso. O gargalo muda de lugar", afirma.
Sergio Ejzenberg, que é contra a obra, considera que eventuais benefícios serão pontuais e temporários. Estudos mostram que a ampliação, isolada, estará esgotada até 2020.


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