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Feiras resistem com charme à restrição de horário em SP
Calor humano, produtos frescos e novos serviços explicam a sobrevivência do comércio de rua em tempos de hipermercados
Devido aos alagamentos, Prefeitura de SP reduziu em 1 hora o funcionamento das barracas; após dois meses, consumidores se adaptam
ROBERTO DE OLIVEIRA
ANA PAULA BONI
DA REVISTA DA FOLHA
Que atire um tomate quem
nunca ouviu o clássico grito de
feira: "Mulher bonita não paga
nada, mas também não leva".
Como diz a atriz Sandra Corveloni, 44, desde menininha acostumada a correr com a sacolinha nos braços pelas feiras paulistanas: "Está deprimida? Vai à
feira que passa".
Talvez esteja aí um dos segredos que explicam o motivo de
as barracas continuarem ainda
de pé nas ruas dos mais diversos pontos da capital, numa
época em que os supermercados abocanham, a cada dia,
uma baita fatia desse mercado.
E, há dois meses, o feirante
aprende a lidar com mais um
"concorrente": diante dos dilúvios que assolaram a cidade por
mais de 40 dias consecutivos,
um decreto municipal reduziu
em uma hora o funcionamento
das feiras.
É certo que o movimento de
"fregueses" vem diminuindo a
cada ano. Mas, a julgar pela tradição das feiras e o convívio social que ela proporciona a muitos paulistanos, o fim deste tipo
de comércio ao ar livre (ainda)
está longe.
Os consumidores estão se
adaptando ao novo horário e às
novas comodidades oferecidas
pelos feirantes, como o chef
francês Erick Jacquin, que gosta de passear e comprar em feiras do Pacaembu e de Higienópolis (zona oeste) e de Moema
(zona sul). "Aqui tem vida e alegria", defende ele, enquanto selecionava frutas para ser entregue no restaurante que leva o
seu nome.
Honestidade e transparência, dizem os clientes, é a alma
do negócio. "Se o produto não
estiver bom, o feirante fala para
você não levar. Aqui, a palavra
vale muito", conta outra entusiasta do comércio ao ar livre, a
pedagoga Edite Traiman, 55.
De pai para filho
Do lado de lá da barraca, o feirante vive a mesma experiência
-de intimidade com produtos
e clientes. Ainda mais se o comerciante cresceu dentro de
uma barraca, como no caso de
Armando Papucci, 52, que vem
de uma verdadeira dinastia
-os avós maternos, os pais e os
três irmãos sobrevivem há três
gerações da venda de alimentos
ao ar livre.
Aos domingos, Armando
monta 28 m na feira da rua Santo Amaro, no centro. Ao seu lado, a mulher, Adelaide, 52, que
ele conheceu quase 30 anos
atrás numa feira. "Era uma barraca de frente para a outra. A da
minha família, de frutas; a da
dela, de legumes", conta.
Virou uma banca só: de frutas, de onde eles tiram o sustento para as quatro filhas: uma é
advogada, a outra, engenheira,
uma estuda administração e a
caçula está no colégio. No fim
de semana, elas ajudam os pais.
Para manter a tradição, o sobrinho de Armando namora a sobrinha de Adelaide -ambos
com os dois pés na feira. A julgar pelos Papucci, o futuro nas
feiras está garantido.
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