São Paulo, domingo, 21 de abril de 2002

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SEXO E RELIGIÃO

Ministério Público acusa dom Aldo Pagotto de coagir adolescentes a mudar depoimento sobre abuso sexual

Bispo é denunciado por proteger frei no CE

XICO SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público do Ceará denunciou na última quarta-feira o bispo de Sobral, dom Aldo Pagotto, acusado de coagir adolescentes para que mudassem seus depoimentos à Justiça no caso do frei Luis Sebastião Thomaz -apontado como suposto autor de abuso sexual contra 21 meninas de Santana do Acaraú, no interior cearense.
No dia anterior à denúncia contra o bispo, protocolada pelo promotor Alexandre Pinto, o frei Thomaz, 69, que teve a prisão preventiva decretada há dois meses, obteve habeas corpus no Tribunal de Justiça do Ceará.
O acusado havia sido detido em um albergue em Sobral, estabelecimento para onde são levados os detentos que possuem diploma de curso superior da região.
Nesse período, saiu para ser submetido a uma cirurgia na garganta. Nos últimos dias, cumpria prisão domiciliar na casa de parentes em Fortaleza.
Frei Thomaz foi acusado, em janeiro deste ano, por um grupo de crianças e adolescentes. Elas contaram à polícia que sofreram abuso sexual em troca de doações de cestas básicas de alimentos e outras ajudas para suas famílias.
Jurandyr Porto, advogado que defende o frei Thomaz, afirmou, sem citar nomes, que o religioso está sendo vítima de esquemas políticos. "São calúnias, mas tudo será bem esclarecido", afirmou. "O habeas corpus é só começo desse trabalho."
Nove das supostas vítimas passaram por exames no IML (Instituto Médico Legal). A polícia revelou que uma delas teria sofrido estupro e duas teriam mantido relações sexuais com o frei.
Na única entrevista concedida durante o período em que esteve com prisão decretada, o frei disse ao jornal "O Povo", de Fortaleza, que era inocente. Afirmou que fazia as doações às famílias carentes de Santana do Acaraú, mas como obra religiosa, sem o interesse pelo qual estava sendo acusado.
No começo do mês passado, as supostas vítimas de abuso sexual acusaram o bispo Aldo Pagotto de tentar convencê-las a mudar os depoimentos prestados à polícia. Teriam sido coagidas a dizer que o frei era inocente.
Além de d. Aldo Pagotto, a juíza Solange Menezes Holanda, da comarca de Santana do Acaraú, pediu que a polícia cearense abrisse inquérito contra outros três suspeitos de interferir no episódio.
Os acusados são o presidente da Câmara Municipal, Galvino Arcanjo, a vereadora Jamile Vasconcelos e o radialista Batista Paiva.

Outro lado
A Folha tentou, anteontem, falar com Arcanjo, Jamile e Batista Paiva, mas não conseguiu localizá-las na cidade.
O bispo de Sobral nega as acusações que provocaram a denúncia feita pelo Ministério Público e acusa a polícia de distorcer os fatos na tentativa de incriminá-lo no caso. O advogado do frei Thomaz afirma que não houve, em nenhum momento do inquérito, interferências na tentativa de mudar a opinião dos envolvidos.


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