São Paulo, domingo, 21 de abril de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

SEGURANÇA

Inquérito contra um dos principais atacadistas de cocaína de São Paulo sumiu dos arquivos de departamento policial

Processo contra traficante desaparece em SP

DO "AGORA"

O inquérito contra Ivanildo Canuto Soares, o Vando, um dos principais atacadistas de cocaína de São Paulo, "sumiu" dos arquivos do Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais).
Condenado a 12 anos de prisão por tráfico e homicídio, Vando é hoje o traficante mais forte da zona leste da capital e proprietário de um patrimônio invejável -cinco carros importados, duas casas e um sítio, de acordo com o Departamento de Narcóticos de São Paulo.
O sumiço de três volumes do inquérito policial que apura o envolvimento de Vando com o tráfico de drogas foi descoberto no último dia 14 de janeiro pelo juiz corregedor do Dipo, Maurício Lemos Porto Alves.
O fato veio à tona quando o juiz ligou para o delegado Marcos Natal Menghini, titular do 70º DP (Sapopemba), solicitando o inquérito e descobriu que ele fora entregue no Dipo no dia 9 de outubro de 2001. Há dois anos, a descoberta de uma quadrilha que subtraía processos dos fóruns João Mendes e Mário Guimarães (Criminal da Barra Funda) levou seis funcionários do Poder Judiciário e um advogado à prisão.
Essa é a terceira vez que documentos do mesmo traficante desaparecem de órgãos públicos. Vando, fugitivo desde novembro de 98 da Penitenciária do Estado, decidiu, em fevereiro de 2000, enterrar um indigente negro como sendo ele para escapar da caçada policial. O traficante é branco.
A falsa morte resultou no arquivamento do processo criminal que Vando respondia pela morte do investigador Manoel Maria da Conceição e de seu informante Clayton Marcelo de Souza.
Em julho do ano passado, o traficante foi delatado por uma amante, que avisou a polícia que não era ele quem tinha morrido. Menghini, então, instaurou um novo inquérito contra Vando para apurar o crime de falsidade ideológica.
Durante as investigações, o delegado foi informado de que a planilha de digitais do traficante havia sido "extraviada" do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), assim como a planilha de identificação do morto sumiu do IML (Instituto Médico Legal) Leste.
Em decorrência desse histórico, a suspeita de Menghini e do promotor criminal Elvécio de Faria Barbosa, integrante do Gaerpa (Grupo de Atuação Especial de Repressão e Prevenção dos Crimes Previstos na Lei Antitóxicos), que também investiga o criminoso, é de que o extravio do inquérito foi doloso, ou seja, teve o objetivo de favorecer o traficante.
Um dos juízes do Dipo, que preferiu não se identificar, disse que o sumiço dos três volumes do inquérito é indício de uma atitude criminosa.
"O histórico do sumiço das fichas do IIRGD e do IML, referente à mesma pessoa, nos induz a concluir que houve uma subtração dolosa", disse.
O delegado suspeita que Vando tenha encomendado o sumiço do processo para não ter três imóveis -duas casas com piscina e quadra de tênis e um sítio-, situados em Ourinhos, bloqueados pela Justiça. Quatro veículos do traficante já haviam ficado indisponíveis pelo mesmo inquérito.
"Eu encaminhei, em dezembro, o pedido de bloqueio dos imóveis em autos apartados. Até então eu não imaginava que a peça principal tinha sumido. Para autorizar o pedido, o juiz precisaria analisar o inquérito principal. Se ele [Vando] queria isso, ele conseguiu. Até hoje o pedido não foi julgado", afirmou o delegado.

Outro lado
A Corregedoria do Dipo instaurou sindicância para apurar o sumiço do inquérito contra Vando.
O procedimento foi aberto no início de fevereiro. Até agora, porém, ninguém foi ouvido e nada foi investigado.
A reportagem apurou que as investigações serão feitas pelo juiz corregedor Maurício Lemos Porto Alves, que começará ouvindo os primeiros funcionários que manusearam o processo.
Caso seja apurado que o extravio foi intencional, o juiz corregedor deverá determinar à Polícia Civil a instauração de inquérito policial para apurar o responsável pelo sumiço do processo e a abertura de um processo administrativo contra o funcionário cúmplice.

Texto Anterior: Mortes
Próximo Texto: Suriname: Itamaraty solicita o resgate de brasileiros
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.