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SEGURANÇA
Inquérito contra um dos principais atacadistas de cocaína de São Paulo sumiu dos arquivos de departamento policial
Processo contra traficante desaparece em SP
DO "AGORA"
O inquérito contra Ivanildo Canuto Soares, o Vando, um dos
principais atacadistas de cocaína
de São Paulo, "sumiu" dos arquivos do Dipo (Departamento de
Inquéritos Policiais).
Condenado a 12 anos de prisão
por tráfico e homicídio, Vando é
hoje o traficante mais forte da zona leste da capital e proprietário
de um patrimônio invejável
-cinco carros importados, duas
casas e um sítio, de acordo com o
Departamento de Narcóticos de
São Paulo.
O sumiço de três volumes do inquérito policial que apura o envolvimento de Vando com o tráfico de drogas foi descoberto no último dia 14 de janeiro pelo juiz
corregedor do Dipo, Maurício Lemos Porto Alves.
O fato veio à tona quando o juiz
ligou para o delegado Marcos Natal Menghini, titular do 70º DP
(Sapopemba), solicitando o inquérito e descobriu que ele fora
entregue no Dipo no dia 9 de outubro de 2001. Há dois anos, a descoberta de uma quadrilha que
subtraía processos dos fóruns
João Mendes e Mário Guimarães
(Criminal da Barra Funda) levou
seis funcionários do Poder Judiciário e um advogado à prisão.
Essa é a terceira vez que documentos do mesmo traficante desaparecem de órgãos públicos.
Vando, fugitivo desde novembro
de 98 da Penitenciária do Estado,
decidiu, em fevereiro de 2000, enterrar um indigente negro como
sendo ele para escapar da caçada
policial. O traficante é branco.
A falsa morte resultou no arquivamento do processo criminal
que Vando respondia pela morte
do investigador Manoel Maria da
Conceição e de seu informante
Clayton Marcelo de Souza.
Em julho do ano passado, o traficante foi delatado por uma
amante, que avisou a polícia que
não era ele quem tinha morrido.
Menghini, então, instaurou um
novo inquérito contra Vando para apurar o crime de falsidade
ideológica.
Durante as investigações, o delegado foi informado de que a planilha de digitais do traficante havia sido "extraviada" do IIRGD
(Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), assim como a planilha de identificação do
morto sumiu do IML (Instituto
Médico Legal) Leste.
Em decorrência desse histórico,
a suspeita de Menghini e do promotor criminal Elvécio de Faria
Barbosa, integrante do Gaerpa
(Grupo de Atuação Especial de
Repressão e Prevenção dos Crimes Previstos na Lei Antitóxicos),
que também investiga o criminoso, é de que o extravio do inquérito foi doloso, ou seja, teve o objetivo de favorecer o traficante.
Um dos juízes do Dipo, que preferiu não se identificar, disse que o
sumiço dos três volumes do inquérito é indício de uma atitude
criminosa.
"O histórico do sumiço das fichas do IIRGD e do IML, referente à mesma pessoa, nos induz a
concluir que houve uma subtração dolosa", disse.
O delegado suspeita que Vando
tenha encomendado o sumiço do
processo para não ter três imóveis
-duas casas com piscina e quadra de tênis e um sítio-, situados
em Ourinhos, bloqueados pela
Justiça. Quatro veículos do traficante já haviam ficado indisponíveis pelo mesmo inquérito.
"Eu encaminhei, em dezembro,
o pedido de bloqueio dos imóveis
em autos apartados. Até então eu
não imaginava que a peça principal tinha sumido. Para autorizar o
pedido, o juiz precisaria analisar o
inquérito principal. Se ele [Vando] queria isso, ele conseguiu. Até
hoje o pedido não foi julgado",
afirmou o delegado.
Outro lado
A Corregedoria do Dipo instaurou sindicância para apurar o sumiço do inquérito contra Vando.
O procedimento foi aberto no
início de fevereiro. Até agora, porém, ninguém foi ouvido e nada
foi investigado.
A reportagem apurou que as investigações serão feitas pelo juiz
corregedor Maurício Lemos Porto Alves, que começará ouvindo
os primeiros funcionários que
manusearam o processo.
Caso seja apurado que o extravio foi intencional, o juiz corregedor deverá determinar à Polícia
Civil a instauração de inquérito
policial para apurar o responsável
pelo sumiço do processo e a abertura de um processo administrativo contra o funcionário cúmplice.
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