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Invasão de quartel da PM expõe
abandono de patrimônio histórico
DA REPORTAGEM LOCAL
Os gritos dos sem-teto que ocuparam, na madrugada de anteontem, um quartel desativado da
PM no centro de São Paulo, não
chamaram a atenção só para a
questão habitacional. A ação, indiretamente, jogou luzes sobre a
falta da preservação do patrimônio histórico: o quartel, uma
construção neoclássica do século
19, está infestado por cupins, com
infiltrações, telhas quebradas e
aguarda há mais de vinte anos por
um projeto de restauração.
O prédio foi tombado em 1981
pelo Condephaat (Conselho de
Defesa do Patrimônio Histórico,
Artístico, Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo). Segundo o presidente da entidade,
José Roberto Melhem, a principal
dificuldade é financeira.
"Na atual situação, a Secretaria
de Segurança Pública não pode
gastar o dinheiro de equipamentos e pessoal com restauração de
prédio." A reforma, diz, custaria
de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões.
A PM informou, por meio de
sua assessoria de imprensa, que
está realizando um estudo para
restaurar o prédio, mas não forneceu mais dados. Atualmente,
parte do quartel é usada para manutenção de veículos. O restante
está desativado desde 1997.
Na última vistoria do Condephaat, realizada no fim do ano
passado, foram constatadas infiltrações nas paredes e inchaço das
tábuas do assoalho. Nos próximos dias, técnicos do Condephaat
farão uma nova vistoria no local
para verificar os danos causados
na invasão. No conflito entre manifestantes e policiais, parte do piso de madeira afundou.
Tanto o assoalho como as molduras dos vãos e as portas (decoradas com vidros coloridos) do
corpo principal da construção são
originais, de 1.842. Posteriormente, foram construídas duas alas laterais e, já no século 20, uma terceira obra ligou as duas alas, formando um quadrado, com um
pátio no centro. A busca é por um
patrocinador que dê ao local um
novo uso. Segundo Melhem, devido à fragilidade da estrutura (o
corpo principal do prédio é feito
de taipa de pilão), o quartel não
pode mais ter uso militar.
Há cerca de dois anos, surgiu a
idéia de transformar o quartel em
um museu da televisão, mas o
grupo interessado não conseguiu
a verba necessária para a restauração. Outra proposta, mais recente, é transformar o local em uma
escola de arquitetura com oficinas
para restauração de peças de arte.
O projeto, porém, usaria só parte
do quartel, o que não interessa ao
Condephaat, pois o resto do prédio permaneceria no abandono.
A variedade de usos já faz parte
da história do local, que surgiu como sede de uma chácara. Em
1.860, abrigou o Seminário das
Educandas. E, dois anos depois, o
Hospício dos Alienados.
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