São Paulo, quarta-feira, 21 de abril de 2004

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Invasão de quartel da PM expõe abandono de patrimônio histórico

DA REPORTAGEM LOCAL

Os gritos dos sem-teto que ocuparam, na madrugada de anteontem, um quartel desativado da PM no centro de São Paulo, não chamaram a atenção só para a questão habitacional. A ação, indiretamente, jogou luzes sobre a falta da preservação do patrimônio histórico: o quartel, uma construção neoclássica do século 19, está infestado por cupins, com infiltrações, telhas quebradas e aguarda há mais de vinte anos por um projeto de restauração.
O prédio foi tombado em 1981 pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arquitetônico e Turístico do Estado de São Paulo). Segundo o presidente da entidade, José Roberto Melhem, a principal dificuldade é financeira.
"Na atual situação, a Secretaria de Segurança Pública não pode gastar o dinheiro de equipamentos e pessoal com restauração de prédio." A reforma, diz, custaria de R$ 3 milhões a R$ 5 milhões.
A PM informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que está realizando um estudo para restaurar o prédio, mas não forneceu mais dados. Atualmente, parte do quartel é usada para manutenção de veículos. O restante está desativado desde 1997.
Na última vistoria do Condephaat, realizada no fim do ano passado, foram constatadas infiltrações nas paredes e inchaço das tábuas do assoalho. Nos próximos dias, técnicos do Condephaat farão uma nova vistoria no local para verificar os danos causados na invasão. No conflito entre manifestantes e policiais, parte do piso de madeira afundou.
Tanto o assoalho como as molduras dos vãos e as portas (decoradas com vidros coloridos) do corpo principal da construção são originais, de 1.842. Posteriormente, foram construídas duas alas laterais e, já no século 20, uma terceira obra ligou as duas alas, formando um quadrado, com um pátio no centro. A busca é por um patrocinador que dê ao local um novo uso. Segundo Melhem, devido à fragilidade da estrutura (o corpo principal do prédio é feito de taipa de pilão), o quartel não pode mais ter uso militar.
Há cerca de dois anos, surgiu a idéia de transformar o quartel em um museu da televisão, mas o grupo interessado não conseguiu a verba necessária para a restauração. Outra proposta, mais recente, é transformar o local em uma escola de arquitetura com oficinas para restauração de peças de arte. O projeto, porém, usaria só parte do quartel, o que não interessa ao Condephaat, pois o resto do prédio permaneceria no abandono.
A variedade de usos já faz parte da história do local, que surgiu como sede de uma chácara. Em 1.860, abrigou o Seminário das Educandas. E, dois anos depois, o Hospício dos Alienados.


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