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ExcelAire acusa Embraer por falha em jato
Empresa dona do Legacy que se chocou com o Boeing da Gol também culpa o controle aéreo e a fabricante do Transponder
Em relatório à PF, a ExcelAire alega que a Embraer, fabricante do Legacy, não notificou problemas anteriores em componentes
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Além de acusar diretamente
as falhas do controle de tráfego
aéreo do Brasil, a empresa norte-americana ExcelAire, dona
do jato Legacy que se chocou
com o Boeing da Gol em 2006,
acusa também a brasileira Embraer, fabricante do avião, e a
norte-americana Honeywell,
fabricante do transponder.
É a primeira vez que os fabricantes são acusados por um dos
grandes mistérios do acidente:
por que o transponder, equipamento que transmite dados do
avião para outras aeronaves e
para os centros em terra, parou
de funcionar antes do choque.
Em relatório de 134 páginas à
Polícia Federal, os advogados
da ExcelAire dizem que um dos
componentes onde são instalados o transponder e parte do
sistema de rádio já tinha apresentado defeito antes, numa
aeronave agora fora de linha.
Foi devolvido pela Embraer à
Honeywell, voltou ao Brasil e
foi instalado no Legacy.
Além disso, uma das unidades de gerenciamento de rádio
do Legacy também foi devolvida à Honeywell por problemas
em outro avião. Apesar dos problemas e de já terem sido usados em outros aviões, os equipamentos foram instalados no
Legacy, que era novo e fazia seu
primeiro vôo no dia do acidente, 29 de setembro, sem conhecimento dos compradores.
"A Embraer nunca revelou à
ExcelAire que os referidos
componentes não eram novos,
nem tampouco informou que já
haviam sido devolvidos à Honeywell para reparo", dizem no
texto os advogados José Carlos
Dias e Theo Dias.
Pelo relato deles, dois dias
antes do acidente, os pilotos de
teste da Embraer notaram num
vôo de aceitação do Legacy que
as imagens do sistema de gerenciamento de vôo "estavam
piscando e trêmulas".
No texto, dizem que inspeção
posterior da própria Embraer
"revelou que os sistemas estavam conectados incorretamente, o que motivou suspeita de
que outros sistemas poderiam
apresentar, da mesma maneira,
conexões defeituosas".
Nas primeiras investigações
após o acidente, a Aeronáutica
já trabalhava com a possibilidade de "mau contato" do transponder com a aeronave.
Ao longo das investigações, a
Folha publicou que a Honeywell havia convocado "recall"
de transponders, porque eles
entravam em "stand by" indevido justamente por um problema de contato na unidade de
rádio do avião. O Legacy estava
no recall, mas a Honeywell sustentou que o que estava instalado no avião acidentado não era
um dos problemáticos.
A Comissão de Investigação
da Aeronáutica também concluiu que o transponder, em si,
não tinha nenhum defeito. Entretanto, avisou que outras
análises estavam sendo feitas e
que não estavam descartadas as
hipóteses nem de falha de instalação nem de operação. Não
há resultado oficial ainda.
Segundo os advogados, no
texto à PF, "adicionalmente,
vários problemas de manutenção foram registrados nos registros de vôo do Legacy vendido à ExcelAire, evidenciando
defeitos na aeronave que poderiam ter contribuído ou explicado a falha no transponder".
Eles citaram exemplos. Um
deles: painéis inoperantes foram identificados pela Embraer durante um vôo de produção em 12 de julho de 2006,
pouco mais de dois meses antes
da colisão, que foi o maior acidente da aviação brasileira e resultou na morte de todos as 154
pessoas a bordo do Boeing.
Outro exemplo foi que o radar meteorológico não passou
em teste de vôo e, mesmo após
correção, voltou a falhar. O texto foi encaminhado em 10 de
abril ao delegado Renato Sayão,
que investiga o acidente.
Um terceiro exemplo foi
num teste do avião em 11 de setembro, quando a tripulação foi
avisada pelo sistema geral de
alarme do avião sobre um possível superaquecimento no
procedimento de aterrissagem.
Sete dias depois, as unidades do
painel tiveram de ser ajustadas.
Um dos sistemas que não
funcionou devido à desativação
do transponder foi o TCAS, o
dispositivo anticolisão que poderia ter evitado o acidente.
A ExcelAire afirma que, em
testes posteriores e ainda inconclusos na Honeywell, constatou-se que o TCAS recebeu
um sinal indicando que o avião
tinha "peso nas rodas" quando
voava estabilizado a 37 mil pés
(11 mil metros). Ou seja: pode
não ter funcionado por "entender" que o avião estava em solo.
O TCAS não funciona em terra.
O texto também indica problemas na montagem dos equipamentos, como "quantidade
excessiva de silicone não-condutor dentro dos conectores da
antena do transponder".
No relatório, há referência
ainda a "problemas significativos" com o Legacy, antes do vôo
inicial. Os advogados citam falhas nos painéis do FMS (sistemas de gerenciamento de vôo),
um tendo apresentado problemas de navegação e outro deixando de indicar freqüências
durante o vôo-teste.
Uma das várias possíveis
causas do acidente foi justamente a falta de comunicação
por rádio entre o Cindacta-1 (o
centro de controle de tráfego
aéreo com sede em Brasília) e o
avião. Foram mais de 20 tentativas, sem sucesso, antes da colisão com o Boeing.
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