São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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Metrô de SP é mais lotado que o de Tóquio

Ocupação já atinge níveis até 50% acima do limite aceitável de conforto dos usuários, segundo dados da própria empresa

Na linha 3, os vagões passaram a receber, em 2007, 9 usuários por metro quadrado nos picos da manhã, contra 7,5 em 2005

Antônio Gaudério/Folha Imagem
Usuários esperam o fechamento das portas em vagões superlotados
da linha 3-vermelha, a mais populosa do mundo em número de
passageiros por quilômetro


ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI

DA REPORTAGEM LOCAL

JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A superlotação no metrô de São Paulo não pára de subir, já atinge níveis até 50% acima do limite aceitável de conforto dos usuários e já supera a situação das redes sobre trilhos mais movimentadas do mundo, como Tóquio e Moscou.
Na linha 3-vermelha (Leste/ Oeste), a mais movimentada da malha paulista, os vagões que, em 2005, acumulavam nos picos da manhã 7,5 passageiros por m2 passaram a receber 9 por m2 desde 2007, segundo dados do próprio metrô -embora, pela previsão, devessem abrigar no máximo 6 por m2.
Enquanto o metrô paulista teve em torno de 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha no último ano, em Tóquio a média foi de 8,3 milhões, segundo um levantamento do consultor Peter Alouche, que trabalhou mais de 30 anos no metrô de São Paulo.
A piora no aperto dentro dos trens se repete no restante do sistema e contribui com os atrasos dos mais de 2 milhões de clientes diários do metrô.
A Folha percorreu durante quatro dias, na última semana, um mesmo trajeto da zona leste à av. Paulista e comprovou alguns motivos da insatisfação.
Diante da superlotação nos vagões e nas plataformas, às vezes só é possível embarcar na sexta composição que passa por estações como Sé ou Carrão. E, por conta também de outros obstáculos, a demora da viagem nos horários de pico é até 60% superior ao normal.
Na linha 2-verde, a mais nobre do metrô de São Paulo, a velocidade média dos trens neste ano caiu quase 10%.
Já a linha 1-azul (Norte/Sul), a mais antiga, tem se sobressaído mesmo é por interferências na frota ou na via que prejudicam a circulação por mais de cinco minutos: ela é responsável por 75% desses casos, embora seja só um terço da rede.
Em janeiro de 2008, ocorreram quatro panes técnicas em menos de duas semanas.

Reprovação
O reflexo de deficiências como essas também pode ser lido na última pesquisa do Datafolha, que verificou uma piora significativa na avaliação que a população faz do metrô -transporte que sempre foi um orgulho do paulistano.
Enquanto os congestionamentos pioram e a expansão do sistema sobre trilhos é citada como uma das saídas, a malha do metrô nunca desagradou tanta gente, a ponto de a classificação dos que a consideram ruim ou péssima quase dobrar em quatro meses, de 8% para 15%, a mais alta taxa de reprovação no histórico da pesquisa.
É verdade que a aprovação segue predominante e com larga vantagem -54% de bom ou ótimo. Mas ela também é a pior desde 1997 e, quatro meses atrás, chegava a atingir 65%.
O levantamento do Datafolha, com 1.089 entrevistas e margem de erro de três pontos para mais ou para menos, foi realizado em 25 e 26 de março.
O resultado não surpreende técnicos, mas preocupa: tanto pelo desconforto dos usuários como pelo risco de incidentes/ acidentes como pela impossibilidade de melhoria significativa no curto prazo.
A principal explicação para a deterioração é a explosão do número de passageiros, motivada pela integração do bilhete único com os ônibus, aquecimento da economia e aumento da renda das classes baixas.
Em dois anos, a quantidade de usuários do metrô, que já estava saturado, saltou 19%. O resultado imediato é a superlotação dos vagões nos picos.
"Diminui a freqüência de manutenção para ter mais trens, ocorrem mais falhas. Estamos num caos porque a infra-estrutura não foi feita antes", afirma Manoel da Silva Ferreira Filho, presidente da Aeamesp (associação de engenheiros e arquitetos do metrô).
"O conforto diminuiu, mas, por outro lado, nunca tanta gente teve acesso a esse transporte", afirma Arnaldo Luís Santos Pereira, especialista e ex-diretor da companhia.
O presidente da Emplasa (empresa de planejamento metropolitano), Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos, afirma que a deterioração era "previsível" a partir da integração com os ônibus pelo bilhete único.
"Sabíamos que iria cair a qualidade do conforto. Mas, no balanço social, foi positivo", afirma ele, para quem é ilusória a idéia de que somente a construção de mais linhas de metrô resolveria a superlotação.
"É preciso discutir aceleradamente um uso do solo mais equilibrado", afirma ele, em referência à necessidade de aproximar as moradias dos locais de trabalho, evitando os trajetos diários de longas distâncias.
Embora o fenômeno "sardinha em lata" não seja exclusivo de São Paulo, o levantamento do consultor Peter Alouche mostra que a rede paulista está entre as mais cheias do mundo.
O patamar no último ano, em torno de 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha, esteve próximo do de Hong Kong (10,4 milhões) e acima do de Moscou (8,9 milhões), Tóquio (8,3 milhões), Paris (6,2 milhões), Nova York (3,1 milhões), Madrid (2,8 milhões) e Londres (2,3 milhões).


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