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Metrô de SP é mais lotado que o de Tóquio
Ocupação já atinge níveis até 50% acima do limite aceitável de conforto dos usuários, segundo dados da própria empresa
Na linha 3, os vagões passaram a receber, em 2007, 9 usuários por metro quadrado nos picos da manhã, contra 7,5 em 2005
Antônio Gaudério/Folha Imagem
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Usuários esperam o fechamento das portas em vagões superlotados da linha 3-vermelha, a mais populosa do mundo em número de passageiros por quilômetro
ALENCAR IZIDORO
EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A superlotação no metrô de
São Paulo não pára de subir, já
atinge níveis até 50% acima do
limite aceitável de conforto dos
usuários e já supera a situação
das redes sobre trilhos mais
movimentadas do mundo, como Tóquio e Moscou.
Na linha 3-vermelha (Leste/
Oeste), a mais movimentada da
malha paulista, os vagões que,
em 2005, acumulavam nos picos da manhã 7,5 passageiros
por m2 passaram a receber 9
por m2 desde 2007, segundo
dados do próprio metrô -embora, pela previsão, devessem
abrigar no máximo 6 por m2.
Enquanto o metrô paulista
teve em torno de 10 milhões de
passageiros por quilômetro de
linha no último ano, em Tóquio
a média foi de 8,3 milhões, segundo um levantamento do
consultor Peter Alouche, que
trabalhou mais de 30 anos no
metrô de São Paulo.
A piora no aperto dentro dos
trens se repete no restante do
sistema e contribui com os
atrasos dos mais de 2 milhões
de clientes diários do metrô.
A Folha percorreu durante
quatro dias, na última semana,
um mesmo trajeto da zona leste à av. Paulista e comprovou
alguns motivos da insatisfação.
Diante da superlotação nos
vagões e nas plataformas, às vezes só é possível embarcar na
sexta composição que passa
por estações como Sé ou Carrão. E, por conta também de
outros obstáculos, a demora da
viagem nos horários de pico é
até 60% superior ao normal.
Na linha 2-verde, a mais nobre do metrô de São Paulo, a
velocidade média dos trens
neste ano caiu quase 10%.
Já a linha 1-azul (Norte/Sul),
a mais antiga, tem se sobressaído mesmo é por interferências
na frota ou na via que prejudicam a circulação por mais de
cinco minutos: ela é responsável por 75% desses casos, embora seja só um terço da rede.
Em janeiro de 2008, ocorreram quatro panes técnicas em
menos de duas semanas.
Reprovação
O reflexo de deficiências como essas também pode ser lido
na última pesquisa do Datafolha, que verificou uma piora
significativa na avaliação que a
população faz do metrô
-transporte que sempre foi
um orgulho do paulistano.
Enquanto os congestionamentos pioram e a expansão do
sistema sobre trilhos é citada
como uma das saídas, a malha
do metrô nunca desagradou
tanta gente, a ponto de a classificação dos que a consideram
ruim ou péssima quase dobrar
em quatro meses, de 8% para
15%, a mais alta taxa de reprovação no histórico da pesquisa.
É verdade que a aprovação
segue predominante e com larga vantagem -54% de bom ou
ótimo. Mas ela também é a pior
desde 1997 e, quatro meses
atrás, chegava a atingir 65%.
O levantamento do Datafolha, com 1.089 entrevistas e
margem de erro de três pontos
para mais ou para menos, foi
realizado em 25 e 26 de março.
O resultado não surpreende
técnicos, mas preocupa: tanto
pelo desconforto dos usuários
como pelo risco de incidentes/
acidentes como pela impossibilidade de melhoria significativa
no curto prazo.
A principal explicação para a
deterioração é a explosão do
número de passageiros, motivada pela integração do bilhete
único com os ônibus, aquecimento da economia e aumento
da renda das classes baixas.
Em dois anos, a quantidade
de usuários do metrô, que já estava saturado, saltou 19%. O resultado imediato é a superlotação dos vagões nos picos.
"Diminui a freqüência de
manutenção para ter mais
trens, ocorrem mais falhas. Estamos num caos porque a infra-estrutura não foi feita antes",
afirma Manoel da Silva Ferreira Filho, presidente da Aeamesp (associação de engenheiros e arquitetos do metrô).
"O conforto diminuiu, mas,
por outro lado, nunca tanta
gente teve acesso a esse transporte", afirma Arnaldo Luís
Santos Pereira, especialista e
ex-diretor da companhia.
O presidente da Emplasa
(empresa de planejamento metropolitano), Jurandir Fernandes, ex-secretário dos Transportes Metropolitanos, afirma
que a deterioração era "previsível" a partir da integração com
os ônibus pelo bilhete único.
"Sabíamos que iria cair a qualidade do conforto. Mas, no balanço social, foi positivo", afirma ele, para quem é ilusória a
idéia de que somente a construção de mais linhas de metrô resolveria a superlotação.
"É preciso discutir aceleradamente um uso do solo mais
equilibrado", afirma ele, em referência à necessidade de aproximar as moradias dos locais de
trabalho, evitando os trajetos
diários de longas distâncias.
Embora o fenômeno "sardinha em lata" não seja exclusivo
de São Paulo, o levantamento
do consultor Peter Alouche
mostra que a rede paulista está
entre as mais cheias do mundo.
O patamar no último ano, em
torno de 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha,
esteve próximo do de Hong
Kong (10,4 milhões) e acima do
de Moscou (8,9 milhões), Tóquio (8,3 milhões), Paris (6,2
milhões), Nova York (3,1 milhões), Madrid (2,8 milhões) e
Londres (2,3 milhões).
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