São Paulo, segunda-feira, 21 de abril de 2008

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ARTHUR CANTALICE (1926 - 2008)

Jornalismo militante desde o armazém

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda não se sabe por quê, dias antes de morrer, Arthur Cantalice escreveu uma biografia em duas folhas batidas à máquina. Em que conta que tinha seis anos quando lia, "no chão da sala de jantar da nossa casa no Meyer, todos os jornais". Pois "desde garoto gostei de jornalismo".
Aluno do colégio militar no Rio, onde nasceu, criou o clube de leitura de jornais, além de escrever, à mão, o jornalzinho. Quando não escrevia, certeza, era porque a bola corria na quadra do colégio. "Era América roxo."
Começou como auxiliar de escritório e logo entrou para o Porto do Rio, onde foi ser conferente, checando as cargas nos armazéns. Em pouco tempo estava na liderança da União dos Portuários do Brasil, onde, "com grande apoio de massa", fez uma greve atrás da outra. Mas com a eclosão da ditadura, concluiu que "a gorilada golpista não gostou nada disso", pois foi demitido, processado, condenado a três anos e preso por nove meses -"com tortura nos oito primeiros dias".
Foi redator e repórter do "Última Hora" e há 20 anos escrevia para o "Correio da Lavoura". Foi ainda conselheiro da ABI (Associação Brasileira de Imprensa) e diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, onde montava o Jornal Mural. Em todas as edições, trazia a máxima: "Jornalismo é oposição. O resto é armazém de secos e molhados". Tinha três filhos e três netos. Morreu de infarto, em uma reunião da ABI, na terça, aos 81 anos.

obituario@folhasp.com.br

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