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ARTHUR CANTALICE (1926 - 2008)
Jornalismo militante desde o armazém
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ainda não se sabe por quê,
dias antes de morrer, Arthur
Cantalice escreveu uma biografia em duas folhas batidas
à máquina. Em que conta
que tinha seis anos quando
lia, "no chão da sala de jantar
da nossa casa no Meyer, todos os jornais". Pois "desde
garoto gostei de jornalismo".
Aluno do colégio militar
no Rio, onde nasceu, criou o
clube de leitura de jornais,
além de escrever, à mão, o
jornalzinho. Quando não escrevia, certeza, era porque a
bola corria na quadra do colégio. "Era América roxo."
Começou como auxiliar de
escritório e logo entrou para
o Porto do Rio, onde foi ser
conferente, checando as cargas nos armazéns. Em pouco
tempo estava na liderança da
União dos Portuários do Brasil, onde, "com grande apoio
de massa", fez uma greve
atrás da outra. Mas com a
eclosão da ditadura, concluiu
que "a gorilada golpista não
gostou nada disso", pois foi
demitido, processado, condenado a três anos e preso
por nove meses -"com tortura nos oito primeiros dias".
Foi redator e repórter do
"Última Hora" e há 20 anos
escrevia para o "Correio da
Lavoura". Foi ainda conselheiro da ABI (Associação
Brasileira de Imprensa) e diretor do Sindicato dos Jornalistas do Rio, onde montava o
Jornal Mural. Em todas as
edições, trazia a máxima:
"Jornalismo é oposição. O
resto é armazém de secos e
molhados". Tinha três filhos
e três netos. Morreu de infarto, em uma reunião da ABI,
na terça, aos 81 anos.
obituario@folhasp.com.br
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