|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Armazenamento de armas terá nova lei, afirma secretário
Chefe da pasta nacional de Segurança Pública, Balestreri vê risco no estoque de verdadeiro arsenal em fóruns criminais
Só nos fóruns de São Paulo, há quase 240 mil armas ligadas a processos; a maioria está em condições precárias de segurança
DO ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA (ES)
DA REPORTAGEM LOCAL
DE BUENOS AIRES
O secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Brisolla Balestreri, cuja pasta responde ao Ministério da Justiça,
afirmou que o governo federal
vai buscar modificações da legislação sobre o armazenamento de armas de fogo ligadas aos
processos judiciais no país.
Conforme a Folha revelou
ontem, nos 678 fóruns de São
Paulo há um arsenal de quase
240 mil armas armazenadas.
Na maioria dos prédios, o estoque é feito em condições precárias. A Justiça paulista não tem
locais exclusivos (raras são as
exceções) para o depósito nem
vigilantes suficientes. "O acúmulo de armas, em quaisquer
circunstâncias, inclusive nessa,
é de um profundo risco virtual
e pode se transformar num risco real", afirmou o secretário.
Pela legislação brasileira, os
juízes são obrigados a guardar
esse armamento até o processo
tramitar por todas as instâncias e não haver mais nenhuma
possibilidade de recurso (transitado em julgado). Em média,
os processos duram cinco anos.
Balestreri disse que vai procurar a Secretaria de Assuntos
Legislativos, também subordinada ao Ministério da Justiça,
para ambos formularem um
pedido de alteração legislativa.
"É uma das coisas ilógicas
nesse país. Ela [a legislação]
tem um caráter muito mais burocrático do que técnico", disse. "Podíamos resolver essa
questão fazendo um registro
formal, um detalhamento das
conclusões tiradas a partir do
processo da apreensão, e liberar a arma. Por que nós precisamos ficar com a arma presa?"
As declarações do secretário
foram dadas à reportagem durante o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado no
início do mês em Vitória, quando a Folha apurava as informações publicadas ontem.
A Justiça Federal também
enfrenta problemas com armas
ligadas a processos. Segundo o
Ministério Público Federal, há
1.141 armas sob a custódia do
Exército só em São Paulo. Algumas delas estão guardadas
há mais de 20 anos por falta de
"informações sobre o processo
a que estejam vinculadas".
O MPF pediu providências
ao CNJ (Conselho Nacional de
Justiça), que abriu processo,
ainda em tramitação, "para regulamentar a custódia e controle de armas de fogo apreendidas em processos judiciais".
Na Argentina, em 2004, após
uma série de roubos e furtos a
depósitos, o governo implementou uma legislação para facilitar o armazenamento e destruição das armas. Pela norma,
o material apreendido, após ser
catalogado, deve ser enviado ao
Renar (Registro Nacional de
Armas), órgão do governo.
A destruição é obrigatória
em caso de confisco por força
de sentença judicial (que não
precisa ser definitiva) ou resolução administrativa final.
A lei 25.938, aprovada na
gestão Néstor Kirchner (2003-2007), ainda dá seus primeiros
passos. Das 23 Províncias do
país, que têm autonomia para
definir o destino das armas,
apenas dez aderiram à lei.
Além disso, o Renar não tem
a infraestrutura para armazenar todas as armas usadas em
crimes no país e disponibilizá-las rapidamente à Justiça em
caso de solicitação. "É um sistema novo que o Renar está
tratando de azeitar", afirmou
José Rubén Castro, secretário
da unidade do Ministério Público Federal. Enquanto isso, a
maioria das armas continua armazenada em tribunais ou unidades policiais.
(ROGÉRIO PAGNAN, ANDRÉ CARAMANTE E THIAGO GUIMARÃES)
O repórter ROGÉRIO PAGNAN viajou a Vitória a
convite da organização do Fórum de Segurança
Texto Anterior: Irmão diz que pena foi perfeita e que agora pode seguir em frente Próximo Texto: Frase Índice
|