São Paulo, terça-feira, 21 de abril de 2009

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Armazenamento de armas terá nova lei, afirma secretário

Chefe da pasta nacional de Segurança Pública, Balestreri vê risco no estoque de verdadeiro arsenal em fóruns criminais

Só nos fóruns de São Paulo, há quase 240 mil armas ligadas a processos; a maioria está em condições precárias de segurança


DO ENVIADO ESPECIAL A VITÓRIA (ES)
DA REPORTAGEM LOCAL
DE BUENOS AIRES

O secretário nacional de Segurança Pública, Ricardo Brisolla Balestreri, cuja pasta responde ao Ministério da Justiça, afirmou que o governo federal vai buscar modificações da legislação sobre o armazenamento de armas de fogo ligadas aos processos judiciais no país.
Conforme a Folha revelou ontem, nos 678 fóruns de São Paulo há um arsenal de quase 240 mil armas armazenadas.
Na maioria dos prédios, o estoque é feito em condições precárias. A Justiça paulista não tem locais exclusivos (raras são as exceções) para o depósito nem vigilantes suficientes. "O acúmulo de armas, em quaisquer circunstâncias, inclusive nessa, é de um profundo risco virtual e pode se transformar num risco real", afirmou o secretário.
Pela legislação brasileira, os juízes são obrigados a guardar esse armamento até o processo tramitar por todas as instâncias e não haver mais nenhuma possibilidade de recurso (transitado em julgado). Em média, os processos duram cinco anos.
Balestreri disse que vai procurar a Secretaria de Assuntos Legislativos, também subordinada ao Ministério da Justiça, para ambos formularem um pedido de alteração legislativa.
"É uma das coisas ilógicas nesse país. Ela [a legislação] tem um caráter muito mais burocrático do que técnico", disse. "Podíamos resolver essa questão fazendo um registro formal, um detalhamento das conclusões tiradas a partir do processo da apreensão, e liberar a arma. Por que nós precisamos ficar com a arma presa?"
As declarações do secretário foram dadas à reportagem durante o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado no início do mês em Vitória, quando a Folha apurava as informações publicadas ontem.
A Justiça Federal também enfrenta problemas com armas ligadas a processos. Segundo o Ministério Público Federal, há 1.141 armas sob a custódia do Exército só em São Paulo. Algumas delas estão guardadas há mais de 20 anos por falta de "informações sobre o processo a que estejam vinculadas".
O MPF pediu providências ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que abriu processo, ainda em tramitação, "para regulamentar a custódia e controle de armas de fogo apreendidas em processos judiciais".
Na Argentina, em 2004, após uma série de roubos e furtos a depósitos, o governo implementou uma legislação para facilitar o armazenamento e destruição das armas. Pela norma, o material apreendido, após ser catalogado, deve ser enviado ao Renar (Registro Nacional de Armas), órgão do governo.
A destruição é obrigatória em caso de confisco por força de sentença judicial (que não precisa ser definitiva) ou resolução administrativa final.
A lei 25.938, aprovada na gestão Néstor Kirchner (2003-2007), ainda dá seus primeiros passos. Das 23 Províncias do país, que têm autonomia para definir o destino das armas, apenas dez aderiram à lei.
Além disso, o Renar não tem a infraestrutura para armazenar todas as armas usadas em crimes no país e disponibilizá-las rapidamente à Justiça em caso de solicitação. "É um sistema novo que o Renar está tratando de azeitar", afirmou José Rubén Castro, secretário da unidade do Ministério Público Federal. Enquanto isso, a maioria das armas continua armazenada em tribunais ou unidades policiais. (ROGÉRIO PAGNAN, ANDRÉ CARAMANTE E THIAGO GUIMARÃES)

O repórter ROGÉRIO PAGNAN viajou a Vitória a convite da organização do Fórum de Segurança


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