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EDUCAÇÃO
Se nada for feito, gasto com inativo deve inviabilizar orçamento de instituições, concordam reitores, professores e governo
Aposentadorias estrangulam universidade
ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se nada for feito no atual modelo de financiamento e distribuição
das verbas das universidades públicas de São Paulo -USP, Unesp
e Unicamp-, os pagamentos de
aposentadorias inviabilizarão os
orçamentos nos próximos anos.
Reitores, professores, consultores e o governo discordam sobre
as possíveis soluções para o que
definem como o principal problema financeiro das universidades,
mas são unânimes em dizer que
as pensões e aposentadorias vão
engessar o orçamento, que, em
pouco tempo, não será mais suficiente para cobrir os gastos com
ativos, inativos, custeio e dívidas.
O comprometimento das verbas com pessoal se mantém entre
80% e 90% nesta década, mas a
participação das aposentadorias
nesse bolo, entre 1996 e 1999, cresceu, enquanto que o comprometimento com ativos caiu.
Um dos fatores que contribuíram para esse quadro foi a aprovação da reforma previdenciária,
que terminou com a aposentadoria especial dos professores universitários (25 anos de serviço).
Na USP (Universidade de São
Paulo), o peso dos funcionários
inativos subiu de 23% para 25%
(o que equivale a um crescimento
de 9%), e o dos ativos caiu 6%. Na
Unicamp (Universidade Estadual
de Campinas), a participação relativa dos inativos subiu 60%, e a
dos ativos caiu 5%. Na Unesp
(Universidade Estadual Paulista),
a fatia dos aposentados cresceu
53%, e a dos ativos caiu 11%.
Redução do corpo docente
E o gasto tende a aumentar, porque o corpo docente está envelhecendo. Na USP, por exemplo, a
média etária é de 47 anos. Isso significa mais gratificações por tempo de serviço, mais titulação e
uma avalanche de aposentadorias
nos próximos dez anos.
Hoje as universidades têm um
corpo docente até 14% menor em
comparação com o começo da
década, mas gastam a mesma coisa com a folha de pagamento.
"Isso é reflexo das aposentadorias. Os professores que ficaram
ganham mais", disse o presidente
do conselho de reitores, Jacques
Marcovitch, reitor da USP.
Em média, os professores, depois de 30 anos de dedicação ao
ensino público, se aposentam
com R$ 6.000 de pensão. Um novo professor doutor para repor a
vaga entra ganhando R$ 3.000.
De quem é a culpa?
"A culpa não é dos aposentados,
que contribuíram a vida toda. Todos mês, 12% são descontados do
salário para a Previdência estadual", disse o vice-presidente da
Adusp (Associação dos Docentes
da USP), Francisco Miraglia.
A Previdência estadual gasta R$
6 bilhões anuais e arrecada R$ 600
milhões. As universidades acabam pagando seus aposentados
com o dinheiro do orçamento.
"Assim o Estado desvirtua a
obrigação constitucional de gastar o mínimo de 30% com educação, porque temos aí Previdência
camuflada na verba para o ensino", argumenta Miraglia.
"Além disso, esse raciocínio de
fluxo de caixa, o que entra paga o
que sai, é enganador. O trabalhador contribui por 30 anos. Esse dinheiro cria uma poupança que,
bem administrada, estaria pagando as aposentadorias e rendendo
investimentos", disse.
Para o ex-secretário estadual da
Administração Fernando Carmona, a contribuição é baixa para
manter os níveis salariais do funcionalismo, que se aposenta com
salário integral.
Projeto de reforma
Em 1999, o governo enviou à
Assembléia Legislativa projeto de
reforma da Previdência. Mas ele
está parado devido a liminar do
STF (Supremo Tribunal Federal).
Carmona não soube apontar
dados específicos para as universidades, mas citou projeção feita
pelo governo no ano passado:
"Em 2005, o Estado já estaria em
situação muito difícil, gastando
R$ 1 por inativo para cada real pago com ativo. Em 2015 seria o
caos, com R$ 2 para inativos a cada real pago aos ativos".
"A saída é sempre a mais fácil:
fazer a classe média pagar mais. O
governo teria que pagar, já que recebeu as contribuições, e ainda
combater a sonegação, que é escandalosa", disse Miraglia.
Analisando dados das universidades, o advogado Newton Conde, especialista em Previdência, e
o professor de gestão pública da
Faculdade de Economia e Administração da USP Hélio Teixeira,
foram taxativos: "Não se sustenta", disse Conde. "Vai quebrar",
afirmou Teixeira.
Marcovitch também apresenta
as aposentadorias como o principal problema. "Mas não tenho
uma saída pronta. É uma questão
a ser discutida com o Estado."
Enquanto isso, a greve das universidades já se aproxima do primeiro mês (começou em 25 de
abril). Por enquanto, os 9.776
professores e 32.170 funcionários
pedem 25% de reajuste e um gatilho de automático a cada vez que
a inflação acumulada chegar a
5%. Os reitores dizem que não
têm dinheiro e oferecem 7% de
reajuste agora e 3,75% em janeiro.
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