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Eles compram tudo pela rede
ROBERTO DE OLIVEIRA
CLAUDIA BEXIGA
DA REVISTA
Com a agilidade de um lutador
de videogame, o estudante Nêriton Josué Pires de Castro, 18, navegava pela Internet à procura de
jogos eletrônicos quando descobriu uma oferta inusitada: um
avestruz da raça pescoço azul. O
clique foi certeiro: Nêriton arrematou o bicho por R$ 620, o negócio mais insólito de sua vida.
"Eu tinha pensado em criar
avestruz há algum tempo. Quando vi que estava tão barato na Internet, decidi comprar na hora",
conta Nêriton.
Verdadeira febre nos EUA, os
sites de leilão estão ganhando espaço entre consumidores e empresas brasileiras, ampliando o leque de ofertas e produtos juntamente com as lojas on line.
Por aqui, já são cerca de 30 sites,
a maioria criada em 99, no rastro
do estrondoso sucesso do e-Bay,
site pioneiro de pechincha on line,
lançado em 1995 e que tem hoje
mais de 7 milhões de usuários.
A possibilidade de dar lances
virtuais está atraindo pessoas que
nunca se interessaram por leilões.
O dentista Luís Montero, 40, entrou pela primeira vez em um em
agosto passado, para vender uma
cadeirinha que o filho não usava,
e logo tornou-se um profissional.
Mesmo com um promissor
consultório no ABC paulista, ele
engorda o orçamento comprando
e vendendo pela rede. "Quando
entro num produto (em leilão), já
param de dar lance porque sabem
que sou eu que vou comprar."
Os sites de leilão classificam
seus compradores e vendedores
com pontos, conforme o grau de
satisfação obtido nas transações.
Se o comprador ficou satisfeito,
dá um ponto positivo para o vendedor. Se a mercadoria não era
bem a prometida ou o prazo foi
desrespeitado, o ponto é negativo.
"Os sites de vendas oferecem
serviços que acabam atendendo a
um misto de desejo e impulso de
compra", diz o professor universitário aposentado Sérgio Barroso, 55, de Brasília. No início do
mês, ele andava em busca de um
livro e de um aparelho GPS (de localização por satélite), para instalar num veleiro. Acabou comprando, "sem querer", um automóvel Mercedes-Benz. Sérgio não
tem medo de fazer operações on
line. "Conheço bem a rede, inclusive seus métodos de segurança."
É exatamente a confiabilidade o
mote das empresas de comércio
eletrônico no Brasil e no mundo.
"A cada dia vai aumentar o número de ofertas, de lojas virtuais. O
desafio é transpor a similaridade
do mundo real para o virtual", diz
o professor da Fundação Getúlio
Vargas Alberto Luiz Albertin, 47,
especialista em e-commerce.
Para ele, garantida a segurança
do usuário, as vantagens oferecidas pela possibilidade de comprar
sem sair da cadeira -simplicidade, variedade e rapidez- são um
chamariz poderoso e tendem a favorecer as compras impulsivas.
"O consumo já foi há muito
tempo desvinculado das necessidades básicas individuais. A Internet dispõe de potencial para incrementar o consumo compulsivo e impulsivo", alerta o psiquiatra Roberto Brito Sassi, 28.
É o caso do empresário Ronaldo
Herszelhaut, 31. "Por impulso,
comprei um sonorizador artificial, que imita o barulho de cachoeiras, praia e coração de bebê.
Está lá, encostado até hoje".
A sedução da Internet não significa, porém, que os consumidores
virtuais são menos exigentes. "É
muito fácil trocar de fornecedor
na Internet. Se o produto não chegou no prazo combinado, ele muda de loja com um clique", diz
André Sapoznik, 28, presidente
da E-Bit, site de consultas de lojas
que fazem comércio eletrônico.
Nos EUA, onde as operações de
compra e venda representam
28% de todas as operações na Internet (contra 2% no Brasil), a tolerância é zero, dizem as pesquisas. Se enfrenta algum problema
com a compra, o consumidor não
volta mais.
A rede é um instrumento precioso para o consumidor masculino, normalmente avesso a frequentar lojas e fazer compras,
mas o cenário vai mudar quando
as mulheres assumirem o controle do mouse. Atualmente, homens são maioria absoluta entre
os consumidores virtuais. Mas a
tendência é que as mulheres sejam responsáveis por 50% do movimento até o final de 2001. Aí, a
festa vai ser pra valer.
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