São Paulo, domingo, 21 de maio de 2000


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Eles compram tudo pela rede

ROBERTO DE OLIVEIRA
CLAUDIA BEXIGA

DA REVISTA

Com a agilidade de um lutador de videogame, o estudante Nêriton Josué Pires de Castro, 18, navegava pela Internet à procura de jogos eletrônicos quando descobriu uma oferta inusitada: um avestruz da raça pescoço azul. O clique foi certeiro: Nêriton arrematou o bicho por R$ 620, o negócio mais insólito de sua vida.
"Eu tinha pensado em criar avestruz há algum tempo. Quando vi que estava tão barato na Internet, decidi comprar na hora", conta Nêriton.
Verdadeira febre nos EUA, os sites de leilão estão ganhando espaço entre consumidores e empresas brasileiras, ampliando o leque de ofertas e produtos juntamente com as lojas on line.
Por aqui, já são cerca de 30 sites, a maioria criada em 99, no rastro do estrondoso sucesso do e-Bay, site pioneiro de pechincha on line, lançado em 1995 e que tem hoje mais de 7 milhões de usuários.
A possibilidade de dar lances virtuais está atraindo pessoas que nunca se interessaram por leilões. O dentista Luís Montero, 40, entrou pela primeira vez em um em agosto passado, para vender uma cadeirinha que o filho não usava, e logo tornou-se um profissional.
Mesmo com um promissor consultório no ABC paulista, ele engorda o orçamento comprando e vendendo pela rede. "Quando entro num produto (em leilão), já param de dar lance porque sabem que sou eu que vou comprar."
Os sites de leilão classificam seus compradores e vendedores com pontos, conforme o grau de satisfação obtido nas transações. Se o comprador ficou satisfeito, dá um ponto positivo para o vendedor. Se a mercadoria não era bem a prometida ou o prazo foi desrespeitado, o ponto é negativo.
"Os sites de vendas oferecem serviços que acabam atendendo a um misto de desejo e impulso de compra", diz o professor universitário aposentado Sérgio Barroso, 55, de Brasília. No início do mês, ele andava em busca de um livro e de um aparelho GPS (de localização por satélite), para instalar num veleiro. Acabou comprando, "sem querer", um automóvel Mercedes-Benz. Sérgio não tem medo de fazer operações on line. "Conheço bem a rede, inclusive seus métodos de segurança."
É exatamente a confiabilidade o mote das empresas de comércio eletrônico no Brasil e no mundo. "A cada dia vai aumentar o número de ofertas, de lojas virtuais. O desafio é transpor a similaridade do mundo real para o virtual", diz o professor da Fundação Getúlio Vargas Alberto Luiz Albertin, 47, especialista em e-commerce.
Para ele, garantida a segurança do usuário, as vantagens oferecidas pela possibilidade de comprar sem sair da cadeira -simplicidade, variedade e rapidez- são um chamariz poderoso e tendem a favorecer as compras impulsivas.
"O consumo já foi há muito tempo desvinculado das necessidades básicas individuais. A Internet dispõe de potencial para incrementar o consumo compulsivo e impulsivo", alerta o psiquiatra Roberto Brito Sassi, 28.
É o caso do empresário Ronaldo Herszelhaut, 31. "Por impulso, comprei um sonorizador artificial, que imita o barulho de cachoeiras, praia e coração de bebê. Está lá, encostado até hoje".
A sedução da Internet não significa, porém, que os consumidores virtuais são menos exigentes. "É muito fácil trocar de fornecedor na Internet. Se o produto não chegou no prazo combinado, ele muda de loja com um clique", diz André Sapoznik, 28, presidente da E-Bit, site de consultas de lojas que fazem comércio eletrônico.
Nos EUA, onde as operações de compra e venda representam 28% de todas as operações na Internet (contra 2% no Brasil), a tolerância é zero, dizem as pesquisas. Se enfrenta algum problema com a compra, o consumidor não volta mais.
A rede é um instrumento precioso para o consumidor masculino, normalmente avesso a frequentar lojas e fazer compras, mas o cenário vai mudar quando as mulheres assumirem o controle do mouse. Atualmente, homens são maioria absoluta entre os consumidores virtuais. Mas a tendência é que as mulheres sejam responsáveis por 50% do movimento até o final de 2001. Aí, a festa vai ser pra valer.


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