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FILANTROPIA
Sem certificado, entidades devem perder isenção previdenciária
Conselho nega 33% das renovações
RAQUEL LIMA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Dos 894 pedidos de renovação
do Certificado de Entidade de
Fins Filantrópicos feitos no ano
passado, 292 (32,6%) foram indeferidos. As entidades que atuam
nas áreas da educação e da saúde
representam, juntas, 58,9% dos
casos de indeferimento, de acordo com o CNAS (Conselho Nacional de Assistência Social).
O principal motivo é o não-cumprimento das obrigações.
Foram 95 indeferimentos no setor da educação e 77 na área da
saúde, segundo o CNAS.
As entidades de assistência social foram responsáveis por
30,4% dos indeferimentos.
Todas as 292 entidades possuem isenção previdenciária concedida pelo INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) para a
parcela patronal e devem perder o
benefício. Elas podem recorrer do
indeferimento duas vezes ao
CNAS, uma vez ao Ministério da
Previdência e, por fim, à Justiça.
De acordo com o decreto 2.536,
que dispõe sobre a concessão do
certificado, as entidades filantrópicas devem aplicar, anualmente,
pelo menos 20% da receita bruta
em gratuidade. Já as entidades da
área da saúde têm de comprovar
que pelo menos 60% dos atendimentos foram realizados por
meio de convênio com o SUS (Sistema Único de Saúde). "Essas entidades não conseguiram comprovar que cumpriram o decreto.
Algumas não cumprem porque
não conseguem, outras porque
não querem", disse o presidente
da CNAS, Antônio Brito, 34.
Neste ano, até o mês de abril,
dos 74 pedidos de renovação do
certificado, 16 (21,6%) foram indeferidos, sendo dez na área da
educação e um na da saúde.
O Brasil possui hoje 6.775 entidades filantrópicas, das quais
4.117 (60,7%) possuem isenção
previdenciária do INSS, segundo
o CNAS. São Paulo concentra
2.335 entidades filantrópicas, ou
seja, 34,5% do total no Brasil.
Além das entidades filantrópicas, as renúncias previdenciárias
são concedidas a segurados especiais (pequenos produtores rurais), a empresas inscritas no Simples (sistema de imposto simplificado), a empregadores rurais e
domésticos e a clubes de futebol
profissional. Neste ano, o INSS
deixará de arrecadar R$ 9,2 bilhões devido a essas renúncias.
Em 2001, o total chegou a R$ 8,3
bilhões. O déficit do órgão neste
ano está estimado entre R$ 16 bilhões e R$ 17 bilhões. A assessoria
do INSS não respondeu às ligações da Folha ontem.
Outro lado
O superintendente da Confederação das Santas Casas, Hospitais
e Entidades Filantrópicas, José
Luiz Spigolon, 53, atribuiu a três
aspectos a dificuldade das filantrópicas do setor de cumprirem a
determinação do decreto.
A primeira delas é a queda do
número de internações pelo SUS
-de 14,9 milhões em 95 para 11,9
milhões em 2000. "O segundo
problema é que, em muitas regiões, a questão política interfere e
os gestores [municípios e Estados" compram os serviços das entidades privadas, passando por cima das filantrópicas", afirmou.
A terceira dificuldade, segundo
ele, é a falta de demanda. "Com as
ações preventivas, a demanda da
população não chega a 60%."
A Folha procurou o reitor da
PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica) e presidente da Abruc
(Associação Brasileira das Universidades Comunitárias), Antonio Carlos Ronca, mas ele informou, por meio de sua assessoria,
que não poderia atender à reportagem ontem.
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