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ADMINISTRAÇÃO
Tribunal de Contas alerta desde 2001 que município paga sem fiscalizar; último ofício foi em 23 de março
Prefeitura sabe de desvios no lixo há 3 anos
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
A Prefeitura de São Paulo sabe
desde 2001 -primeiro ano de governo de Marta Suplicy (PT)-
que há falhas na fiscalização da
limpeza urbana e que, por causa
delas, o governo não tem como
atestar que o serviço pago foi realmente realizado pelas empresas.
O alerta foi formalmente feito
pelo Tribunal de Contas do Município (TCM) em quatro auditorias
anuais realizadas nos quatro anos
da gestão petista. A última delas
foi concluída e encaminhada ao
Limpurb (Departamento de Limpeza Urbana) em 23 de março.
O órgão tinha 15 dias para dar
explicações sobre as falhas detectadas, mas pediu mais prazo e até
ontem não havia se manifestado.
Em anos anteriores, o Limpurb
sempre prometeu ações, mas
-até março- elas não haviam
revertido totalmente o cenário de
descontrole dos serviços.
Na auditoria deste ano o TCM
admite que os procedimentos de
fiscalização estão melhores, mas
repete uma frase que usa há quatro anos nas análises da varrição:
"a disparidade no número de fiscalizações de cada administração
regional [a divisão dos contratos
ainda não é por subprefeitura]
impede o Limpurb de atestar com
segurança que os serviços contratados [e pagos] foram efetivamente executados na cidade".
A crítica está na mesma auditoria que a prefeitura divulgou parcialmente anteontem para provar
que serviços e fiscalização são eficientes. Somada aos documentos
recolhidos pelo Ministério Público -e que vieram à tona ontem-, a constatação do TCM traça um cenário complicado na gestão do dinheiro público.
De um lado, o tribunal afirma
repetidas vezes que a prefeitura
fiscaliza pouco e mal, pagando
por serviços que não tem certeza
que lhe foram prestados.
De outro, a Promotoria sustenta
que, nas poucas vezes que a máquina funciona, membros da administração municipal fraudam
os documentos produzidos pelos
fiscais e desaparecem com as irregularidades cometidas pelas empresas.
Ao final desse processo, R$ 300
milhões são entregues anualmente às empreiteiras do lixo. Testemunhas que relatam a existência
de fraudes dizem que 30% desse
dinheiro foi pago a serviços não
realizados. Monitoramente feito
pela Datafolha, no entanto, indicou que a não-execução chegou a
64% em maio de 2001.
Fiscalização zero
É exatamente de maio um dos
relatórios incluídos na auditoria
do TCM em 2001. Os técnicos pediram que a prefeitura exibisse todos os Boletins de Inspeção de
Serviços de Limpeza Urbana
(BIS) feitos para a varrição. O governo entregou 2.965 deles, referentes a 3.646 ruas -11,13% do
previsto nos contratos.
O montante, porém, se distribuía com tremenda irregularidade entre as administrações regionais. Em algumas não havia ocorrido nenhuma fiscalização. Em
outras, segundo os BIS, 44,52%
das ruas teriam sido checadas.
Multas mesmo, só em três regionais -Santo Amaro, Freguesia do Ó e Pirituba. No mesmo período, porém, a não-execução dos
serviços chegou a 64% em alguns
trechos, segundo a análise do Datafolha. A não-execução apontada pelo instituto foi constatada
em regionais nas quais a prefeitura atestou integralmente os serviços e pagou por eles.
A falta de critério na fiscalização
é uma das principais críticas feitas
pelo TCM à administração da
limpeza urbana. "Não há um limite mínimo de vistorias para
que a fiscalização possa de fato
servir de suporte aos pagamentos
nem uma forma clara de definição da amostra a fiscalizar", escrevem os técnicos. Portanto, "a prefeitura não tem como contestar
denúncias de não-execução dos
serviços, pois não dispõe de sistema eficaz de controle", finalizam.
No mês anterior -abril- a situação foi pior. O TCM constatou
que não havia nenhum boletim de
fiscalização em 26 das 27 regionais. Apesar da inexistência de checagem, o serviço
foi atestado como feito satisfatoriamente e pago. O governo nunca esclareceu -nem ao TCM durante três anos nem à Folha ontem- o que houve naquele mês.
Ontem, em busca de provas de
falhas e fraudes na varrição, a Promotoria apreendeu centenas de
processos no arquivo central da
prefeitura. Cumprida com ordem
judicial, a operação começou anteontem e deve continuar hoje.
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