São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Por falta de espaço, Polícia Civil põe presos em caminhão-baú

Dois detentos ficaram no assoalho do veículo, vigiados por investigadores armados do lado de fora, em Ribeirão Preto

Situação só foi resolvida após reunião entre secretários de Estado, que decidiram pela transferência de 28 presos para presídios da região

ROBERTO MADUREIRA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Por falta de espaço em carceragens, a Polícia Civil de Ribeirão Preto improvisou ontem um caminhão-baú como cela para abrigar presos. Dois detentos ficaram sentados no assoalho do baú, vigiados por investigadores armados do lado de fora -a porta ficou aberta.
A medida durou menos de 24 horas e só foi resolvida após a intervenção de dois secretários de Estado. Ronaldo Marzagão (Segurança Pública) se reuniu duas vezes, de manhã e à tarde, com Antonio Ferreira Pinto (Administração Penitenciária).
A Secretaria da Segurança Pública é a responsável pelas cadeias e a da Administração Penitenciária, pelos presídios.
Assim, o caminhão foi removido e a polícia obteve autorização para transferir 28 presos das carceragens da DIG (Delegacia de Investigações Gerais) e do 2º Distrito Policial para presídios da região. Eles ocupam um espaço usado, no passado, para abrigar três pessoas. A transferência ocorrerá hoje.
As carceragens haviam sido desativadas pela Justiça em 2007, mas voltaram a ser usadas depois de 11 de abril, quando o CDP (Centro de Detenção Provisória) de Ribeirão foi interditado após rebelião que destruiu o prédio e deixou dois presos mortos. Segundo carcereiros, os dois ocupantes do caminhão-baú foram presos na madrugada. O veículo tem janelas, mas não possui cadeiras.
Para ir ao banheiro, os presos tinham que deixar o local.
A decisão inédita de transformar um caminhão em cela foi tomada pelo delegado da DIG, Ariovaldo Torrieri Júnior, depois de alertas da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de que as condições na carceragem não eram propícias à vida humana -havia superlotação, celas sem banheiro e restos de comida pelo chão. O delegado não quis comentar o caso.
Segundo o diretor do Deinter 3 (Departamento da Polícia Judiciária do Interior), George Millard, o comando da Polícia Civil não participou da decisão de improvisar o veículo. "Foi uma atitude pontual e provisória. Não foi recomendado, mas, muito a contragosto, esgotamos nossas opções", afirmou.
Ele disse que a Secretaria de Administração Penitenciária disponibilizou 35 vagas, que serão suficientes também para abrigar sete detentos da Cadeia Pública de Igarapava, reativada após a rebelião no CDP e também superlotada (tem 24 vagas e abriga 54 presos).
Segundo João Rinaldo Machado, presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo, todas as cadeias do interior operam com 70% a 120% de superlotação. A SAP não divulga números por unidade prisional. O coordenador regional da Defensoria Pública de Ribeirão, Victor Hugo Albernaz, disse que a situação é resultado da demora da inauguração do CDP de Serra Azul, na região.


Colaborou GEORGE ARAVANIS, da Folha Ribeirão


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