São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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Em televisões, rádios, on-lines e até no Congresso, incêndio virou acidente aéreo

DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

O incêndio na zona sul de São Paulo foi inicialmente noticiado como um acidente aéreo. A primeira emissora de TV a dar a "barriga" (no jargão jornalístico, informação incorreta) foi a Globo News. A falsa notícia foi imediatamente reproduzida por outras TVs, rádios e sites -inclusive a Folha Online, que a atribuiu ao canal da Globo.
A "barriga" rapidamente repercutiu no Congresso. O deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) interrompeu a sessão da CPI dos Cartões, às 17h19, para dar "uma comunicação bastante grave e muito triste" aos colegas e lamentar o "caos no tráfego aéreo", em transmissão ao vivo por Record News e Band News.
A presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS) lamentou a "informação terrível" e deu a palavra ao deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Ele disse que torcia para que os danos tivessem sido "menores tanto para os que estavam no avião quanto para os que estavam nos prédios".
A Globo News noticiou o falso acidente, com imagens aéreas da fumaça, às 17h17. Disse que um avião ATR da Pantanal Linhas Aéreas acabara de se chocar com um prédio em São Paulo. Desmentiu a história cinco minutos depois, às 17h22. A Band News deu a "notícia" segundos depois. A Record News noticiou às 17h19.

TVs abertas
Das emissoras abertas, a Record foi a única, às 17h26, a dar a "barriga". Globo e Band decidiram esperar pela checagem e só noticiaram o incêndio no depósito de colchões. No ar mais cedo, José Luís Datena (Band) se vangloriou do feito.
A Record News e a Record acusaram a Defesa Civil de ser a fonte. Pouco depois das 18h, a Record News colocou no ar, por telefone, o coordenador da Defesa Civil, Jair Pacca de Lima, confirmando que a primeira informação que o órgão recebera tinha sido a de acidente aéreo.
A falsa informação teria nascido quando um piloto da Pantanal, que pousava em Congonhas, avisara a torre sobre um incêndio na rota de pouso. A informação teria sido confundida com um acidente envolvendo um avião da companhia.
A Globo News não revelou a fonte. "A Globo News recebeu as informações incorretas de fontes até então confiáveis, mas não acha correto nomear fontes para se eximir de um tipo de erro que, embora condenável, pode acontecer em transmissões desse tipo", justificou em nota.
O canal relativizou o erro por se tratar de "uma cobertura em tempo real".
"Tão logo captou as imagens, colocou-as no ar, atribuindo a um acidente, primeira informação chegada à Redação. Na seqüência, com a apuração em curso, deu a informação definitiva, esclarecendo que não se tratava de um acidente. Embora sejam normais informações desencontradas numa transmissão em tempo real, a Globo News está avaliando o seu procedimento no episódio".


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