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Em televisões, rádios, on-lines e até no Congresso, incêndio virou acidente aéreo
DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA
O incêndio na zona sul de São
Paulo foi inicialmente noticiado como um acidente aéreo. A
primeira emissora de TV a dar a
"barriga" (no jargão jornalístico, informação incorreta) foi a
Globo News. A falsa notícia foi
imediatamente reproduzida
por outras TVs, rádios e sites
-inclusive a Folha Online, que
a atribuiu ao canal da Globo.
A "barriga" rapidamente repercutiu no Congresso. O deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) interrompeu a sessão da CPI dos Cartões, às 17h19, para dar "uma
comunicação bastante grave e
muito triste" aos colegas e lamentar o "caos no tráfego aéreo", em transmissão ao vivo
por Record News e Band News.
A presidente da CPI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS)
lamentou a "informação terrível" e deu a palavra ao deputado Paulo Teixeira (PT-SP). Ele
disse que torcia para que os danos tivessem sido "menores
tanto para os que estavam no
avião quanto para os que estavam nos prédios".
A Globo News noticiou o falso acidente, com imagens aéreas da fumaça, às 17h17. Disse
que um avião ATR da Pantanal
Linhas Aéreas acabara de se
chocar com um prédio em São
Paulo. Desmentiu a história
cinco minutos depois, às 17h22.
A Band News deu a "notícia"
segundos depois. A Record
News noticiou às 17h19.
TVs abertas
Das emissoras abertas, a Record foi a única, às 17h26, a dar
a "barriga". Globo e Band decidiram esperar pela checagem e
só noticiaram o incêndio no depósito de colchões. No ar mais
cedo, José Luís Datena (Band)
se vangloriou do feito.
A Record News e a Record
acusaram a Defesa Civil de ser a
fonte. Pouco depois das 18h, a
Record News colocou no ar, por
telefone, o coordenador da Defesa Civil, Jair Pacca de Lima,
confirmando que a primeira informação que o órgão recebera
tinha sido a de acidente aéreo.
A falsa informação teria nascido quando um piloto da Pantanal, que pousava em Congonhas, avisara a torre sobre um
incêndio na rota de pouso. A informação teria sido confundida
com um acidente envolvendo
um avião da companhia.
A Globo News não revelou a
fonte. "A Globo News recebeu
as informações incorretas de
fontes até então confiáveis,
mas não acha correto nomear
fontes para se eximir de um tipo de erro que, embora condenável, pode acontecer em
transmissões desse tipo", justificou em nota.
O canal relativizou o erro por
se tratar de "uma cobertura em
tempo real".
"Tão logo captou as imagens,
colocou-as no ar, atribuindo a
um acidente, primeira informação chegada à Redação. Na
seqüência, com a apuração em
curso, deu a informação definitiva, esclarecendo que não se
tratava de um acidente. Embora sejam normais informações
desencontradas numa transmissão em tempo real, a Globo
News está avaliando o seu procedimento no episódio".
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