São Paulo, quarta-feira, 21 de maio de 2008

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HUGO SÉRGIO VILLAROEL LÉO (1931-2008)

Do som do violino ao silêncio do cristal

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Para quem tentara arrancar dos sons do violino o sentido de uma vida, o silêncio das máquinas de raios X no laboratório de cristalografia parecia melhor escolha. Lá, entre uma e outra chupada nos 40 Carlton fumados por dia, em 30 anos pesquisando cristais -fossem rochas ou cálculos nos rins-, Hugo Léo escreveu sua história.
Belo era o pôr-do-sol na árida Puntarenas, cidade chilena onde nasceu e cresceu, violino sempre à mão -a mãe pianista apaixonada pelos Noturnos de Chopin com ele encetava pequenos duetos, desde que ele aprendera a tocar. Foi então para Santiago estudar no conservatório musical. Mas sete anos depois, ainda com outros quatro pela frente, desistiu do metiê do violinista.
Física e matemática foi o que escolheu como carreira, estudando raios X no laboratório da faculdade. Deu aulas e participou de congressos, num dos quais conheceu o chefe do Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco -que o convidou para lecionar e pesquisar por lá. Isso em 1978. "Acabou ficando", professor e cônsul honorário do Chile nos anos 90.
Mulher, quatro filhos e sete netos assistiam à rotina. De camisa e sapatos, óculos e cabelos grisalhos, passava horas e horas metido na universidade; em casa, da mesma forma vestido, arranhava ainda no violino composições de Paganini, "claro, as que conseguia". Morreu no dia oito, de câncer, aos 76.


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