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HUGO SÉRGIO VILLAROEL LÉO (1931-2008)
Do som do violino ao silêncio do cristal
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Para quem tentara arrancar dos sons do violino o sentido de uma vida, o silêncio
das máquinas de raios X no
laboratório de cristalografia
parecia melhor escolha. Lá,
entre uma e outra chupada
nos 40 Carlton fumados por
dia, em 30 anos pesquisando
cristais -fossem rochas ou
cálculos nos rins-, Hugo Léo
escreveu sua história.
Belo era o pôr-do-sol na
árida Puntarenas, cidade
chilena onde nasceu e cresceu, violino sempre à mão -a
mãe pianista apaixonada pelos Noturnos de Chopin com
ele encetava pequenos duetos, desde que ele aprendera
a tocar. Foi então para Santiago estudar no conservatório musical. Mas sete anos
depois, ainda com outros
quatro pela frente, desistiu
do metiê do violinista.
Física e matemática foi o
que escolheu como carreira,
estudando raios X no laboratório da faculdade. Deu aulas
e participou de congressos,
num dos quais conheceu o
chefe do Centro de Tecnologia e Geociências da Universidade Federal de Pernambuco -que o convidou para
lecionar e pesquisar por lá.
Isso em 1978. "Acabou ficando", professor e cônsul honorário do Chile nos anos 90.
Mulher, quatro filhos e sete netos assistiam à rotina.
De camisa e sapatos, óculos e
cabelos grisalhos, passava
horas e horas metido na universidade; em casa, da mesma forma vestido, arranhava
ainda no violino composições de Paganini, "claro, as
que conseguia". Morreu no
dia oito, de câncer, aos 76.
obituario@folhasp.com.br
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