São Paulo, sexta-feira, 21 de maio de 2010

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BARBARA GANCIA

O fracasso de Lula


Erasmo Dias já morreu, Gabeira não tinha intenção de matar embaixador nenhum e o resto é Fla-Flu

QUE fiasco esse Lula! Nosso presidente é só gogó. É preciso ser muito ingênuo para acreditar no Lulinha paz e amor como mediador de peso num conflito a partir do qual se define toda a estrutura de poder da geopolítica mundial, não é mesmo?
Pois é, muita gente que não sabe ao certo o que Lula foi discutir no Irã ou que Rússia e China estão usando o apoio ao plano do brasileiro e do turco Recep Tayyip Erdogan como contraponto à proposta dos EUA agora deu para encher a boca e sair proclamando o fracasso do presidente tapuia.
Os críticos de mesa de bar podem até ter razão, o plano de Lula e do primeiro-ministro turco é capaz de redundar em nada ou servir apenas para fazer o Irã ganhar tempo.
Mas existe também, quem sabe, a possibilidade de os críticos em ritmo de Harry Truman terem perdido o bonde e não se darem conta de que aquele dia tão esperado possa ter chegado: que o país do futuro está aqui. O mundo mudou ou não?
Veja: os EUA já estão metidos em duas guerras e ninguém se ilude de que, no meio de uma crise econômica desta enormidade, eles estejam pensando em atacar o Irã. Sem a China, o G-8 fica falando sozinho e a realidade é que ninguém mais abaixa a cabeça para ele.
Há uma nova ordem multipolar logo ali na esquina e o G-20 é o seu modelo. Países como a Turquia, a Coreia do Sul, a África do Sul, a Indonésia e o Brasil já despontaram como líderes regionais faz tempo. No nosso caso, fazemos parte do Bric, somos uma economia sólida e respeitável, líderes da América Latina há milênios, dominamos a inflação, regulamentamos o sistema financeiro, temos responsabilidade fiscal, somos parceiros naturais de gregos e troianos, sérvios e croatas e judeus e árabes e ainda exportamos tudinho de que a China precisa.
Em relação ao Irã, Obama pediu que Lula tratasse com Ahmadinejad. Em seguida, ordenou que sua secretária de Estado ligasse para o ministro das Relações Exteriores da Turquia, o experimentado Ahmet Davutoglu, para convencê-lo a não sentar à mesa com os iranianos.
Não sabemos ao certo a rota das peças pelo tabuleiro. Mas, logo depois, China e Rússia elogiaram o canal de conversa aberto pelo Brasil. Só isso já terá valido o dia. E nos coloca -e ao presidente Lula- em um patamar em que nunca estivemos.
E foi ou não o próprio filho do Xá quem disse que o embargo é inútil e só serve para penalizar a população? Desde quando sanções funcionam em países do Oriente Médio onde funciona o "hawala", sistema de transferência de dinheiro que opera ao largo do tradicional?
O que se depreende desse desenho todo é que a década de 50 finalmente terminou. Só não percebe quem ainda está muito ocupado defendendo Cuba e atacando os EUA ou, vice-versa, chamando Obama de esquerdista e alegando desconfiar da candidata Marina Silva por ela ser evangélica. Ué? Bill Clinton também não é e tudo bem?
E se Lula está empenhado em tornar-se secretário das Nações Unidas, qual o problema? Por acaso alguém há de sentir-se humilhado de vê-lo ocupar o posto? Por sua vez, Dilma e Serra não são o que há de melhor nos quadros de seus respectivos partidos? Que eu saiba, Erasmo Dias já morreu, Gabeira nunca teve intenção de matar embaixador e o resto é Fla-Flu.

barbara@uol.com.br

twitter: @barbaragancia



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