São Paulo, sábado, 21 de maio de 2011

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BICHOS

VIVIEN LANDO - vivlando@uol.com.br

Vamos engolir esse sapo?


Imaginar uma lagoa sem os movimentos circulares que provocam ao mergulhar, sem o coaxar noturno

OS DADOS SÃO impressionantes. Das aproximadamente 5.600 espécies de anuros que existem no mundo, 30% correm o risco de desaparecer nos próximos anos e, nas últimas três décadas, 35 delas já se foram. Ou seja, sapos, rãs e pererecas encontram-se entre os recordistas no ranking de extinção.
As causas, aponta um estudo assinado por uma zoóloga, uma ecologista e um biólogo da Universidade de São Paulo, são várias. Como a destruição ou a fragmentação dos meios em que vivem. O exemplo que citam é ótimo: há pererecas que depositam os ovos nas bromélias, se não há bromélias, não haverá reprodução. Ponto final na linhagem.
A radiação ultravioleta exagerada por conta da fragilização da camada de ozônio. A poluição das águas, onde esses anfíbios vivem grande parte da vida. E obviamente o aquecimento global, que provoca secas inesperadas, as quais destroem ovos e girinos. Assim como chuvas torrenciais, que levam os mesmos a locais desabrigados dos predadores.
Sem contar a mania humana de introduzir espécies exóticas em habitats. Os sapos estrangeiros podem tanto se alimentar dos nativos quanto infestá-los com doenças que o sistema imunológico deles não sabe combater. Como ocorreu com o fungo Quitridae, vulgo Bd, que destrói a queratinina da pele dos sapos adultos e da boca dos girinos, levando-os à morte.
Causou uma calamidade e já foi identificado inclusive no Brasil, onde há por volta de 850 espécies, algumas exclusivas do país. O que nos torna responsáveis caso mais alguma delas se extinga do planeta. Há desconfiança entre os cientistas de que a quadrídia tenha vindo com as rãs-albinas africanas, importadas para a fabricação de testes de gravidez na década de 1930!
Agora podemos sair da esfera das estatísticas e imaginar uma lagoa fincada na paisagem. Seca de sapos. Sem os movimentos circulares que eles provocam ao mergulhar, sem o coaxar noturno, o qual nos assegura de que estamos próximos da natureza. É verdade que nem todos eles coaxam, nem todos têm hábitos noturnos. Alguns nem começam a existência como girinos, e muitos não são verdes. Daí a maravilha da diversidade.
Mas todos, com sua pele emborrachada e sangue frio, pertencem ao imaginário do homem. Excluindo os sapos, as poções de bruxa ficarão incompletas. E as donzelas não saberão de onde arrancar seus príncipes encantados com simples beijos. Sem sapos, rãs e pererecas, o mundo ficará certamente menos poético. E, pior, infestado de insetos!


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