São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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INCULTA & BELA
Baixar ou abaixar?

PASQUALE CIPRO NETO
Colunista da Folha

A rede McDonald's resolveu abaixar o preço de seus hambúrgueres. Outra rede -Casas Bahia- diz que baixou o preço de suas mercadorias. E disso surgiu a dúvida: baixar ou abaixar os preços?
Uma rápida consulta a um bom dicionário é suficiente para constatar que tanto faz.
Com o dicionário Aurélio, é preciso um pouco de paciência, já que, quando se procura o verbo baixar, encontra-se uma remissão a determinados sentidos de abaixar (1 a 5, 7 e 9 a 14, como está no verbete), o que dá um certo trabalho, mas esclarece a questão.
O caso de baixar e abaixar não é isolado, nem raro. Duplas de palavras parecidas na escrita e na pronúncia e de mesmo significado são muito comuns em português.
Vejamos algumas. O caso é intricado ou intrincado? Se você disser ou escrever "intricado", provavelmente receberá reprimendas -sem razão. Intricado é forma tão correta quanto intrincado.
Também são equivalentes as formas traslado e translado, assim como todas as derivadas (trasladar, transladar, trasladável, transladável).
Isso ocorre com várias palavras em que entra o prefixo latino "trans-", que significa "movimento para além de": transbordar, trasbordar, transmontano, trasmontano.
Há até casos em que são possíveis três formas, como o dos verbos transpassar, traspassar e trespassar.
Por desconhecimento ou preguiça de consultar um dicionário, algumas pessoas dão logo o veredicto a respeito de formas que julgam inexistentes ou erradas. É bom ter calma e cuidado.
Por falar em veredicto, não é veredito? Ou tanto faz? Os dicionários só registram a forma com o "c", apesar de na pronúncia esse "c" ter desaparecido há um bom tempo.
O "c" e o "p" são facultativos em muitas palavras e causam surpresa, ora pela presença, ora pela ausência: corrupto/corruto, corrupção/corrução, aspecto/aspeto, óptica/ótica, contacto/contato, secção/seção, seccionar/secionar.
Haja coragem para usar corrução, aspeto e quejandos!
Mas não se empolgue. Nada de "detetar" alguma coisa, como muita gente ilustre anda dizendo por aí. Só existe a forma detectar, com "c".
O problema dessas dobradinhas envolve outro aspecto (ou aspeto?), o das palavras parecidas na escrita e na pronúncia, mas muito diferentes no significado, como sessão, seção e cessão.
Mas isso é outra história e fica para outra coluna. Por enquanto, saiba que consultar dicionários não faz mal a ninguém. E que quem quiser pode muito bem baixar ou abaixar os preços. É isso.


Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras

E-mail: inculta@uol.com.br



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