São Paulo, quinta, 21 de maio de 1998

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PRESERVAÇÃO
Cientistas congelam sêmen e embriões de raças ameaçadas de extinção, para reprodução em laboratório
Brasil salva animais em arca de Noé hi-tech

FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

Cientistas brasileiros estão desenvolvendo uma arca de Noé de alta tecnologia para salvar animais ameaçados de extinção.
O programa, coordenado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), do Ministério da Agricultura, consiste na manutenção de um banco genético com sêmen e embriões congelados que permite a reprodução de animais em laboratório.
O Brasil tem oito raças de animais domésticos em estado crítico e seis ameaçadas de extinção, segundo levantamento da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). A cada ano desaparecem cerca de 10% das raças ameaçadas de extinção em todo o mundo.
Hoje, os pesquisadores brasileiros têm no banco genético sêmen de diferentes espécies de bois, cavalos, cabras e jumentos, espalhados por 17 núcleos de conservação em todo o país -que contam com o apoio de pesquisadores e cientistas em universidades e de produtores rurais de vários Estados.
A prioridade atual é desenvolver a reprodução de animais que possam ser utilizados para alimentação, mas, no futuro, animais domésticos -como cães e gatos- podem ser beneficiados com a tecnologia desenvolvida por essa pesquisa, ampliando o número de espécies preservadas.
Além de possibilitar a reprodução desses animais, o projeto Arca de Noé analisa o potencial genético dessas espécies para futuros cruzamentos, em busca de uma maior resistência física das raças a doenças, entre outros benefícios.
Os pesquisadores da Embrapa têm hoje mais de 30 mil doses de sêmen e 150 embriões de espécies puras congelados. O material genético é preservado em botijões com nitrogênio líquido a uma temperatura de -196ºC.
Com o sêmen descongelado, os cientistas fazem a inseminação artificial nas fêmeas da mesma raça, originando animais puros. No caso de embriões (que já carregam a informação genética do pai e da mãe), não há necessidade de a fêmea receptora ser da mesma raça do animal que será gerado.
O projeto Arca de Noé, cujas pesquisas começaram em 1983, deixou a raça de bovino caracu mais distante da extinção. Já o crioulo lageano, uma espécie de bovino criado em Santa Catarina, e o mocho nacional (com menos de 500 cabeças em todo o país) continuam ameaçados.
"Hoje, a população do caracu cresceu muito porque os criadores redescobriram a utilidade desses animais", diz o pesquisador Arthur Mariante, coordenador do projeto. "Mas, se esses animais fossem extintos, poderíamos restaurar essas raças em laboratório, a partir do material armazenado", diz Mariante.



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