São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Professores mantêm greve e voltam a parar a Paulista

Categoria quer revogar decreto que muda política educacional e cobra aumento de 45%

Estado divulgou anteontem reajuste de até 12%; gestão Serra restringiu transferência de docentes e criou prova para contratar temporários

Raimundo Paccó/Folha Imagem
Professores da rede estadual fazem manifestação no centro de SP

CINTHIA RODRIGUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Professores da rede estadual paulista decidiram continuar a greve iniciada na segunda-feira passada e marcaram, para a próxima sexta-feira, outra assembléia com passeata. Ontem, o protesto da categoria durou quatro horas e interditou trechos da avenida Paulista e da rua da Consolação até a praça da República, no centro.
A Apeoesp (sindicato dos professores) quer a revogação do decreto, assinado pelo governador José Serra (PSDB) no mês passado, que limita as transferências de profissionais durante o ano letivo e institui uma prova aos professores temporários -que determinará preferências para a escolha de turmas no início do ano.
O governo do Estado divulgou, anteontem, um reajuste salarial para os professores de até 12% -variando conforme o cargo. O último aumento ocorreu há três anos e a inflação no período foi de 13%. A entidade quer um aumento de cerca de 45%, que elevaria o piso para perto de R$ 2.000.
Durante a primeira semana de greve, o governo afirmou que apenas 2% das escolas haviam aderido à greve. A Apeoesp diz que 70% dos professores estão parados.
Ontem também houve discordância em relação ao total de manifestantes. Do caminhão de som, integrantes da Apeoesp falavam em 70 mil pessoas. Das ruas, a Polícia Militar calculava cerca de 8.000.
Como a passeata ocupou as três faixas de descida da rua da Consolação em toda a sua extensão -o que significa 15 mil metros quadrados-, a reportagem calcula que havia, pelo menos, 15 mil pessoas. A rede estadual tem 247 mil professores.
"Todo mundo que pôde veio para cá; quem não veio tem medo de retaliação", disse o professor de português Aparecido da Silva, 50. "Como vamos formar as crianças se não conseguimos pagar nossas contas?"

Carnaval
A multidão era colorida por bandeiras, tambores, um caixão com a inscrição "aqui jaz a educação", bonecos do governador José Serra, apitos, cornetas e narizes de palhaço. Um grupo de japoneses uniformizados, que disseram ser da Marinha e estar em São Paulo com o príncipe do país, achou que era algo parecido com o Carnaval. Eles pararam para fotografar e acabaram posando com os professores. "Great party [ótima festa]", disse Shinsuke Yamaguchi, 28.
Também houve manifestações de motoqueiros buzinando, trabalhadores que acenavam dos prédios e até de operários das obras do metrô pelo caminho. O podólogo Luthero Lopes, 63, resolveu protestar: "Vão trabalhar. Vai cortar cana", gritava ele na av. Paulista. Os professores já começavam a responder quando um policial pediu para ele parar.

Trânsito
Quem ficou preso no trânsito também reclamou. "Acho que eles têm o direito de se manifestar, mas não podem, para isso, tirar o direito de ir e vir dos outros", afirmou o cobrador Cláudio de Almeida, 42.
O ônibus em que ele trabalhava foi um dos 20 que ficaram presos na Paulista, antes de o trânsito de coletivos ser desviado pela rua Treze de Maio. Os passageiros desceram a pé, ou de metrô, até a Consolação.
As ruas do entorno da Paulista também foram afetadas. Em nota, a Secretaria da Educação informou que "lamenta que a Apeoesp insista em uma proposta rechaçada pela ampla maioria dos professores da rede estadual". Para o órgão, "a continuação da greve, mesmo com baixa adesão, atrapalha os estudantes".
O presidente da Apeoesp, Carlos Ramiro, disse que a greve é democrática: "Votamos a continuidade da greve e a maioria foi a favor".


Colaborou RICARDO SANGIOVANNI, da Reportagem Local


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