São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Operários vão embora 1 h após polícia liberar obra vetada por tráfico

Prefeito e secretário da Segurança foram à favela acompanhar construção, mas pouco depois funcionários deixaram local

De manhã, PMs prenderam homem acusado de pressionar a empreiteira para que não iniciasse a construção de pontilhão

EVANDRO SPINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Protegidos por cerca de 50 policiais civis e militares, além de seguranças pessoais, o prefeito Gilberto Kassab (DEM) e o secretário da Segurança Pública da gestão José Serra (PSDB), Ronaldo Marzagão, foram ontem a Itaquera (zona leste de SP) acompanhar o início da construção de um pontilhão que havia sido vetado por traficantes. Uma hora depois que polícia e autoridades deixaram o local, porém, os operários também foram embora.
O prefeito e o secretário chegaram à favela por volta das 13h40 e partiram cerca de 20 minutos depois. Por volta das 15h, os operários também deixaram a obra.
Segundo a empreiteira Crisciuma, ontem seria feita só a limpeza da área. A obra mesmo só começa na segunda-feira.
A Subprefeitura de Itaquera, questionada, informou apenas que a ordem da prefeitura é que a empreiteira atue com duas frentes de trabalho simultâneas -uma na preparação das vigas e outra na preparação do terreno para fazer a concretagem- e que não sabia que a empresa tinha ido embora.
Há dez dias, homens armados ameaçaram funcionários da empreiteira e os proibiram de iniciar a obra sobre o córrego Pintadinho, que facilitará o acesso de carros de polícia à região, onde, segundo moradores, há comércio de drogas.
Kassab disse ter tomado conhecimento do caso anteontem à noite. Imediatamente, segundo ele, conversou com Marzagão e, ontem pela manhã, determinou à empresa que retomasse a obra.

Prisão
Também pela manhã, policiais militares estiveram na região e prenderam o suposto responsável pela pressão sobre os funcionários da empreiteira. Carlucio Alves Coutinho, 21, foi detido por porte ilegal de arma -ele tinha um revólver Taurus .380 com 17 projéteis.
Segundo o capitão Robson Silva da Cruz, comandante da PM na região, Coutinho esteve preso por três anos e oito meses por tráfico de drogas. Solto em dezembro, atualmente mora na região da favela do Pintadinho.
Kassab e Marzagão permaneceram menos de 20 minutos no local. Vistoriaram o pontilhão de madeira por onde é possível atravessar apenas a pé, de bicicleta ou de moto, deram entrevistas e foram embora.

Comando
"A cidade de São Paulo tem ordem, tem comando, existe a prefeitura, existe o governo do Estado, e não iremos tolerar em nenhum momento, em nenhum local, manifestações indevidas e interferências nas ações da prefeitura", disse Kassab ao chegar ao local da obra.
Marzagão afirmou que o que ocorreu na favela do Pintadinho foi um fato isolado. "Não há uma área em São Paulo em que a polícia não entre. Esse foi um episódio isolado e que não deve se repetir. Não há área em São Paulo impenetrável."
Pouco antes, o subprefeito de Itaquera, Laert de Lima Teixeira, tinha culpado a empreiteira pela confusão. "Foi falha da empresa. Se ela tivesse nos comunicado, imediatamente teríamos agido. Agora, a empresa está aí e vai começar a obra."
A Crisciuma foi contratada pela Siurb (Secretaria de Infra-Estrutura Urbana e Obras) e, quando houve o problema, avisou a pasta. Teixeira disse só ter ficado sabendo do caso na terça-feira à noite.

Preocupação
Wálter Maierovitch, ex-juiz e ex-secretário nacional Antidrogas, disse que a ocorrência em Itaquera é preocupante. Segundo ele, a polícia não tem um trabalho permanente de inteligência. "A população local sabe, teme e obedece o crime organizado. Essas organizações estão presentes, difundem o medo."
Marzagão afirmou que será feito um esquema de segurança para garantir a obra. "Aqui em São Paulo é inadmissível isso. E que fique como uma lição para quem pretender enfrentar o poder público. Nós responderemos sempre assim: presença maciça da polícia e cadeia."
Para Maierovitch, presença maciça da polícia não resolve o problema. "Quando a polícia age ostensivamente, ou há um deslocamento dessas organizações ou, o que é mais comum, elas submergem, a polícia sai e eles voltam a atuar."
Kassab disse que o pontilhão deve estar pronto até agosto. O processo interno na prefeitura para a obra tramita desde 2002. Só em outubro do ano passado foi aberta a licitação.


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