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São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2003

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MOACYR SCLIAR

Sexo insólito

1. Melhor do que orgasmo

"Isso é melhor do que orgasmo", diz Nalbert, depois que a seleção masculina de vôlei conquistou pela terceira vez o título da Liga Mundial. Folha Esporte, 14.jul.2003

A relação entre os dois vinha deteriorando-se há algum tempo, mas ela só começou a se preocupar quando o marido deixou de procurá-la para fazer sexo. Interrogou-o a respeito; ele disse que não havia nada demais, andava cansado, só isso, trabalhando muito, tanto que várias vezes voltava para casa tarde da noite. Mas ela tinha certeza de que alguma coisa estava acontecendo. A luz se fez quando descobriu o recorte da Folha de S.Paulo com a manchete: "Isso é melhor do que orgasmo". Ex-jogador, o marido certamente se sentira excitado pela afirmação. Decidiu segui-lo. Descobriu que ele estava saindo do trabalho à hora habitual. Mas, em vez de ir para casa, ele se dirigia a um ginásio ali perto para jogar vôlei, naturalmente. Escondida, ela observou-o jogar. Não estava mais em forma, afinal, era um quarentão, mas nenhum dos jogadores mostrava mais entusiasmo do que ele: cada cortada era um berro. Seu prazer era evidente. Para ele, sem dúvida, vôlei era melhor do que orgasmo. Mulher inteligente, ela optou por não criar um caso. Em vez disso, está treinando vôlei em outro ginásio. Quando se sentir pronta, aparecerá, de surpresa, para jogar com ele. Os dois se enfrentarão na cancha. O que, ela disso tem certeza, representará o caminho para a volta ao orgasmo.

2. O elogio da masturbação

Masturbação frequente reduz risco de câncer de próstata, de acordo com estudo publicado na revista "New Scientist". Ciência Online, 16.jul.2003

"Ai, papai, que erro o senhor cometeu, papai, que erro. Eu sei que o senhor estava bem-intencionado, eu sei que o senhor só queria me ajudar, mas mesmo assim foi um erro. O senhor sempre me disse que masturbação fazia mal à saúde; que os masturbadores criavam cabelo na palma da mão, que ficavam cegos ou loucos. Era só eu fazer algum barulho na cama para o senhor invadir o meu quarto, perguntando se aquilo não era masturbação.
Não era, papai. Por sua causa eu deixei de me masturbar. E agora estou pagando um preço por isso. O senhor vê, estou com câncer de próstata, o mesmo câncer que o matou, papai, e podia ter escapado disso. Sim, senhor: os cientistas estão dizendo que masturbação evita essa doença.
Mas o pior, papai, não é isso. O pior é que, quando me masturbava, eu pensava numa linda mulher, a mulher que minha imaginação tinha criado. Dessa mulher me enamorei e era correspondido em minha paixão; todas as noites ela deitava a meu lado na cama e sussurrava: vem, benzinho. Quando parei de me masturbar, ela se foi, para nunca mais voltar. Perdi o grande amor de minha vida. Casei por casar, vivi infeliz por sua causa, papai. Mas estou treinando de novo, papai. Treinando a masturbação. Quero morrer com cabelo na palma da mão, papai. Quero morrer feliz."


Moacyr Scliar escreve às segundas-feiras, nesta coluna, um texto de ficção baseado em matérias publicadas no jornal.

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