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MEMÓRIA PERDIDA
A Polícia Federal recuperou ontem cerca de 20 de pelo menos 150 imagens furtadas no Rio e deteve 5 suspeitos
Fotos raras somem da Biblioteca Nacional
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
A Polícia Federal recuperou ontem cerca de 20 fotos de um conjunto de pelo menos 150 furtadas
da Biblioteca Nacional. Cinco suspeitos foram detidos. Alegando
que o inquérito corre sob sigilo
por determinação da Justiça Federal, a PF não deu informações
sobre o material recuperado e as
pessoas detidas.
Não há dúvidas de que os autores do furto eram especialistas no
assunto e tiveram acesso à Biblioteca Nacional durante a greve dos
servidores do Ministério da Cultura, que durou de 4 de abril ao último dia 12. Segundo funcionários, na véspera da greve um grupo de pesquisadores consultou o
acervo, e as imagens estavam lá.
Foram furtadas fotos muito valiosas (muito acima de R$ 5.000
cada uma, segundo um especialista) feitas de cidades brasileiras pelo carioca Marc Ferrez, pelo inglês
Benjamin Mulock e pelos alemães
August Stahl e Guilherme Liebenau. Em lugar de várias delas, os
ladrões puseram imagens antigas
sem valor. No caso de fotos que tinham dois exemplares, só o número um foi levado.
As fotos furtadas pertencem à
coleção Teresa Cristina Maria,
deixada em testamento para a Biblioteca pelo imperador d. Pedro
2º, um apaixonado pela fotografia. Teresa Cristina era o nome de
sua mulher. A coleção é a mais
importante da América Latina.
"Quem roubou sabia bem o que
estava fazendo. Ou foi alguém de
dentro da Biblioteca ou alguém
informado por uma pessoa de
dentro", afirmou Joaquim Marçal
Ferreira de Andrade, responsável
pela divisão de iconografia e que
chegou ontem ao Rio, depois de
seis meses trabalhando na França.
Funcionários do setor ainda estão fazendo um levantamento para saber quantas fotos foram furtadas. Apenas no primeiro armário aberto foram notadas 150 ausências. Há de dez a 15 armários
semelhantes no local.
De acordo com funcionários
que não quiseram se identificar,
aqueles que, durante o movimento grevista, faziam piquete em
frente à Biblioteca tinham de se
identificar até para ir ao banheiro.
Já integrantes da diretoria entravam livremente, e muitas vezes levavam convidados.
A Biblioteca Nacional fica na
praça da Cinelândia, ponto turístico tradicional, no centro do Rio.
A instituição é presidida desde o
início do governo Luiz Inácio Lula
da Silva pelo colecionador Pedro
Corrêa do Lago.
O setor de iconografia teria sido
aberto durante a greve para que
imagens fossem usadas no primeiro número da "Revista de História", recém-lançada pela Biblioteca. As chaves só podem ser apanhadas na portaria por funcionários do setor e pela direção.
Sem proteção
"Há quase dois anos, a Associação de Servidores da Fundação
Biblioteca Nacional denunciou ao
secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, que
os mecanismos de proteção dos
acervos estava diminuindo assustadoramente. Nada foi feito. Hoje,
nem as câmeras de vigilância funcionam", disse Rutonio Sant'Anna, diretor da associação.
O Ministério da Cultura não se
pronunciou. A direção da Fundação Biblioteca Nacional não respondeu às perguntas enviadas pela Folha e soltou nota informando
que o sumiço das fotos foi constatado na última segunda-feira, e no
dia seguinte foi registrada uma
queixa na Delegacia de Proteção
ao Meio Ambiente e Patrimônio
Histórico da PF.
"A direção da FBN (...) dará plena e total colaboração às investigações", diz a nota.
Antes do início da greve, funcionários descobriram que dois
hardwares foram furtados de
computadores da divisão de microrreprodução (microfilmes).
Sumiram com eles cerca de mil
imagens digitalizadas, como fotos
e mapas raros. Parte foi recuperada pelas cópias de proteção, mas
muitas estão desaparecidas.
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