São Paulo, quinta-feira, 21 de julho de 2005

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MEMÓRIA PERDIDA

A Polícia Federal recuperou ontem cerca de 20 de pelo menos 150 imagens furtadas no Rio e deteve 5 suspeitos

Fotos raras somem da Biblioteca Nacional

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

A Polícia Federal recuperou ontem cerca de 20 fotos de um conjunto de pelo menos 150 furtadas da Biblioteca Nacional. Cinco suspeitos foram detidos. Alegando que o inquérito corre sob sigilo por determinação da Justiça Federal, a PF não deu informações sobre o material recuperado e as pessoas detidas.
Não há dúvidas de que os autores do furto eram especialistas no assunto e tiveram acesso à Biblioteca Nacional durante a greve dos servidores do Ministério da Cultura, que durou de 4 de abril ao último dia 12. Segundo funcionários, na véspera da greve um grupo de pesquisadores consultou o acervo, e as imagens estavam lá.
Foram furtadas fotos muito valiosas (muito acima de R$ 5.000 cada uma, segundo um especialista) feitas de cidades brasileiras pelo carioca Marc Ferrez, pelo inglês Benjamin Mulock e pelos alemães August Stahl e Guilherme Liebenau. Em lugar de várias delas, os ladrões puseram imagens antigas sem valor. No caso de fotos que tinham dois exemplares, só o número um foi levado.
As fotos furtadas pertencem à coleção Teresa Cristina Maria, deixada em testamento para a Biblioteca pelo imperador d. Pedro 2º, um apaixonado pela fotografia. Teresa Cristina era o nome de sua mulher. A coleção é a mais importante da América Latina.
"Quem roubou sabia bem o que estava fazendo. Ou foi alguém de dentro da Biblioteca ou alguém informado por uma pessoa de dentro", afirmou Joaquim Marçal Ferreira de Andrade, responsável pela divisão de iconografia e que chegou ontem ao Rio, depois de seis meses trabalhando na França.
Funcionários do setor ainda estão fazendo um levantamento para saber quantas fotos foram furtadas. Apenas no primeiro armário aberto foram notadas 150 ausências. Há de dez a 15 armários semelhantes no local.
De acordo com funcionários que não quiseram se identificar, aqueles que, durante o movimento grevista, faziam piquete em frente à Biblioteca tinham de se identificar até para ir ao banheiro. Já integrantes da diretoria entravam livremente, e muitas vezes levavam convidados.
A Biblioteca Nacional fica na praça da Cinelândia, ponto turístico tradicional, no centro do Rio. A instituição é presidida desde o início do governo Luiz Inácio Lula da Silva pelo colecionador Pedro Corrêa do Lago.
O setor de iconografia teria sido aberto durante a greve para que imagens fossem usadas no primeiro número da "Revista de História", recém-lançada pela Biblioteca. As chaves só podem ser apanhadas na portaria por funcionários do setor e pela direção.

Sem proteção
"Há quase dois anos, a Associação de Servidores da Fundação Biblioteca Nacional denunciou ao secretário-executivo do Ministério da Cultura, Juca Ferreira, que os mecanismos de proteção dos acervos estava diminuindo assustadoramente. Nada foi feito. Hoje, nem as câmeras de vigilância funcionam", disse Rutonio Sant'Anna, diretor da associação.
O Ministério da Cultura não se pronunciou. A direção da Fundação Biblioteca Nacional não respondeu às perguntas enviadas pela Folha e soltou nota informando que o sumiço das fotos foi constatado na última segunda-feira, e no dia seguinte foi registrada uma queixa na Delegacia de Proteção ao Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF.
"A direção da FBN (...) dará plena e total colaboração às investigações", diz a nota.
Antes do início da greve, funcionários descobriram que dois hardwares foram furtados de computadores da divisão de microrreprodução (microfilmes). Sumiram com eles cerca de mil imagens digitalizadas, como fotos e mapas raros. Parte foi recuperada pelas cópias de proteção, mas muitas estão desaparecidas.


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