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TRAGÉDIA EM CONGONHAS/EMPRESA
TAM diz que não irá mudar procedimentos
Vice-presidente afirma que aviões da empresa, mesmo após acidente, continuarão a voar com reversor travado se necessário
Segundo Ruy Amparo, a
orientação só irá mudar se
houver nova determinação
de autoridades aeronáuticas
ou do fabricante do aparelho
DA REPORTAGEM LOCAL
A constatação de que a aeronave envolvida no acidente de
terça-feira no aeroporto de
Congonhas estava com seu reversor do lado direito inoperante ainda não levou a TAM a
mudar seus procedimentos em
relação a esse instrumento auxiliar do sistema de frenagem.
A companhia aérea afirma
que, enquanto não houver nenhum novo alerta ou orientação das entidades aeronáuticas
e do fabricante, seguirá adotando a regra de que os reversores
podem ser dispensáveis e que
seus aviões podem voar temporariamente mesmo que tenham falha nesses aparelhos.
O vice-presidente técnico da
TAM, Ruy Amparo, afirmou em
entrevista à Folha que, especificamente na tarde de ontem, a
empresa não tinha nenhuma
aeronave com esse sistema
inoperante, mas que seguiria
voando se assim tivesse, por
não haver irregularidade.
"Por enquanto, não houve
nenhum julgamento de ter que
aumentar o nível de alerta em
relação à máquina", disse.
A exceção, segundo afirma, é
no aeroporto Santos Dumont,
no Rio, porque a pista lá é ainda
menor que a de Congonhas.
Amparo admitiu que os procedimentos de pouso de um
Airbus com um só reversor
funcionando requerem ações
diferenciadas por parte dos pilotos, mas ele afirma não ver
problema porque eles são treinados para essas situações.
Em nota oficial emitida ontem, a empresa informa que a
aeronave Airbus-A320 que se
acidentou foi incorporada à
frota da TAM em 2006 e estava
com 26.320 mil horas de vôo.
De acordo com a nota, a última revisão foi realizada em 13
de junho e em 27 de novembro
a aeronave passou por uma revisão estrutural -do tipo em
que é praticamente desmontada para a verificação de todas
as peças.
Leia abaixo trechos da entrevista de Amparo.
(MAELI PRADO, ALENCAR IZIDORO E EVANDRO SPINELLI)
FOLHA - Pilotos da TAM relatam
que há outros aviões da companhia
circulando também sem funcionamento do reversor. Um deles citou
inclusive a quantidade de 18. A informação procede?
RUY AMPARO - Você pode fazer
vôos regulados por um manual
chamado MEL [em português,
lista de equipamentos mínimos] e ter algumas restrições.
O Airbus-A320 tem uma incidência de panes baixa. O número 18 absolutamente não procede. Hoje [ontem] à tarde estamos com zero reversos em pane. E estaria dentro da lei se
houvesse algumas exceções.
FOLHA - Havendo problema no reversor direito, como havia, o do esquerdo pode e deve ser utilizado?
AMPARO - No MEL há um procedimento operacional para os
pilotos quando está com um reversor inibido. O princípio de
um avião moderno é que nenhuma redundância deve ser
desprezada porque aumenta
sua segurança. O princípio de
trabalho é inibir aquilo que tem
certeza de que não vai funcionar direito. O reversor é esse
espírito. É preferível que não
funcione do que correr um risco de funcionar errado.
FOLHA - A partir deste momento,
qual é a orientação da TAM em relação a um avião que tiver problema
no reversor? A orientação é que será
pinado [bloqueado] e vai continuar
voando ou não sairá mais com qualquer tipo de problema no reversor?
AMPARO - Enquanto não vier
uma recomendação, a gente
não tem nenhuma necessidade
legal de mudar. É lógico que
nós estamos tomando atenção
redobrada em todos os casos. O
fato não é mais a máquina. A
pista principal de Congonhas
está fechada. Imagina que ela
seja reaberta. O nosso pessoal
de operações está avaliando todas as condições dessa pista para ter certeza que aquela condição de pouso está batendo com
a que a aeronave requer.
Estamos com gente da Airbus aqui. Por enquanto, não
houve nenhum julgamento de
você ter que aumentar o nível
de alerta em relação à máquina.
Ou seja, dito pela Airbus explicitamente, nós não temos nenhum problema em voar com
reversor pinado.
FOLHA - O procedimento especial
para um piloto pousar com um dos
reversores pinado não é um complicador para ele?
AMPARO - Ele treina isso. No simulador ele treina numa condição muito pior: pousando, o
reversor dá pane ali. Eu não tenho nenhuma dúvida de que os
pilotos são muito qualificados a
fazer esse pouso com tranqüilidade. O treinamento das emergências é feito de uma maneira
muito forte pelo piloto.
FOLHA - Se a Infraero não tivesse
fechado a pista principal de Congonhas, vocês pousariam hoje lá em
condições de chuva?
AMPARO - Nós temos um departamento de flight safety que
avalia tudo. Na TAM, você tem
o livro e não pode nunca exceder os limites do livro, mas você
pode ser mais conservativo que
o livro. Nós temos autorização
de pousar com o A320 no Santos Dumont. Nós fazemos com
o A319, que é um avião menor.
Nós aumentamos nossa condição de segurança. E há uma política de avaliar caso a caso.
FOLHA - Com reversor pinado não
poderia pousar no Santos Dumont?
AMPARO - Nem o A319. O Santos Dumont é uma pista de
1.300 metros. Ela é muito curta
e você tem de ter todas as redundâncias funcionando. Não
é só o reversor. Você tem vários
sistemas que o MEL não permite que você pouse lá.
FOLHA - Aquele avião não iria jamais para o Santos Dumont?
AMPARO - O Santos Dumont é
um aeroporto que, pelos obstáculos que tem -de um lado o
Pão de Açúcar, do outro a ponte
Rio-Niterói-, o nível de exigências do MEL é mais alto. Foi
feito um MEL especial para ele,
os pilotos têm uma carteira especial, o treinamento em simulador embute algumas horas a
mais. Tanto é que ele, no nosso
MEL, é o único aeroporto que é
tratado em separado.
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