São Paulo, segunda-feira, 21 de julho de 2008

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FERNANDO TEIXEIRA DE ANDRADE (1946-2008)
Um professor de letras até o último dia

WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Era sexta-feira e o professor de literatura Fernando Teixeira chegou de manhã ao curso pré-vestibular Objetivo da av. Paulista, como fazia há cerca de 30 anos. De bengala na mão, para espanto dos alunos, deu aula tarde e noite adentro, sobre escritores, períodos, movimentos. "Não queria parar de falar", diz a colega. Só após 18 horas em classe aceitou ir para casa. Morreu no dia seguinte.
"Ateu, graças a Deus", como sempre dizia, não acreditava em presságio; nem os alunos quiseram crer que FT dera sua última aula. Nas comunidades de "discípulos" do site Orkut, a notícia foi logo descartada. "Impossível, não o nosso querido FT."
Não o mestre que há três décadas dava aula em cursinho, desde o tempo de Ribeirão Preto; onde nasceu, filho de um advogado e uma professora. Formado em direito, nunca advogou. "Em literatura era autodidata", diz a filha. "Em casa não tem parede, nem decoração, só livro."
"Boa noite seus mal educados", dizia, a voz empostada, sempre que entrava na sala, com sua barba, bigode e sarcasmo. E começava a verter centenas de referências (datas, nomes, períodos). "A aula sobre um livro podia levar sete horas", diz uma colega. "Os versos de "Os Lusíadas", sabia quase todos de cor."
Tinha três filhos, era casado e "completamente apaixonado" pela aula. Há quatro anos tinha câncer e "dores terríveis." Mas foi professor até aquela sexta. Morreu sábado, dia cinco, aos 61.

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