São Paulo, quarta-feira, 21 de julho de 2010

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Lobby do amianto gasta US$ 100 milhões

Rede de apoio tenta preservar o mercado do minério, carcinógeno com uso já proibido ou restrito em 52 países

Especialistas alertam para futuras epidemias de câncer; no Brasil, alguns Estados limitam uso e venda do produto

JIM MORRIS
DA BBC/ICIJ, ESPECIAL PARA A FOLHA

Uma rede mundial de grupos de lobby gastou quase US$ 100 milhões desde a metade dos anos 80 para preservar o mercado internacional de amianto, carcinógeno conhecido que já tirou milhões de vidas e tem seu uso proibido ou restrito em 52 países.
A constatação é do International Consortium of Investigative Journalists, após nove meses de investigação.
No Brasil, a venda e o uso de amianto têm restrições legais em alguns Estados.
Com apoio de verbas públicas e privadas e a assistência de cientistas e governos aliados, os grupos facilitaram a venda de 2 milhões de toneladas de amianto em 2009. Segundo o Chrysotile Institute, sediado em Montréal (Canadá), o produto pode ser usado em segurança em condições "controladas".
Especialistas alertam sobre futuras epidemias de câncer de pulmão, asbestose e mesotelioma, câncer que costuma atacar o revestimento dos pulmões, no mundo. "O amianto não pode ser usado de maneira segura.
Mata pessoas", diz Jukka Takala, diretor da Agência de Segurança e Saúde no Trabalho e ex-dirigente da OIT.

PESQUISAS
A indústria tenta proteger as vendas da fibra bruta do amianto e dos produtos com ele fabricados, como canos.
Cientistas bancados pelo setor dizem que o crisotilo ou amianto branco, único à venda hoje, não é tão perigoso.
"É muito barato. Se tentarem reconstruir o Haiti sem amianto, o custo será muito maior. Quaisquer efeitos sobre a saúde serão triviais, se é que existirão", diz J. Corbett McDonald, da Universidade McGill, em Montréal.
Especialistas em saúde pública, porém, dizem que as medidas de proteção aos trabalhadores por parte das empresas são incomuns nos países em desenvolvimento. Clement Godbout, presidente do Chrysotile Institute, rebate os críticos: "Dizemos que o crisotilo é um produto com risco potencial e que é preciso controlar esse risco.
Não é algo que se deva adicionar ao café toda manhã".
No Brasil, o Instituto Brasileiro do Crisotilo, que se descreve como grupo de interesse público e tem isenção tributária, nega servir à indústria. O instituto diz "garantir a saúde e a segurança de trabalhadores e usuários".


Esta história é parte de uma investigação conjunta conduzida pelo ICIJ (International Consortium of Investigative Journalists) e pela BBC News. Colaboraram ANA AVILA, na Cidade do México; DAN ETTINGER, em Washington; MURALI KRISHNAN, em Nova Delhi; ROMAN SHLEYNOV, em Moscou; e MARCELO SOARES, em São Paulo.

TRADUÇÃO DE PAULO MIGLIACCI

Leia a íntegra da reportagem
folha.com.br/ct769742


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