São Paulo, quarta-feira, 21 de agosto de 2002

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SAÚDE

Campanha vai terminar em dezembro, mas entidades temem que apenas 50% dos pacientes sejam beneficiados

Governo tenta acabar com fila por prótese

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Próteses para deficientes fabricadas pela AACD; existem 3.261 pessoas aguardando por aparelhos na rede pública e credenciada do Estado


AURELIANO BIANCARELLI
CLAUDIA COLLUCCI

DA REPORTAGEM LOCAL

O governo quer acabar com as filas de pacientes do SUS que esperam por cadeiras de rodas, pernas mecânicas, braços articulados, andadores, bengalas, coletes e próteses mamárias. Uma campanha de protetização, criada por portaria de junho deste ano, está oferecendo aparelhos e tratamento para todos os portadores de deficiência física.
A campanha, iniciada em julho, durará até dezembro. Entidades de deficientes físicos temem que menos de 50% dos pacientes que necessitam sejam atendidos, já que o prazo é considerado curto.
Pelo censo do IBGE, o país tem 6,5 milhões de portadores de deficiências físicas e motoras. Ninguém sabe quantos podem se beneficiar com uma prótese ou órtese (aparelhos que auxiliam os membros, como muletas e andadores), nem quantos esperam nas filas de quase dois anos que se formam em muitas das instituições.
"Grande parte dos que precisam moram em zonas rurais, periferias e favelas; não têm como chegar aos serviços médicos", diz Gerônimo Ciqueira da Silva, 46, coordenador da Organização Nacional de Entidades de Deficientes Físicos. A organização reúne 68 instituições em todo o país.
"As secretarias municipais de Saúde não foram preparadas para o programa", diz Silva. "Muitos Estados ainda não colocaram a portaria em prática."
A recomendação, para deficientes e familiares, é que procurem as secretarias de Saúde de seus Estados e municípios, cobrando a participação no programa de prótese.
O programa do governo começou no ano passado com a criação de um sistema de referência para assistência aos portadores de deficiência física em 17 Estados.
Para essa campanha, o governo está reservando R$ 21 milhões e espera atender cerca de 100 mil pessoas. "Esse é o valor estimado, mas o programa não tem limite de verbas; todos que precisarem serão atendidos", diz Renilson de Souza, secretário de Assistência à Saúde do Ministério da Saúde.
Entre 1995 e 2001, os gastos do governo com próteses e órteses em ambulatório (sem contar as implantadas durante hospitalizações) passaram de R$ 22,7 milhões para R$ 47,7 milhões.
Por conta desse aumento nos gastos, o ministério acredita que o número de deficientes não atendidos venha caindo ano a ano, mas a demanda reprimida ainda pode ser grande.
Estados do Sul e Sudeste estão correndo contra o tempo. São Paulo está com 35 instituições credenciadas e quer inscrever outras 31. Oficialmente, existem 3.261 pessoas aguardando por uma órtese ou prótese na rede pública e credenciada do Estado.
"Há uma demanda reprimida desconhecida, mas que não deve ser grande", diz Lígia Soares, diretora das Áreas Programáticas da Secretaria de Estado da Saúde.
Na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), que possui oficina ortopédica de referência, existem 1.100 pessoas na fila e a espera é de um ano em média. O menino J.C.D., 15, perdeu a perna esquerda em um acidente de trânsito cinco anos atrás. Hoje sobrevive vendendo balas em Pinheiros, na zona oeste, apoiado num par de muletas. Das tentativas que fez para conseguir uma perna mecânica, o orçamento mais barato foi de R$ 1.870,00.
Pela portaria do ministério, além de receber as órteses e próteses, os pacientes passarão por tratamento individual de preparação, como o fortalecimento da musculatura e adaptação do aparelho na extremidade do membro amputado. Os tratamentos incluem exames clínicos, avaliação médica, sessões de fisioterapia e terapia ocupacional.
O número de portadores de deficiências físicas e motoras vem crescendo a cada ano. "Nos grandes centros, como São Paulo, os acidentes com carro e armas de fogo estão entre as principais causas", diz Décio Goldfarb, presidente da AACD. "No interior do país, os acidentes na lavoura continuam provocando muitas vítimas", diz Ciqueira da Silva.


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