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SAÚDE
Campanha vai terminar em dezembro, mas entidades temem que apenas 50% dos pacientes sejam beneficiados
Governo tenta acabar com fila por prótese
Eduardo Knapp/Folha Imagem
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Próteses para deficientes fabricadas pela AACD; existem 3.261 pessoas aguardando por aparelhos na rede pública e credenciada do Estado |
AURELIANO BIANCARELLI
CLAUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo quer acabar com as
filas de pacientes do SUS que esperam por cadeiras de rodas, pernas mecânicas, braços articulados, andadores, bengalas, coletes
e próteses mamárias. Uma campanha de protetização, criada por
portaria de junho deste ano, está
oferecendo aparelhos e tratamento para todos os portadores de deficiência física.
A campanha, iniciada em julho,
durará até dezembro. Entidades
de deficientes físicos temem que
menos de 50% dos pacientes que
necessitam sejam atendidos, já
que o prazo é considerado curto.
Pelo censo do IBGE, o país tem
6,5 milhões de portadores de deficiências físicas e motoras. Ninguém sabe quantos podem se beneficiar com uma prótese ou órtese (aparelhos que auxiliam os
membros, como muletas e andadores), nem quantos esperam nas
filas de quase dois anos que se formam em muitas das instituições.
"Grande parte dos que precisam moram em zonas rurais, periferias e favelas; não têm como
chegar aos serviços médicos", diz
Gerônimo Ciqueira da Silva, 46,
coordenador da Organização Nacional de Entidades de Deficientes
Físicos. A organização reúne 68
instituições em todo o país.
"As secretarias municipais de
Saúde não foram preparadas para
o programa", diz Silva. "Muitos
Estados ainda não colocaram a
portaria em prática."
A recomendação, para deficientes e familiares, é que procurem as
secretarias de Saúde de seus Estados e municípios, cobrando a participação no programa de prótese.
O programa do governo começou no ano passado com a criação
de um sistema de referência para
assistência aos portadores de deficiência física em 17 Estados.
Para essa campanha, o governo
está reservando R$ 21 milhões e
espera atender cerca de 100 mil
pessoas. "Esse é o valor estimado,
mas o programa não tem limite
de verbas; todos que precisarem
serão atendidos", diz Renilson de
Souza, secretário de Assistência à
Saúde do Ministério da Saúde.
Entre 1995 e 2001, os gastos do
governo com próteses e órteses
em ambulatório (sem contar as
implantadas durante hospitalizações) passaram de R$ 22,7 milhões para R$ 47,7 milhões.
Por conta desse aumento nos
gastos, o ministério acredita que o
número de deficientes não atendidos venha caindo ano a ano,
mas a demanda reprimida ainda
pode ser grande.
Estados do Sul e Sudeste estão
correndo contra o tempo. São
Paulo está com 35 instituições
credenciadas e quer inscrever outras 31. Oficialmente, existem
3.261 pessoas aguardando por
uma órtese ou prótese na rede pública e credenciada do Estado.
"Há uma demanda reprimida
desconhecida, mas que não deve
ser grande", diz Lígia Soares, diretora das Áreas Programáticas da
Secretaria de Estado da Saúde.
Na AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), que
possui oficina ortopédica de referência, existem 1.100 pessoas na
fila e a espera é de um ano em média. O menino J.C.D., 15, perdeu a
perna esquerda em um acidente
de trânsito cinco anos atrás. Hoje
sobrevive vendendo balas em Pinheiros, na zona oeste, apoiado
num par de muletas. Das tentativas que fez para conseguir uma
perna mecânica, o orçamento
mais barato foi de R$ 1.870,00.
Pela portaria do ministério,
além de receber as órteses e próteses, os pacientes passarão por tratamento individual de preparação, como o fortalecimento da
musculatura e adaptação do aparelho na extremidade do membro
amputado. Os tratamentos incluem exames clínicos, avaliação
médica, sessões de fisioterapia e
terapia ocupacional.
O número de portadores de deficiências físicas e motoras vem
crescendo a cada ano. "Nos grandes centros, como São Paulo, os
acidentes com carro e armas de
fogo estão entre as principais causas", diz Décio Goldfarb, presidente da AACD. "No interior do país, os acidentes na lavoura continuam provocando muitas vítimas", diz Ciqueira da Silva.
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