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PASQUALE CIPRO NETO
Nomes de nomes
Há alguns meses, escrevi
sobre uma questão do último vestibular da Fuvest que exigia dos candidatos o domínio da
nomenclatura gramatical básica.
O mote era a afirmação (presente
no comentário de um jornal) de
que o título do filme "Aluga-se
Moças" contém "um dos maiores
erros ortográficos já vistos no cinema brasileiro". A banca queria
saber se o comentário feito pelo
jornal é justificável do ponto de
vista gramatical.
Vimos que o tal comentário é
injustificável, porque não há erro
ortográfico algum em "Aluga-se
Moças". Como se sabe, a ortografia (o nome já o diz) se ocupa da
grafia correta. No título do filme,
o que está em discussão é a concordância verbal, área relativa
aos capítulos da sintaxe.
Essa questão da Fuvest parece
deixar claro que a banca considera necessário o domínio da nomenclatura gramatical básica. E,
pelo jeito, não é só a Fuvest que
pensa assim. Em seu vestibular de
meio de ano, a Unesp (Universidade Estadual Paulista) fez uma
questão semelhante, baseada neste trecho da carta de um leitor a
um jornal: "Há anos que existe
vazamentos tóxicos em todos os
rios do país, causando danos à
fauna e à flora. Precisamos sair
da inércia ou essa situação levará-nos a um desastre completo!".
Depois de afirmar que, "nesse
texto, há duas situações em que a
norma padrão do português do
Brasil é infringida", a banca pedia ao candidato o seguinte:
"Identifique as áreas da gramática em que ocorrem esses problemas: concordância, regência,
pontuação, colocação pronominal, ortografia etc.". Em seguida,
os examinadores pediam ao candidato que redigisse novamente o
texto, corrigindo-o.
Pois bem, caro leitor, já sabe
quais são as duas situações a que
se refere a questão? Vamos lá. A
primeira diz respeito à passagem
"existe vazamentos". O verbo
"existir" deve concordar com o
seu sujeito, que, no caso, é "vazamentos". A forma correta, portanto, é "existem vazamentos". O
que temos aí é um problema relativo à concordância (verbal).
E a segunda situação? Está na
passagem "levará-nos", em que
ocorre ênclise (pronome átono
posto depois do verbo). A forma
verbal "levará", do futuro do presente, impede a ênclise. Feita de
acordo com a norma padrão do
português do Brasil, a correção é
esta: "...ou essa situação nos levará a um desastre completo!".
A esta altura, talvez alguém
queira perguntar sobre a hipótese
da mesóclise ("...ou essa situação
levar-nos-á a um desastre completo!"). A mesóclise -pronome
átono ("me", "te", "se", "lhe",
"nos" etc.) posto no meio do verbo- ainda é muito comum em
Portugal, sobretudo na escrita.
Entre nós, está longe de poder ser
declarada um defunto, mas não é
de uso frequente.
A questão da Fuvest e a da
Unesp deixam claro que quem
quer ser aprovado nesses vestibulares deve conhecer a nomenclatura gramatical básica, o que não
significa entupir-se de gramatiquices. É óbvio que esse conhecimento não basta. Como também
fica claro pelas questões (que exigem que o aluno reescreva, comente etc.), é preciso saber operar
com esse conhecimento. É isso.
Pasquale Cipro Neto escreve nesta coluna às quintas-feiras.
E-mail - inculta@uol.com.br
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