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LENDA URBANA
Desde 75, arquitetos propõem projetos para o local, mas idéias esbarram na falta de recursos e no impacto no trânsito
Sonho de demolir o Minhocão faz 30 anos
DA REPORTAGEM LOCAL
O prefeito havia sido empossado pouco tempo antes quando foi
procurado por um arquiteto.
Com uma série de argumentos, o
profissional sugeriu ao político
que demolisse o elevado Costa e
Silva, popularmente conhecido
como Minhocão e criticado como
uma das obras mais feias de São
Paulo. O prefeito, porém, nem sequer levou a idéia a sério. Pensando no custo político que a decisão
lhe causaria, respondeu, brincando: "Você está querendo derrubar
o Minhocão ou me derrubar?"
A anedota é real, e quem a conta
é Roberto Mac Fadden, que ouviu
o bem-humorado -mas direto- "não" do então prefeito Olavo Setúbal. A demolição do elevado, afirma ele, era necessária para
a ampliação do metrô rumo à
Barra Funda, zona oeste da cidade. "A linha precisou seguir um
caminho tortuoso e mais caro devido ao Minhocão", diz o arquiteto. O elevado foi inaugurado por
Paulo Maluf em 1971, e essa foi a
primeira proposta feita à prefeitura para destruí-lo. O ano? 1975.
Nesses últimos 30 anos não faltaram outros pedidos, acompanhados de pesquisas e projetos,
para que o viaduto fosse destruído ou, ao menos, passasse por um
processo de requalificação. Na última semana, a discussão voltou à
tona com a declaração do prefeito
José Serra (PSDB) de que a demolição do elevado está sendo analisada por sua equipe técnica.
As idéias, porém, sempre esbarram nos mesmos problemas: custos e o impacto no trânsito.
Mais uma vez, Mac Fadden foi à
prefeitura apresentar dados relacionados ao Minhocão. Na quarta-feira, ele se reuniu com a arquiteta Regina Monteiro, diretora da
Emurb, que está montando um
estudo sobre o viaduto.
Jardins da Babilônia
Há, porém, uma grande variedade de soluções elaboradas fora
do governo. Uma delas é a do arquiteto Pitanga do Amparo, que
prevê a transformação do elevado
em um grande jardim suspenso.
Pelo projeto, o local teria duas
faixas, destinadas a ônibus elétricos -o resto do espaço seria ocupado por jardins. O acesso aos
pontos de ônibus seria por meio
de plataformas entre o elevado e
os prédios do entorno. "Fiz o projeto em 1986. O Jânio [Quadros,
prefeito de São Paulo pela última
vez entre 1986 e 1988] adorou."
Michel Gorski é outro arquiteto
que também já levou sua proposta à prefeitura. De fato, ele tem levado sua proposta ao governo há
pelo menos 12 anos. "A primeira
vez foi na segunda gestão de Maluf [93-96]", diz Gorski. O projeto
prevê a demolição do elevado.
Não aborda, porém, veículos. "O
trânsito tende a se acomodar."
Para não comprometer o fluxo
de veículos, o engenheiro de tráfego José Tadeu Braz, da Brazhuman Engenharia e Consultoria,
elaborou um estudo que remete
às passagens feitas nos cruzamentos da Faria Lima com as avenidas
Rebouças e Cidade Jardim (zona
oeste). Segundo ele, se o Minhocão for demolido, a São João pode
ter uma faixa para o fluxo mais rápido, que disporia de passagens
subterrâneas nos cruzamentos.
Novo Minhocão
Embora considere a demolição
a melhor alternativa, o arquiteto
Ruy Ohtake pensou numa forma
de harmonizar o elevado e o entorno. O novo Minhocão, diz, deveria atender a três aspectos.
O primeiro é a convivência com
os moradores -para isso, ele deveria ser mais estreito e ter uma
parede lateral alta, que diminuísse
o incômodo do barulho e da fumaça. Outro aspecto é a relação
da estrutura com quem passa sob
ela. "A largura [do elevado] não
pode ser maior do que a altura, ou
a passagem sob ele fica sombria,
desagradável." Por fim, diz o arquiteto, é preciso ter um desenho
que contemple a questão estética.
Ohtake diz que estudou o Minhocão ao projetar o Fura-Fila,
para evitar que o novo equipamento repetisse os mesmos erros.
As obras do Fura-Fila, porém, estão paradas. No último mês, Serra
foi a Brasília pedir cerca de R$ 200
milhões para concluir o projeto.
Moradores
A proposta de demolição divide
os moradores dos edifícios que ficam ao lado do elevado.
Para a dona-de-casa Luzinete
da Silva Leitão, 66, que mora na
avenida São João desde que o Minhocão foi inaugurado, o trânsito
se complicaria ainda mais com o
fim do elevado.
Já a enfermeira Waldete Brás,
50, que mora há três anos na região, diz que seu apartamento
chega a tremer com a passagem
dos carros. Ela gostaria que a demolição fosse feita, mas teme o
impacto na estrutura dos prédios.
Uma coisa, porém, é unanimidade entre os moradores ouvidos
pela reportagem: todos pedem
uma solução para os moradores
de rua instalados sob o viaduto. A
aposentada Irene Costa, 68, acha
que o local é um reduto de mendigos. "O governo deveria se preocupar era em tirar eles de lá."
Colaborou RENATA BAPTISTA
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