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PATRULHA DO PEITO
Às vésperas de campanha, pediatras questionam radicais que querem aleitamento materno a todo custo
Pressão pela amamentação preocupa mães com problemas
ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA
Uma nova guerra, semelhante à
travada contra o cigarro, começa
no próximo mês no Brasil. Os inimigos agora são a mamadeira, o
leite em pó e a chupeta, considerados rivais do leite materno.
Em 30 mil cartazes e inserções
de merchandising social em novelas, a Sociedade Brasileira de
Pediatria (SBP) lança de 1º a 7 de
outubro a semana de aleitamento.
A campanha desta vez conta
com aliados fortes: desde agosto
de 2002, a Anvisa tornou obrigatório estampar em mamadeiras,
chupetas e latas de leite em pó advertências de que seu uso prejudica a amamentação, a exemplo dos
avisos de que o fumo faz mal à
saúde nos maços de cigarro.
As normas também restringem
a propaganda, além do uso nas
embalagens de imagens de crianças ou personagens com chupeta
ou tomando mamadeira.
Embora seja consenso entre os
médicos que o leite humano é
muito superior a qualquer equivalente artificial, o tom da empreitada "pró-peito" está longe da
unanimidade. Para o pediatra
Leonardo Posternak, vencedor do
Prêmio Jabuti com o livro "O Direito à Verdade - Cartas para uma
Criança" (ed. Globo), o coro pró-amamentação está passando um
pouco dos limites. "A diferença
do leite materno para qualquer
outro realmente é abismal. (...)
Mas fico preocupado com a insistência em colocar a parte psicológica como mais uma vantagem no
aleitamento. É melhor uma mamadeira dada com amor do que
um peito oferecido enquanto a
mãe assiste à novela das 8h", diz.
O presidente do Departamento
de Pediatria Ambulatorial da SBP,
Jayme Murahovschi, não considera as campanhas muito agressivas. "Guerra é guerra. Então não
se deve fazer campanha contra o
cigarro porque quem fuma vai se
sentir mal psicologicamente? Nas
camadas mais pobres, a amamentação pode ser a diferença entre a
vida e a morte."
A professora de literatura Márcia Azevedo, 32, diz que "há uma
patrulha, principalmente das mulheres". "A primeira coisa que elas
perguntam quando vão visitar na
maternidade é se o bebê está mamando bem. Eu mentia", conta
Márcia, que precisou dar leite em
pó como complemento para a filha Manuella, hoje com dois anos
e meio, depois que ela foi parar na
UTI com hipoglicemia.
"Ela não tinha sucção, dormia
enquanto estava mamando. Quase enlouqueci quando precisei dar
complemento", diz.
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