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São Paulo, domingo, 21 de setembro de 2003

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PATRULHA DO PEITO

Às vésperas de campanha, pediatras questionam radicais que querem aleitamento materno a todo custo

Pressão pela amamentação preocupa mães com problemas

ALESSANDRA KORMANN
DA REVISTA

Uma nova guerra, semelhante à travada contra o cigarro, começa no próximo mês no Brasil. Os inimigos agora são a mamadeira, o leite em pó e a chupeta, considerados rivais do leite materno.
Em 30 mil cartazes e inserções de merchandising social em novelas, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lança de 1º a 7 de outubro a semana de aleitamento.
A campanha desta vez conta com aliados fortes: desde agosto de 2002, a Anvisa tornou obrigatório estampar em mamadeiras, chupetas e latas de leite em pó advertências de que seu uso prejudica a amamentação, a exemplo dos avisos de que o fumo faz mal à saúde nos maços de cigarro.
As normas também restringem a propaganda, além do uso nas embalagens de imagens de crianças ou personagens com chupeta ou tomando mamadeira.
Embora seja consenso entre os médicos que o leite humano é muito superior a qualquer equivalente artificial, o tom da empreitada "pró-peito" está longe da unanimidade. Para o pediatra Leonardo Posternak, vencedor do Prêmio Jabuti com o livro "O Direito à Verdade - Cartas para uma Criança" (ed. Globo), o coro pró-amamentação está passando um pouco dos limites. "A diferença do leite materno para qualquer outro realmente é abismal. (...) Mas fico preocupado com a insistência em colocar a parte psicológica como mais uma vantagem no aleitamento. É melhor uma mamadeira dada com amor do que um peito oferecido enquanto a mãe assiste à novela das 8h", diz.
O presidente do Departamento de Pediatria Ambulatorial da SBP, Jayme Murahovschi, não considera as campanhas muito agressivas. "Guerra é guerra. Então não se deve fazer campanha contra o cigarro porque quem fuma vai se sentir mal psicologicamente? Nas camadas mais pobres, a amamentação pode ser a diferença entre a vida e a morte."
A professora de literatura Márcia Azevedo, 32, diz que "há uma patrulha, principalmente das mulheres". "A primeira coisa que elas perguntam quando vão visitar na maternidade é se o bebê está mamando bem. Eu mentia", conta Márcia, que precisou dar leite em pó como complemento para a filha Manuella, hoje com dois anos e meio, depois que ela foi parar na UTI com hipoglicemia.
"Ela não tinha sucção, dormia enquanto estava mamando. Quase enlouqueci quando precisei dar complemento", diz.



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