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Preso insinua ligação com morte de juiz
Na gravação, Julinho Carambola diz que a situação nos presídios melhorou após o assassinato de Machado Dias, em 2003
Vítima fiscalizava o presídio
de Presidente Bernardes,
considerado, à época, o mais
rígido do país; ninguém foi
condenado pelo crime
DA REPORTAGEM LOCAL
O preso Júlio César Guedes
de Moraes, o Julinho Carambola, deu a entender, na conversa
gravada por um agente penitenciário, que o PCC (Primeiro
Comando da Capital) ordenou
a morte do juiz Antonio José
Machado Dias, em março de
2003. E que o assassinato do
magistrado ajudou a abrandar
o tratamento dado aos presos.
Na conversa, transcrita em
um relatório confidencial da
Secretaria da Administração
Penitenciária de São Paulo, o
funcionário questiona o preso:
"Vocês mataram o dr. Machado, e não adiantou?", referindo-se às condições dadas aos chefes de facção.
"Melhorou, melhorou, melhorou. Até o dia em que eles
aprenderem que o preso deve
ser tratado como homem, tendo o direito dele mantido", respondeu Julinho Carambola,
que não negou o envolvimento
do PCC no crime.
O juiz-corregedor fiscalizava
o CRP (Centro de Readaptação
Penitenciária) de Presidente
Bernardes (589 km da capital
paulista), apontado, na época,
como o presídio mais rígido do
país. Julinho Carambola e o
preso Marco Willians Herbas
Camacho, o Marcola, apontado
como principal chefe da facção,
foram transferidos para o CRP
depois da onda de atentados.
Machado era conhecido como um juiz rigoroso. Com cela
individual, duas horas diárias
de banho de sol, sem acesso a
jornais, rádio ou televisão e
sem visita íntima, o CRP de
Bernardes é temido pelos líderes da facção criminosa.
O juiz foi vítima de uma emboscada quando deixava o fórum em Presidente Prudente
(565 km da capital) -cidade vizinha de Presidente Bernardes.
"A resposta de Julinho Carambola deixa claro que a cúpula do PCC está envolvida na
morte do juiz", afirmou o promotor Marcelo Milani.
Até agora, ninguém foi condenado pelo crime. Em agosto,
a Justiça adiou para fevereiro
do ano que vem o julgamento
de João Carlos Rangel Luisi,
acusado de ser um dos executores da ação.
A polícia paulista tentou
mostrar que a morte do juiz-corregedor foi ordenada pela
facção, mas não conseguiu provas da participação da cúpula
do PCC no assassinato.
PSDB
Na conversa transcrita no relatório da secretaria, Julinho
Carambola também afirma que
a onda de violência que estaria
por vir em protesto à transferência de presos para uma única penitenciária em Presidente
Venceslau poderia atingir comitês do PSDB.
No final de semana da primeira onda de atentados cometidos pela facção, deputados do
PSDB chegaram a receber escoltas policiais para cumprir
suas agendas públicas. A escolta foi dada depois de a polícia
interceptar ligações de criminosos ligados ao PCC.
Paulo Sérgio Batista, conhecido como Paulinho da Lanchonete, vereador tucano em
Mairinque (66 km de São Paulo), foi morto a tiros. Uma investigação policial aponta para
o envolvimento de membros da
facção criminosa.
Para Milani, no entanto, a
violência contra integrantes do
PSDB não foi maior porque os
"soldados" da facção criminosa
não compreenderam as ordens.
"É mais fácil entender que é para atacar delegacias e bases da
PM do que comitês políticos",
disse o promotor.
Na conversa gravada, Julinho Carambola também cita
nomes de diretores de presídios e coordenadores, os quais
ele chama de "cadáveres ambulantes". Mas nenhum deles sofreu atentado.
Entre os citados pelo preso,
estava Roberto Medina, diretor
de uma penitenciária em Araraquara (273 km de SP). No dia
8 de agosto, a Polícia Militar
matou um homem que, segundo investigação policial, estaria
na cidade para matar o diretor
do presídio.
(GILMAR PENTEADO)
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