São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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Empresário assumiu negócio aos 16 anos

DA SUCURSAL DO RIO

Filho de um pequeno comerciante português, Arthur Sendas fez de um modesto armazém de São João do Meriti, na Baixada Fluminense, a origem da rede de supermercados que durante anos liderou o varejo carioca -e que chegou a ser o maior grupo de capital exclusivamente nacional.
"O orgulho dele era se manter entre os maiores do varejo sendo 100% nacional", diz o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira.
Sendas começou a trabalhar em 1951, aos 16 anos, quando assumiu o armazém Transmontano após o pai sofrer um acidente de carro. Teve de vencer a resistência dos fornecedores diante de um comerciante tão jovem.
É considerado um pioneiro: fez parte de um grupo de comerciantes que introduziu, em fins da década de 60, o conceito de auto-serviço nos supermercados brasileiros -em que o próprio cliente recolhe os produtos nas gôndolas.
Nos anos 70, quando os supermercados começaram a despejar dinheiro em campanhas publicitárias e ações de marketing, ele apostou na intuição refinada na infância, atrás do balcão do armazém.
Investiu em idéias simples, como oferecer cafezinho e água gelada aos clientes -algo inédito até então. Criou ainda uma espécie de precursor do programa Primeiro Emprego: os "marrequinhos", meninos de 14 a 16 anos que auxiliavam clientes a carregar sacolas.
Nos últimos 20 anos, Sendas ocupou postos em conselhos de administração: Petrobras, BR Distribuidora, PUC-RJ. Foi presidente da Associação Comercial do Rio de Janeiro (1997-2001) e da Associação Brasileira dos Supermercados (1989-1990).
Na vida pessoal, viveu uma tragédia que deixou marcas profundas: o suicídio do filho João Antônio, em 2003. Desde então, segundo amigos, se tornou ainda mais religioso do que já era. Participava de missas na sede do grupo, que permaneceu sempre em São João do Meriti -para onde se deslocava antes das 7h.
Vascaíno militante, teve papel importante numa das reestruturações administrativas do clube, quando ocupou a vice-presidência (1979-1982). "O torcedor tem três estágios. Normal, doente e estado de coma. Eu fui até o terceiro", costumava dizer.
Em 2004, Sendas vendeu metade do controle da rede ao grupo Pão de Açúcar -cada parte ficou com 42,57%; o restante, com sócios minoritários. Nos últimos dois anos tentou fazer com que Abílio Diniz comprasse a sua parte, alegando alteração do controle acionário do Pão de Açúcar ao formar uma holding em 2005 com o grupo francês Casino. Após mediação de uma câmara de arbitragem da Fundação Getúlio Vargas, a proposta foi rejeitada.
O economista Carlos Lessa, ex-presidente do BNDES, ressalta um aspecto menos conhecido da biografia de Sendas, ocorrido em fins dos anos 70: "Foi um empresário que ajudou o MDB [Movimento Democrático Brasileiro, de oposição à ditadura militar], num momento inicial, em que pouquíssimos nos apoiavam. Chegou a doar recursos em circunstâncias que representavam grande risco para ele".
O filho mais velho, também chamado Arthur, deve assumir o comando dos negócios. Hoje, o grupo opera com quatro bandeiras: Pão de Açúcar, Sendas, Extra e ABC CompreBem. No primeiro semestre, as vendas totalizaram R$ 1,6 bilhão.


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