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É fácil falar da arquibancada, diz negociador
Para o capitão do Gate que liderou negociações com Lindemberg Alves no caso Eloá, não houve erro da polícia na ação
O policial Adriano Giovanini chorou após o fim da operação; desde 2006, ele perdeu duas reféns enquanto negociador do Gate
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Com a mesma voz mansa,
pausada, repetida inúmeras vezes em quase todos os telejornais do país nos últimos dias,
Adriano Giovanini, 37, diz: "Está aí a beleza do ser humano".
"É fácil falar quando se está na
arquibancada, mas quero ver ficar na mesma posição que nós,
nas cativas, no comando".
A beleza a que se refere Giovanini, capitão do Gate (Grupo
de Ações Táticas Especiais), é
hoje a forma de ele rebater,
com ironia sutil, questionamentos às tentativas frustradas
do grupamento especial da PM
para libertar as meninas Eloá
Cristina e Nayara do apartamento transformado em cativeiro por Lindemberg Alves
Fernandes, 22.
"É óbvio que têm pessoas que
enxergam de outra maneira,
vão tecer comentários, críticas
e isso faz parte. Mas acho importante que as críticas tenham
base. Não aceito críticas de pessoas que, com poucas informações sobre o caso, já rotulam.
Opinião todo mundo tem que
ter, mas é importante ter base
para falar", continua Giovanini.
De 2006 até sexta-feira, Giovanini "perdeu" duas reféns enquanto negociador do Gate.
Tem orgulho em dizer que o
grupamento especial resgatou,
nos últimos dez anos, 3.410 reféns. Neste ano, foram 18 casos
com reféns. Em dois deles, os
criminosos se suicidaram.
Eloá foi a segunda vítima fatal no seu período de comando
de negociação. Andréia Pereira
Santana, 31, foi morta em outubro de 2006, após ficar quase
30 horas refém numa oficina na
zona leste. Ela foi assassinada
pelo suposto amante, o comerciante Gilberto Gomes de Lima, 43, que se matou.
Depois de passar uma semana negociando com Alves, sem
tomar banho ou voltar para casa, Giovanini só viu as filhas e a
mulher sábado à tarde. Antes,
foi à sede do Gate e chorou. Até
aquele momento, Eloá estava
em estado grave, mas viva.
"Qual é a maior dor que uma
pessoa pode sentir? Pensa nessa resposta e você vai saber porque chorei", disse o capitão.
Giovanini só recebeu a notícia de que Eloá teve morte cerebral constatada às 23h30 de sábado já às 10h de domingo, depois de ter sido tirado da cama
às pressas e negociar outro caso
com refém. Ele estava em Itapecerica da Serra (Grande SP) e
ajudou a evitar que um homem
de 23 anos matasse a mulher.
Para Giovanini, não houve
erro na negociação com Lindemberg. Nem quando o Gate
permitiu que Nayara retornasse para falar com ele e foi pega
novamente (a polícia diz que o
acordo era para que ela fosse
apenas até a escada do prédio,
mas ela acabou entrando no
apartamento novamente). "Me
pergunto por que ela decidiu
entrar lá novamente. Não era
para isso acontecer".
Casado e pai de gêmeas de
cinco meses, Giovanini vê pouco a família. No domingo que
antecedeu o início do cárcere
privado em Santo André, ele
havia chegado de El Salvador,
onde ficou 45 dias em um curso
de gerenciamento policial. Isso
quando não dá cursos para policiais do Brasil. Ele é o coordenador do curso de bombas da
Força Nacional de Segurança.
Giovanini entrou na PM aos
15 anos, no colegial da Academia do Barro Branco, escola de
formação da PM paulista. Saiu
de lá em 1992, formado aspirante oficial. Em 1995, foi chamado para o Gate. Em 2006,
atingiu a patente de capitão.
Seu salário bruto hoje é de cerca de R$ 6.500 mensais.
Quando tira a farda, Giovanini lê "Transformando Suor em
Ouro", autobiografia de Bernardo Rocha de Rezende, o
Bernardinho, técnico da seleção de vôlei. "Ele é referência
de vibração." Gosta de filmes
policiais, claro, e de ficção científica. "O Senhor dos Anéis" está no topo da preferência, ao lado dos super-heróis da Marvel
Comics. "Meus gibis estão todos organizados lá em casa".
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