São Paulo, terça-feira, 21 de outubro de 2008

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É fácil falar da arquibancada, diz negociador

Para o capitão do Gate que liderou negociações com Lindemberg Alves no caso Eloá, não houve erro da polícia na ação

O policial Adriano Giovanini chorou após o fim da operação; desde 2006, ele perdeu duas reféns enquanto negociador do Gate

ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a mesma voz mansa, pausada, repetida inúmeras vezes em quase todos os telejornais do país nos últimos dias, Adriano Giovanini, 37, diz: "Está aí a beleza do ser humano". "É fácil falar quando se está na arquibancada, mas quero ver ficar na mesma posição que nós, nas cativas, no comando".
A beleza a que se refere Giovanini, capitão do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), é hoje a forma de ele rebater, com ironia sutil, questionamentos às tentativas frustradas do grupamento especial da PM para libertar as meninas Eloá Cristina e Nayara do apartamento transformado em cativeiro por Lindemberg Alves Fernandes, 22.
"É óbvio que têm pessoas que enxergam de outra maneira, vão tecer comentários, críticas e isso faz parte. Mas acho importante que as críticas tenham base. Não aceito críticas de pessoas que, com poucas informações sobre o caso, já rotulam. Opinião todo mundo tem que ter, mas é importante ter base para falar", continua Giovanini.
De 2006 até sexta-feira, Giovanini "perdeu" duas reféns enquanto negociador do Gate. Tem orgulho em dizer que o grupamento especial resgatou, nos últimos dez anos, 3.410 reféns. Neste ano, foram 18 casos com reféns. Em dois deles, os criminosos se suicidaram.
Eloá foi a segunda vítima fatal no seu período de comando de negociação. Andréia Pereira Santana, 31, foi morta em outubro de 2006, após ficar quase 30 horas refém numa oficina na zona leste. Ela foi assassinada pelo suposto amante, o comerciante Gilberto Gomes de Lima, 43, que se matou.
Depois de passar uma semana negociando com Alves, sem tomar banho ou voltar para casa, Giovanini só viu as filhas e a mulher sábado à tarde. Antes, foi à sede do Gate e chorou. Até aquele momento, Eloá estava em estado grave, mas viva.
"Qual é a maior dor que uma pessoa pode sentir? Pensa nessa resposta e você vai saber porque chorei", disse o capitão.
Giovanini só recebeu a notícia de que Eloá teve morte cerebral constatada às 23h30 de sábado já às 10h de domingo, depois de ter sido tirado da cama às pressas e negociar outro caso com refém. Ele estava em Itapecerica da Serra (Grande SP) e ajudou a evitar que um homem de 23 anos matasse a mulher.
Para Giovanini, não houve erro na negociação com Lindemberg. Nem quando o Gate permitiu que Nayara retornasse para falar com ele e foi pega novamente (a polícia diz que o acordo era para que ela fosse apenas até a escada do prédio, mas ela acabou entrando no apartamento novamente). "Me pergunto por que ela decidiu entrar lá novamente. Não era para isso acontecer".
Casado e pai de gêmeas de cinco meses, Giovanini vê pouco a família. No domingo que antecedeu o início do cárcere privado em Santo André, ele havia chegado de El Salvador, onde ficou 45 dias em um curso de gerenciamento policial. Isso quando não dá cursos para policiais do Brasil. Ele é o coordenador do curso de bombas da Força Nacional de Segurança.
Giovanini entrou na PM aos 15 anos, no colegial da Academia do Barro Branco, escola de formação da PM paulista. Saiu de lá em 1992, formado aspirante oficial. Em 1995, foi chamado para o Gate. Em 2006, atingiu a patente de capitão. Seu salário bruto hoje é de cerca de R$ 6.500 mensais.
Quando tira a farda, Giovanini lê "Transformando Suor em Ouro", autobiografia de Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, técnico da seleção de vôlei. "Ele é referência de vibração." Gosta de filmes policiais, claro, e de ficção científica. "O Senhor dos Anéis" está no topo da preferência, ao lado dos super-heróis da Marvel Comics. "Meus gibis estão todos organizados lá em casa".


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