|
Próximo Texto | Índice
Polícia inventou versões sobre prisão de Igor
Em um 1º boletim de ocorrência, ex-promotor se entregou; no 2º, foi preso na casa da família; já para secretaria, foi detido na rua após denúncia
Delegado disse que os BOs estão errados e que ele foi preso após ligação anônima; família garante que ex-promotor se entregou
João Clara/"Diário de S. Paulo"
|
|
Igor Ferreira da Silva, que ficou 8 anos foragido, ao deixar o 40º DP rumo ao presídio de Tremembé
ANDRÉ CARAMANTE
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A Polícia Civil de São Paulo
produziu três versões totalmente distintas para tentar explicar como o ex-promotor Igor
Ferreira da Silva, 42, foi encontrado na tarde de anteontem
após mais de oito anos foragido.
Na primeira delas, Igor "se
apresentou espontaneamente"
no 31º Distrito Policial, na Vila
Carrão (zona leste de SP), conforme o boletim de ocorrência
nº 3449. Na segunda, ele foi
"preso na casa de familiares",
segundo o boletim nº 3451, registrado na mesma delegacia.
A terceira versão para o encontro do ex-promotor, condenado a 16 anos pela morte da
mulher Patrícia Longo, grávida
de oito meses, foi apresentada
em uma nota da assessoria de
imprensa da Secretaria da Segurança Pública e também durante uma coletiva à imprensa.
Por essa versão, a delegada
Adanzil Limonta recebeu denúncia anônima e foi à rua
Dentista Barreto, perto do 31º
DP, e lá encontrou Igor parado.
Em nenhum dos dois BOs
consta o nome dessa rua. A ligação, segundo apurou a Folha,
foi para o celular da policial.
O informe da Segurança Pública também afirmou que a
"investigação imediata" só
aconteceu por causa do novo
sistema de atendimento em
parte das delegacias da capital.
Por esse sistema, que tem recebido críticas, várias delegacias
restringiram o atendimento ao
público em situações consideradas mais graves.
A família do ex-promotor
afirma que ele se entregou à
polícia, depois de ter combinado sua apresentação com a delegada Adanzil, amiga de parentes de Igor. O próprio ex-promotor, anteontem, disse a
jornalistas que tinha se apresentado espontaneamente.
Questionado pela Folha, o
delegado Nelson Silveira Guimarães, chefe da Polícia Civil
em parte da zona leste, disse
que os dois BOs estão errados.
Segundo ele, a versão correta
é a divulgada pela nota da Secretaria da Segurança, de que
ele foi preso após uma denúncia anônima. E afirma: o ex-promotor não se entregou.
A prisão do ex-promotor era
considerada o mais cobiçado
"troféu" das autoridades da Segurança Pública.
Os dois boletins de ocorrência constam como escritos pela
delegada Adanzil e pelo escrivão Joarez Dias Lima.
Segundo o delegado Guimarães, a delegacia Adanzil só redigiu o primeiro boletim -ele
disse não saber por que ela cometeu o erro. Já o segundo, diz
Guimarães, foi ditado por uma
outra pessoa que ele "não pode
identificar publicamente".
Segundo o pai de Igor, o advogado Henrique Ferreira da
Silva Filho, o promotor foi levado em um carro da família
até a rua Dentista Barreto e ligou para o celular da delegada
pedindo que ela fosse ao seu
encontro em um carro particular -o que foi atendido por ela.
A decisão de Igor de se entregar à polícia, ainda segundo seu
pai, foi tomada por ele há cerca
de um mês, quando pessoas
que se disseram policiais invadiram a casa da família à procura dele. Nessa invasão, móveis
foram quebrados. Por isso, ele
decidiu procurar a delegada.
O secretário da Segurança
Pública da gestão de José Serra
(PSDB), Antonio Ferreira Pinto, foi procurado ontem, mas
não se manifestou sobre o caso.
A Folha também pediu para
entrevistar a delegada Adanzil,
mas não obteve resposta.
Próximo Texto: Ex-promotor pode ir em 2012 para semiaberto Índice
|