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Jobim investigará cancelamento de vôos
Objetivo é apurar se não há estratégia das empresas para impedir entrada de concorrentes no setor
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Defesa irá investigar se as empresas aéreas
estão utilizando o cancelamento de vôos de forma estratégica
para guardar "na gaveta" as
concessões de horário de transporte aéreo e impedir a entrada
de outras empresas e a livre
concorrência no setor.
A suspeita foi levantada pela
SAC (Secretaria de Aviação Civil) e fortalece a meta declarada
do ministro Nelson Jobim (Defesa) de retirar o poder de concessão da Anac (Agência Nacional de Aviação Civil).
"Temos um problema que é o
número de cancelamentos de
vôo. Temos suspeita, por parte
da SAC, de que os hotrans [horários de transporte] são concedidos para que não se realizem, impedindo a concorrência", disse Jobim ontem.
Questionado sobre a possibilidade de cancelamento de concessões, Jobim respondeu:
"Vamos deixar bem claro que
empresas aéreas não são concessionárias. O sistema de
transporte aéreo não é uma
concessão, não há licitação, é
uma permissão."
Após as acusações de "conluio" da Anac com as empresas aéreas, Jobim articulou para que a CPI do Apagão Aéreo
da Câmara, já encerrada, apresentasse um projeto de lei para
retirar poderes da agência.
Caso fique comprovado que
as empresas praticam o chamada "gaveta", será mais um golpe
na reorganização da Anac. Jobim pretende indicar Solange
Vieira, hoje na SAC, para a presidência da agência.
Segundo a Folha apurou, as
empresas já foram advertidas.
Na prática, elas estariam realizando alguns vôos dentro da
regularidade mínima prevista
para evitar a perda da concessão. No restante do tempo, cancelam o vôo e acomodam os
passageiros em outro horário.
Nos períodos agudos da crise
aérea, já existia a suspeita de
"fusão" de vôos, quando a empresa, em tese, faz um cancelamento para encher o próximo
vôo e aumentar a lucratividade.
Mas a médio e longo prazo
isso cria uma reserva de mercado porque novos hotrans só são
concedidos com parecer da Aeronáutica (controle de espaço
aéreo) e Infraero (espaço nos
aeroportos). Hoje não há disponibilidade em trechos movimentados em horários-pico.
Desde que assumiu, Jobim
faz críticas às empresas. Ele já
criticou o espaço entre as poltronas dentro das aeronaves,
disse que iria reduzir o número
de vôos em Congonhas e reclamou da falta de fiscalização.
Até agora, porém, poucas medidas surtiram efeito.
O Snea (sindicato das empresas aéreas) não quis comentar
ontem a investigação de Jobim.
Segundo a Anac, a empresa
pode perder a concessão de
uma linha nacional se não realizar o vôo em um período de
30 dias. No caso de vôos internacionais, o prazo é seis meses.
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