São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

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Sem Parar emperra vida de motoristas

Queixas de usuários vão de cancelas que não abrem até carros barrados como se não tivessem etiqueta eletrônica

Pagamento de pedágio por sistema automático já é majoritário nas rodovias estaduais paulistas sob concessão

Apu Gomes/Folhapress
Funcionário da concessionária da Castello Branco libera cancela do Sem Parar que não abriu, no km 20, em Barueri

ALENCAR IZIDORO
DE SÃO PAULO

Na mesma hora em que seu filho nascia em Jundiaí, José Augusto dos Santos, 29, era taxado como se estivesse passando por um pedágio em Campinas, 39 km distante, também no interior de SP.
"Meu carro estava no estacionamento do hospital", queixa-se ele, que havia aderido à cobrança eletrônica do serviço Sem Parar/Via Fácil.
Cliente do mesmo sistema, que instala um tag (etiqueta eletrônica) no para-brisa para não parar na cabine do pedágio e debitar a tarifa depois na conta, Sérgio de Oliveira, 53, passou com naturalidade por uma cancela aberta na rodovia Castello Branco.
Semanas depois recebeu uma multa por evasão de pedágio -R$ 127 e cinco pontos na CNH. "O pato sou eu que devo pagar por um negócio que não funcionou", afirma.
Histórias do tipo sobre um serviço criado para agilizar a passagem dos veículos nos pedágios não são mais esporádicas -e já começam a ganhar espaço em entidades de defesa do consumidor.
Entre 2005 e 2008, uma única queixa foi formalizada no Procon-SP contra os serviços do pedágio automático.
Em 2009, foram 17 (no setor de serviços, faltaram 8 para entrar na lista das 20 empresas com mais reclamações fundamentadas).
Ainda não há dados fechados sobre o assunto neste ano, mas os clientes que fizeram consulta ao órgão já somavam 95 até outubro.
Uma das principais justificativas da empresa responsável pelo Sem Parar é a expansão de seus usuários.
Os pagamentos de pedágio pelo sistema automático se tornaram em 2010 majoritários nas rodovias estaduais paulistas sob concessão privada há mais de dez anos.
Em 2005, 32% dos veículos não paravam nas cabines devido à cobrança automática. Atualmente eles já são 51%.
Tem motorista cobrado por lugar onde nunca esteve, carro taxado como caminhão, veículo barrado como se não fosse do Sem Parar e a queixa mais constante: as cancelas que não abrem, provocando freadas e acidentes.
"Passei o fim de semana "Sem Parar parando". Tive de trocar quatro vezes de tag", diz o dentista Cláudio Rodrigues, que só após uma peregrinação soube que no seu Citroën C4 Picasso a instalação era diferenciada.
Os motivos dos transtornos são diversos -vão de falhas técnicas dos aparelhos e cadastro indevido de tags até a imprudência de condutores com excesso de velocidade.

MORTE
Em 2009, houve até a morte de um condutor no km 36 da rodovia dos Bandeirantes, após uma carreta reduzir a velocidade porque a cancela do Sem Parar não abriu.
Há três anos, só no sistema Anchieta-Imigrantes havia dois acidentes por dia nas cancelas do Sem Parar -a empresa os classifica como "incidentes", alegando que essas colisões eram sem danos físicos ou materiais.


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