São Paulo, domingo, 21 de novembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Pinga e analgésico formam uísque falso

Polícia Federal identificou substâncias em bebidas adulteradas apreendidas no país; uísque é a mais falsificada

Analgésicos entram para evitar dor de cabeça; já na cocaína foram encontrados açúcar e gesso em pó

FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Açúcar queimado, vodca barata ou pinga e uma pitada do original. Para não perder a clientela, vale até analgésico contra a dor de cabeça.
Com maior ou menor sofisticação, essa é a receita básica do uísque que o mercado clandestino criou para abastecer casas noturnas, bares e restaurantes das metrópoles.
Num laboratório equipado para analisar bebidas e remédios apreendidos, peritos da Polícia Federal descobriram as principais formas utilizadas na adulteração dos produtos. Também encontraram substâncias adicionadas à cocaína consumida no país.
Com o uísque é assim: um pouco da bebida legítima fica para deixar o gosto. Vodca, pinga ou até álcool de cozinha, usados em maior quantidade, dão o grau etílico.
O mesmo modus operandi é utilizado em outros tipos de bebida, como o conhaque e o rum. "Mas o maior alvo é o uísque", diz Adriano Maldaner, perito criminal responsável pelo laboratório da PF.
Os testes da PF são realizados em espectrômetro de massas, aparelho que separa cada substância da bebida e descobre a "impressão digital" do produto adulterado.
Não existem estatísticas oficiais sobre apreensões de bebidas falsificadas no Brasil, mas, pela simplicidade da fórmula, os peritos avaliam que sua presença seja disseminada no mercado.
Com medicamentos é um pouco diferente. A falsificação, que necessita ser feita em laboratório minimamente equipado, ocorre principalmente com dois produtos: o Viagra e anabolizantes.
Em ambos os casos, a perícia identificou lotes com as chamadas "pílulas de farinha" ou com as substâncias da fórmula original, mas em proporções alteradas.
Na análise de amostras de cocaína, a PF descobriu que a droga mesmo não passa de 60% da trouxinha vendida nas ruas. O resto é mistura, como açúcar ou gesso em pó.
Os testes mostram que, de tão misturada, até o crack consumido no Brasil é mais puro que a cocaína em pó.

REGRAS ETÍLICAS
Em instrução publicada nesta semana, o Ministério da Agricultura regulamentou "padrões de identidade e qualidade para bebidas alcoólicas por mistura".
O governo proibiu adição de mel às caipirinhas prontas e definiu que licor à base de ovo não pode ter menos que 140 gramas de gema por litro.
A caipirinha, a "bebida típica do Brasil", tem "graduação alcoólica de 15% a 36% em volume, a 20º Celsius, elaborada com cachaça, limão e açúcar". As regras são importantes para a identificação de produtos falsos.


Texto Anterior: Olavo Rodrigues Barbosa (1923-2010): Nena, zagueiro reserva na Copa do Mundo de 1950
Próximo Texto: Bebida deve seguir padrão de qualidade
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.