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São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2003

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VERÃO

Enquanto locais populares são limpos, os pouco frequentados ficam sujos; resíduos prejudicam animais

Lixo invade praias no litoral norte de SP

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DAS REGIONAIS, EM UBATUBA

Após horas de caminhada, trilhas e mato fechado em busca das praias isoladas, achar montes de lixo é tão comum no litoral norte de São Paulo que a imagem paradisíaca do local é derrubada.
A Folha percorreu seis praias de Ubatuba (224 km de SP) e ouviu turistas e pessoas que atuam no ecoturismo, além de ONGs e especialistas. Não há controvérsias: enquanto as praias mais conhecidas são limpas pelo poder público, moradores e comerciantes, as isoladas permanecem sujas.
Lançado por barcos ou carregado da própria costa, o lixo chega e fica lá. Em uma das praias, a partir da Enseada (a 5 km do centro de Ubatuba), a água limpa contrasta com a areia tomada por plástico, vidro e latas. Em alguns pontos, não há nem onde sentar.
O mesmo ocorre nas praias Brava e Sete Fontes, no Parque Estadual da Serra do Mar. A situação é semelhante nas praias de Puruba, da Fazenda e Ubatumirim.
Não há dados sobre o lixo no mar nas prefeituras nem nos órgãos do Estado e da União, mas é comum se deparar com objetos amontoados na areia. ""A Ponta Aguda [em Ubatuba] estava puro lixo. Foi um choque, fiquei decepcionada", diz a médica Maria de Lourdes Mendes Rodstein, 52.
""Acaba estragando os passeios", diz Marcelo Martino, 26, dono de uma empresa de São Paulo especializada em trekking em praias isoladas.
A Folha procurou o Ministério do Meio Ambiente durante um mês para saber das ações contra o lixo no mar, mas não obteve resposta. Isso porque, segundo especialistas, trata-se de um problema nacional, de difícil solução só com ações locais, em razão do fácil deslocamento do lixo nos mares.
Para o secretário de Turismo de Ubatuba, Sérgio Carvalho, há um descompasso entre o boom do ecoturismo e a realidade que o visitante encontra. ""As comunidades [moradores e poder locais] não estão preparadas", diz.
No Dia Mundial de Limpeza de Praias, em setembro, foram recolhidas 11 toneladas de lixo em 102 praias de 16 cidades paulistas.
Segundo a oceanógrafa ligada à ONG Instituto Terra e Mar, Shirley Pacheco de Souza, 40, no Brasil não existe fiscalização do despejo de lixo no mar.
Além do impacto visual, o lixo no mar é agressivo à fauna marinha. ""O plástico ingerido provoca a morte lenta e agônica de golfinhos e tartarugas. Na areia, o lixo afeta o modo de vida das algas e dos animais, incluindo aves e peixes", afirma Valéria Flora Hadel, 47, docente do Cebimar (Centro de Biologia Marinha), base da USP (Universidade de São Paulo) em São Sebastião.
Segundo a gerente de águas litorâneas da Cetesb (agência ambiental paulista), Claudia Lamparelli, o litoral norte paga o preço por estar entre Rio e São Paulo, as duas maiores metrópoles do país.



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