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URBANIDADE
Escola do rio
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
João Nojiri é daqueles
exemplos da prioridade dos
japoneses pela educação. Seu
pai, Quimio, vendia frutas e verduras na Ceagesp, mas conseguiu mantê-lo no colégio Santa
Cruz, freqüentado pela elite
paulistana. "Sempre nos foi dito
que o estudo era a coisa mais importante na vida", conta João,
hoje com 38 anos. Ele se formou
na Poli, especializou-se em explosões e montou sua própria
empresa de engenharia. Está
agora se preparando para criar
uma escola num dos cenários
mais improváveis da cidade -o
rio Tietê, um esgoto a céu aberto.
A bordo de um barco, as primeiras experiências o estimulam
a ir em frente. Ele vem convidando professores para um passeio.
"Todos saem das aulas impressionados, nunca imaginavam
que navegariam ali." A escola,
na verdade, é uma conseqüência
não planejada de um negócio
sem nenhuma relação com a
educação.
Sua empresa de engenharia foi
chamada para participar das
obras do Tietê, mas o serviço terminou; a inauguração deve
ocorrer em janeiro próximo, mês
do aniversário de São Paulo.
"Não queria ir embora do rio."
Trouxe para lá um barco, com
capacidade para 200 passageiros, e montou com seu sócio, Andrelino Novazzi, um projeto para dar aulas para crianças e adolescentes sobre a importância
daquele rio e, a partir daí, estabelecer o cruzamento com as
mais diversas matérias como
história, geografia ou química.
"Não é possível entender a história de São Paulo, nem a do Brasil, sem estudar o Tietê."
O barco, por enquanto, está
servindo para um propósito ainda mais inusitado do que o escolar. O grupo Teatro da Vertigem
faz dele espaço de encenação da
peça "BR-3", ainda em fase de
ensaio, que, além do barco, onde
fica a platéia, usa as margens do
rio; os cenários são instalados
debaixo dos viadutos, percorridos, à noite, a pé ou de barco pelos atores. João quer mais do que
eventos episódicos e planeja até
erguer, nas margens do rio, um
centro educativo e cultural.
O centro cultural faz parte de
uma aposta de João sobre o futuro daquela paisagem desprezada, onde, no passado, se disputavam torneios de natação. A
aposta é que o Tietê será usado
como meio de transporte regular
para driblar o congestionamento das marginais. O que, por enquanto, ainda soa mais como
um insólito roteiro teatral do
que realidade. "É um desperdício não usarem o Tietê."
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