São Paulo, sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

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Ladrões invadem o Masp e levam obras de Picasso e de Portinari

Crime demorou três minutos; bando usou pé-de-cabra e macaco hidráulico para invadir o museu mais importante da América Latina

É a primeira vez em seus 60 anos que o Masp tem alguma obra furtada; não há previsão de quando o museu será reaberto

Danilo Verpa/Folha Imagem
O vão que foi aberto pelos ladrões com a ajuda de um macaco hidráulico e de um pé-de-cabra; o furto demorou cerca de três minutos no total, e os seguranças do Masp não perceberam nada

AFRA BALAZINA
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a ajuda de um macaco hidráulico e de um pé-de-cabra, ladrões levaram dois quadros, dos pintores Pablo Picasso e Candido Portinari, do Masp (Museu de Arte de São Paulo), o museu mais importante da América Latina. O crime demorou cerca de três minutos -os seguranças do museu nada perceberam.
Foram furtadas as telas "O Lavrador de Café" (da década de 30, óleo sobre tela, 100 x 81 cm), do pintor brasileiro Portinari (1903-1962), e o "Retrato de Suzanne Bloch" (1904, óleo sobre tela, 65 x 54 cm), do artista espanhol Picasso (1881-1973).
O museu, cujo acervo é avaliado em mais de US$ 1 bilhão e inclui obras de Claude Monet e Vincent Van Gogh, não possui alarme nem sensores em suas obras. A segurança era feita por quatro vigias desarmados.
Esse foi o maior roubo de arte na história do país em razão da importância das obras e de seu valor de mercado.
Não há um consenso sobre o valor das obras furtadas. Para a Sotheby's no Brasil, a maior casa de leilões do mundo, a obra de Picasso está avaliada em US$ 25 milhões (mais de R$ 45 milhões) e a de Portinari, em US$ 2 milhões (pouco mais de R$ 3,6 milhões). Já Jones Bergamin, da Bolsa de Artes do Rio, afirma que o Portinari está avaliado em US$ 5,5 milhões (R$ 10 milhões) e o Picasso, em US$ 50 milhões (R$ 90 milhões).
O Masp informou que é a primeira vez, nos 60 anos de fundação, que teve uma obra furtada. Não há previsão de quando ele será reaberto ao público.
A ação, filmada pelo sistema de segurança do museu, durou das 5h09 às 5h12- justamente durante a troca de turno dos vigias. O problema é que o sistema não tem infravermelho -as imagens não são nítidas.
Os quatro seguranças estavam no subsolo do vão livre do Masp - os quadros foram levados do segundo andar e estavam distantes um do outro.
O macaco hidráulico foi usado para arrombar uma porta de aço na avenida Paulista e o pé-de-cabra, para quebrar uma porta de vidro que deu acesso às obras furtadas.
Segundo o delegado Marcos Gomes de Moura, do 78º DP (Jardins), "foi um serviço de profissional, não é coisa de bandido pé-de-chinelo". Ele diz que investiga se funcionários do Masp estão envolvidos no crime. Três dos vigias disseram não ter visto ou ouvido nada.
O delegado acredita que os ladrões são os mesmos que tentaram, há 45 dias, roubar o museu. Na época, um grupo invadiu o prédio, rendeu dois seguranças e não conseguiu entrar no acervo do museu.
"Dessa vez, eles utilizaram outro método. Há fortes indícios de ter participação desse mesmo grupo", diz o delegado.
As imagens mostram três homens entrando no prédio. Mas como foi achado um fone de ouvido do lado de fora do museu, a polícia acredita que possa haver mais envolvidos. "Provavelmente, tinha gente de fora passando informação para eles."
O crime, diz ele, foi encomendado. "É encomenda para alguém que é apreciador de arte, que tem dinheiro, mas não tem como comprar uma coisa que pertence a um museu."
A direção do Masp não quis dar entrevistas. Por meio de nota, afirma que "ao longo dos seus 60 anos de atividades ininterruptas (...) nunca sofreu uma ocorrência desta natureza, razão pela qual foi instaurada uma sindicância interna".
O texto diz ainda que, como as obras estavam "em salas separadas e distantes", eram alvos específicos da ação. "Ações semelhantes, infelizmente, têm ocorrido não só em grandes museus do mundo como também nos brasileiros, razão pela qual o Masp está acionando, além de nossa polícia local, a Interpol, a Polícia Federal e o Itamaraty para as providências devidas", diz a nota.


Colaborou MARIO CESAR CARVALHO, da Reportagem Local


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