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Rota litorânea, BR-101 leva motorista do inferno ao céu
Estrada tem de crateras capazes de engolir um carro a trecho que parece um tapete
Segunda maior rota rodoviária do país, trajeto corta 12 Estados e é predominante para quem vai às praias do RN ao RS
Fernando Donasci/Folha Imagem
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Ônibus desvia de buraco e trafega na contramão em trecho da BR-101 no Rio Grande do Sul, onde era conhecida como "Estrada do Inferno"
ALENCAR IZIDORO
FERNANDO DONASCI
ENVIADOS ESPECIAIS À BR-101
No principal caminho do litoral brasileiro, os motoristas
devem se preparar neste verão
para contrastes e surpresas: há
crateras de estourar pneus ou
até para engolir um carro na rica região Sul; mas também
existem pistas recém-reformadas que viraram um tapete em
redutos pobres do Nordeste.
A Folha percorreu durante
11 dias, de ponta a ponta, a BR-101, segunda maior rota rodoviária do país, trajeto predominante de quem vai às praias do
Rio Grande do Norte ao Rio
Grande do Sul, passando por
destinos badalados (como Florianópolis, Recife, São Paulo e
Rio) e outros quase intocados e
desconhecidos pelo turismo.
Após 6.500 km (mais de dois
terços na própria BR-101), cem
horas ao volante e um só pneu
furado (por prego, em SE), a reportagem verificou que 20% do
percurso pela rodovia, chamada de translitorânea, estava em
más condições às vésperas das
férias escolares -de buracos e
ondulações na pista à falta de
placas e de sinalização no asfalto em curvas perigosas.
A boa notícia é que a viagem
em dez dos 12 Estados atravessados pela rota, desde que à luz
do dia, já não é a aventura do
começo da década, quando
crianças se amontoavam para
tapar buracos por gorjetas na
Bahia e as borracharias que lucravam com pneus estourados
eram constantes inclusive às
margens das praias paulistas.
O fato de mais de 80% da estrada ser em pista simples, e
não dupla, ainda dificulta as ultrapassagens e agrava os riscos
de acidentes. Mas há trechos
bons da BR-101, como em parte
do litoral de SP, SC e AL.
Zigue-zague
São somente dois os pontos
da BR-101 em condições realmente péssimas: no extremo
sul do RS e em Pernambuco,
próximo da divisa com Alagoas.
Nesses lugares, motoristas
andavam em zigue-zague e invadiam a contramão para escapar de buracos de até três metros de largura do final de novembro ao começo deste mês,
quando a Folha fez a vistoria.
Na região de Xexéu (PE),
uma placa oficial na beira da
estrada chega a alertar "Atenção: buracos na pista". Para
piorar, além de estar enferrujada, essa sinalização fica escondida pelo matagal.
Os problemas fazem justiça a
apelido antigo da BR-101 num
pedaço do litoral gaúcho: "Estrada do Inferno". A expressão
ganhou popularidade para designar trechos de areia, que
deixavam veículos atolados.
Foram pavimentados nos últimos anos, e a estrada virou rota
alternativa para escapar de pedágios. Mas regiões com asfalto
antigo se deterioraram -e viram piscinas com a chuva.
Na outra ponta, caminho para praias paradisíacas do litoral
norte do RN, a pista é simples,
mas tem asfalto novo e pintura
que brilha, fazendo da viagem
um passeio digno de uma das
rotas mais belas do Brasil.
"Uma maravilha", brinca Zumira Cabral, 58, que vende bebidas em Touros (RN). Está no
céu? "No paraíso", responde.
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