São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Rota litorânea, BR-101 leva motorista do inferno ao céu

Estrada tem de crateras capazes de engolir um carro a trecho que parece um tapete

Segunda maior rota rodoviária do país, trajeto corta 12 Estados e é predominante para quem vai às praias do RN ao RS

Fernando Donasci/Folha Imagem
Ônibus desvia de buraco e trafega na contramão em trecho da BR-101 no Rio Grande do Sul, onde era conhecida como "Estrada do Inferno"

ALENCAR IZIDORO
FERNANDO DONASCI
ENVIADOS ESPECIAIS À BR-101

No principal caminho do litoral brasileiro, os motoristas devem se preparar neste verão para contrastes e surpresas: há crateras de estourar pneus ou até para engolir um carro na rica região Sul; mas também existem pistas recém-reformadas que viraram um tapete em redutos pobres do Nordeste.
A Folha percorreu durante 11 dias, de ponta a ponta, a BR-101, segunda maior rota rodoviária do país, trajeto predominante de quem vai às praias do Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, passando por destinos badalados (como Florianópolis, Recife, São Paulo e Rio) e outros quase intocados e desconhecidos pelo turismo.
Após 6.500 km (mais de dois terços na própria BR-101), cem horas ao volante e um só pneu furado (por prego, em SE), a reportagem verificou que 20% do percurso pela rodovia, chamada de translitorânea, estava em más condições às vésperas das férias escolares -de buracos e ondulações na pista à falta de placas e de sinalização no asfalto em curvas perigosas.
A boa notícia é que a viagem em dez dos 12 Estados atravessados pela rota, desde que à luz do dia, já não é a aventura do começo da década, quando crianças se amontoavam para tapar buracos por gorjetas na Bahia e as borracharias que lucravam com pneus estourados eram constantes inclusive às margens das praias paulistas.
O fato de mais de 80% da estrada ser em pista simples, e não dupla, ainda dificulta as ultrapassagens e agrava os riscos de acidentes. Mas há trechos bons da BR-101, como em parte do litoral de SP, SC e AL.

Zigue-zague
São somente dois os pontos da BR-101 em condições realmente péssimas: no extremo sul do RS e em Pernambuco, próximo da divisa com Alagoas.
Nesses lugares, motoristas andavam em zigue-zague e invadiam a contramão para escapar de buracos de até três metros de largura do final de novembro ao começo deste mês, quando a Folha fez a vistoria.
Na região de Xexéu (PE), uma placa oficial na beira da estrada chega a alertar "Atenção: buracos na pista". Para piorar, além de estar enferrujada, essa sinalização fica escondida pelo matagal.
Os problemas fazem justiça a apelido antigo da BR-101 num pedaço do litoral gaúcho: "Estrada do Inferno". A expressão ganhou popularidade para designar trechos de areia, que deixavam veículos atolados. Foram pavimentados nos últimos anos, e a estrada virou rota alternativa para escapar de pedágios. Mas regiões com asfalto antigo se deterioraram -e viram piscinas com a chuva.
Na outra ponta, caminho para praias paradisíacas do litoral norte do RN, a pista é simples, mas tem asfalto novo e pintura que brilha, fazendo da viagem um passeio digno de uma das rotas mais belas do Brasil. "Uma maravilha", brinca Zumira Cabral, 58, que vende bebidas em Touros (RN). Está no céu? "No paraíso", responde.


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